Dentro de poucos dias será apagado o Círio Pascal. Encerra-se um tempo litúrgico e a vida continua. Contudo, ninguém celebra o Mistério Pascal de Cristo e retorna vazio. Trazemos sempre, em nós, as marcas de sua Paixão e de sua Ressurreição. Cada tempo litúrgico nos desperta para uma visão mais profunda da espiritualidade. A vida do Espírito, em nós, vai tomando as cores dos tempos e empenhando-nos sempre em maiores aprofundamentos. Como o sol nos ilumina de acordo com as horas do dia, assim também Cristo Sol ilumina a nossa vida e nos faz ver sempre coisas novas. A Ressurreição de Jesus é sempre nova. Não é somente um fato a ser lembrado. É uma vida a ser vivida. Paulo é claro: “Vós que ressuscitastes com Cristo” (Cl 3,1). Houve uma morte e uma ressurreição. Paulo comenta nesse texto: “Se morrestes com Cristo para os elementos do mundo, por que é que vos sujeitais, como se ainda vivêsseis no mundo?” (Cl 2,20). Há um modo de viver como ressuscitado: “Vossa vida está escondida em Deus”. Nós não vemos o resultado espiritual, “mas quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então vós também, com ele sereis manifestados na glória” (Cl 3,3). A vida pascal consiste em viver como Cristo viveu e se entregou ao Pai pelo mundo. A liturgia reza: “Dai-nos caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo” (Oração do 5º Domingo da Quaresma). Os santos fizeram isso, sem deixar de ser muito humanos. E foram muito amados.
Buscando a vida nova
Essa espiritualidade é viver a vida nova, isto é mudar a mentalidade, tendo o mesmo sentimento de Cristo (Fl 2,5). Essa vida nova vem de nossa inserção em Cristo no Batismo. O que vemos em nós, e em tantos cristãos, é uma capa de coisas espirituais, como devoções, movimentos, atos de piedade, santos. Tudo muito bom, mas o interior não corresponde. Basta ver como comungamos e continuamos a fazer coisas absurdas. Quem se diz cristão, não pode fazer o que todos fazem só porque temos que acompanhar o mundo. Temos um evangelho a seguir e uma vida de Igreja a seguir. A Igreja também é cobrada para não viver a mentalidade do mundo, deixando de lado valores maiores. Não é fácil. Mas os primeiros cristãos viveram uma vida nova. É preciso dar valor ao essencial, e não aos elementos secundários.
Entendendo nossa fé
Às vezes, e não poucas, sentimos que temos dificuldades muito grandes de entender os princípios da fé cristã. Logicamente sabemos que não tivemos uma boa catequese. Basta ver os absurdos que se dizem. Igualmente sabemos que as pregações não têm sido suficientes. Mas é necessário, no correr da vida, aprender um pouco mais aquilo que somos e os tesouros que temos. Paulo escreve aos Efésios (1,18-19): “Que Ele abra vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamado vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com sua ação e força onipotente”. A fé pede que haja vida, mas também conhecimento. Conhecendo mais, podemos, se quisermos, viver melhor. A sabedoria do povo que vive a fé, é uma grande escola. A celebração litúrgica é outro caminho de conhecimento. Que o Espírito Santo nos ilumine!
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM ABRIL DE 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário