Evangelho segundo São Lucas 9,51-56.
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém
e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem.
Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?».
Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os.
E seguiram para outra povoação.
Tradução litúrgica da Bíblia
Franciscano,doutor da Igreja
Itinerário da alma para Deus, 7
(trad: Breviário, rev.)
«Jesus tomou a decisão de
Se dirigir a Jerusalém»
Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, e o sacramento escondido desde todos os séculos. Quem olha para este propiciatório de rosto plenamente voltado para Ele, contemplando-O suspenso da cruz com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com Ele a Páscoa, isto é, a passagem, atravessando o mar Vermelho por meio da vara da cruz. Nesta passagem, se for perfeita, é necessário que se deixem todas as operações intelectivas e que o ápice mais sublime do amor seja transferido e transformado totalmente em Deus. Isto, porém, é uma realidade mística e ocultíssima, que «ninguém conhece a não ser quem a recebe» (Ap 2,17), que ninguém recebe senão quem a deseja, nem deseja senão quem é inflamado, até à medula da alma, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou à Terra. É por isso que o Apóstolo diz que esta sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo.
Se pretendes saber como isto sucede, interroga a graça e não a ciência, a nuvem e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unção suavíssima e ardentíssimos afetos. Este fogo é Deus: «a sua fornalha está em Jerusalém» (Is 31,9). Cristo acendeu-o na chama da sua ardentíssima Paixão. Quem ama esta morte, pode ver a Deus, porque é indubitável que «nenhum homem poderá ver-Me e continuar a viver» (Ex 33,20).
Morramos, pois, e entremos nessa nuvem; imponhamos silêncio às preocupações terrenas, às paixões e imaginações; passemos, com Cristo crucificado, «deste mundo para o Pai» (Jo 13,1), a fim de que, ao manifestar-se-nos o Pai, digamos com o apóstolo Filipe: «Isso nos basta» (Jo 14,8). Ouçamos com São Paulo: «Basta-te a minha graça» (2Cor 12,9); e exultemos com David, exclamando: «A minha carne e o meu coração desfalecem: Deus é o meu refúgio e a minha herança para sempre» (Sl 72,26).
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