quarta-feira, 25 de agosto de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “A renúncia para ganhar”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
46 ANOS SACERDOTE
Corpo e alma, inimigos?
 
O livro da Sabedoria, coloca-nos diante de um problema complicado da relação do corpo e a alma e um certo desencanto com a pessoa humana. Certamente podemos entender esta visão, pois o livro da Sabedoria tem um quanto de filosofia grega, já que o autor, sábio judeu, morava em Alexandria no século II antes de Cristo. Por isso apresenta esta visão de corpo e alma e o corpo como sendo “corruptível torna pesa a alma e, tenda de argila que oprime a mente que pensa” (Sab 9,15). Este não é o pensamento comum dos judeus que colocam uma grande harmonia entre a dimensão espiritual, a psicológica e a carnal, como sua manifestação. Esta mentalidade do autor sobre o homem que “não pode conhecer os desígnios de Deus e que tem informações incertas” (Sab 9,13), vem nos esclarecer não um litígio entre corpo e alma, mas a tendência que temos de nos apegar, como nos diz o evangelho, ao que é passageiro. Aí sim, o corpo pesa sobre a alma. O autor traz a solução com uma pergunta: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu Santo Espírito? Só assim os homens aprenderam o que te agrade e pela Sabedoria foram salvos” (Sab 9,17-18).
Estratégia de salvação. 
Diante do quadro meio negativo, surge a palavra “dura” de Jesus: “se alguém vem a mim e não se desapega de seu pai e mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz, e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26-27). Jesus propõe a estratégia da salvação: renunciar a tudo para ter tudo. Não quer dizer que ter pais, mulher maridos, filhos e irmão e mesmo viver bem, seja mau, mas que seguir Jesus supõe que o “apego” seja a Ele, e nEle a todos os outros bens. Por isso coloca o exemplo de quem vai construir uma torre e não olha se tem condições financeiras, ou vai fazer uma guerra e não vê se tem soldado suficiente. Se quiser seguir Jesus, necessariamente tem que fazer o cálculo se vai de fato levar avante a escolha que faz, se vai querer assumir e se vai dar conta. Do contrário não encontra a vida que se propõe encontrar nEle. 
Entendendo o ser humano. 
A liturgia deste domingo leva-nos a conhecer melhor a pessoa humana e seus projetos fundamentais dentro da opção por Cristo. Fé que não penetre a vida e não a oriente, não chega jamais a ser fé, é apenas o conhecimento de um punhado de verdades. Podemos compreender Paulo que orienta sua vida pela fé. Ele batizara um escravo fugido de um amigo seu, Filemon. Poderia ficar com ele, pois lhe servia, mas manda-o de volta ao amigo, não mais para ser escravo, e sim um irmão querido. A fé chega a modificar a estrutura social, de escravo passa a ser irmão no Senhor. O mesmo poderá acontecer com a visão negativa sobre o ser humano e sobre a relação corpo-alma. Do mesmo modo podemos dizer que o desapego conduzirá a ter uma visão mais plena do corpo animado por um espírito e uma compreensão mais profunda do valor da pessoa no projeto de Deus. 
Leituras:Sabedoria9,13-18;Salmo89; 
Filemon 9-10.12-17; Lucas 14,25;33. 
1. A livro da Sabedoria traz um texto de influência grega que coloca o corpo como um peso para a alma. Um corpo levado para o mal pesa mesmo. Vemos no texto um certo desânimo com respeito ao ser humano. Mas o Espírito que Deus dá, ensina o que agrada a Deus e leva à salvação. 
2. Jesus resume em poucas palavras o caminho da salvação com a palavra desapego de tudo, inclusive dos que nos são caros, das coisas que amamos, e até da própria vida. A solução é tomar a cruz e seguir Jesus e apegar-se ao Pai e depois, nEle às pessoas, coisas e à vida. Se quisermos seguir Jesus temos que calcular se queremos agir assim. 
3. A partir do apego a Deus, vamos entender a pessoa humana no seu verdadeiro lugar, como nos escreve Paulo na carta a Filemon. A fé orienta o procedimento quanto às pessoas. Ela muda a estrutura social: de escravo passa ser irmão. O desapego jamais será uma perda, mas o ganho de algo maior: ganhamos a nós mesmos e a Deus. 
Homilia do 23º Domingo do Tempo
EM SETEMBRO DE 2004

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