PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+) SACERDOTE REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR |
Temos refletido sobre a Ressurreição e nossa vida. É uma temática um pouco complicada porque nós, no que ser refere à Semana Santa, nos fixamos na Paixão. Até na participação do povo, a Ressurreição fica de lado, quando ela é o centro da vida cristã, da piedade e da liturgia. Qual é o por que desse fato? Antes do ano mil, salientava-se muito mais a Ressurreição. Quando a liturgia perdeu a força e passou-se para a piedade, o sofrimento de Cristo e de Maria tiveram mais importância. Como Jesus sofredor está mais próximo de nossa realidade, é mais explicável, a Páscoa ficou relegada. Imaginemos que a Vigília Pascal era feita de manhã. Só em 1955 é que o Papa Pio XII restaurou a Semana Santa, dando mais valor à Vigília. A teologia do Mistério Pascal ainda não superou a teologia da Semana das Dores. Para compreender melhor nossa relação com a Ressurreição de Jesus, temos que partir do fundamento de todo seu Mistério Pascal que compreende toda sua vida e, de modo particular, Paixão, Morte e Ressurreição. Este fundamento é o amor. O que leva Jesus a morrer não é a dor, mas o amor. Sua entrega total ao Pai, pelo mundo, em sua morte é fruto do amor. A espiritualidade a partir do amor explica como viver a Ressurreição. O amor de Cristo é serviço. Na Última Ceia Jesus mostrou o sentido de sua morte, lavando os pés dos discípulos. Sua morte é um serviço à humanidade. O discípulo deve servir para se unir ao Mestre: “Se, eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,14-15). “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo, 13,35).
Amor, causa da Ressurreição
Para amar é preciso morrer a si, para viver para o outro. São João diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”... “Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3, 13-14). “Deus amou tanto mundo que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16). Nestes pensamentos encontramos a causa da Ressurreição: o amor. O amor leva a passar da morte para a vida. Jesus fez esse caminho. E todo ato de amor serviço é um sair de si, morrer para si pelo outro, e com isso ressuscitar para Deus. É por isso que Jesus coloca como seu mandamento o amor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). O amor é a morte e a ressurreição. Realiza em cada um a passagem da morte para a vida. Acontece em quem ama o Mistério Pascal de Jesus. É a religião de Jesus. Fora disso, fazemos coisas boas, mas não chegamos ao núcleo da vida de Jesus.
Gotas de Ressurreição
Não se requerem grandes e fantásticos gestos de amor. Nós medimos o heroísmo pela grandiosidade e fama do acontecimento. Jesus não fez assim e ensina: “Quem der, nem que seja um copo d’água fria, a um destes pequeninos, por seu meu discípulo, em verdade vos digo,que não perderá sua recompensa” (Mt 10,42). Não precisa ser um copo d’água, basta um bom pensamento sobre o outro, já é Ressurreição. Mais ainda, tem em si todo o Mistério Pascal de Cristo, toda sua ressurreição, pois a grandeza do amor é ser amor. E “Deus é Amor” (1Jo 4,8). Sendo Deus o amor, todo amor nos une ao Deus por inteiro, e não por pedaços. A riqueza de Deus é sempre total. Onde existir uma gota de amor, ali está o oceano de Deus.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM ABRIL DE 2008
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