Frédéric-Vincent Lebbe(1877-1940) é um missionário belga da Ordem dos Lazaristas.
Enviado à China, promoveu uma Igreja Católica verdadeiramente chinesa.
Biografia
Frédéric Lebbe nasceu em Gand, na Bélgica, em 19 de agosto de 1877. Durante a sua infância, ele leu a história de Jean-Gabriel Perboyre, missionário lazarista martirizado na China em 1840. Decidiu, então, tornar-se missionário e partir para a China, adotando o nome (religioso) de Vicente. Em 1895, entrou para o seminário dos Lazaristas em Paris. Em 1901, foi transferido para o vicariato apostólico de Pequim. Nessa época, os missionários cristãos, tolerados desde 1844 e oficialmente autorizados a se instalar naquela região depois dos tratados de Tianjin, em 1860, exerciam seu apostolado livremente, sendo, porém, fortemente ligados aos interesses dos Estados Unidos e das potências européias, especialmente a França para os católicos. Imediatamente, Vicente foi persuadido de que, como missionário, deveria se tornar chinês no idioma, na vida quotidiana, nas vestimentas e mesmo no patriotismo para poder exercer eficazmente seu ministério.
Após um começo bem-sucedido no campo, ele foi transferido para a cidade de Tien-Tsin (Tianjin), porto próximo a Pequim e sede das concessões estrangeiras. Lá, ele organizou a ação católica para os leigos chineses e travou importantes contatos com intelectuais chineses. Criou, em 1902, com Ying Lianzhi ( 英斂之 / 英敛之 ), o primeiro quotidiano católico em idioma chinês, Yi shi bao 益世报 (O Bem do Mundo), que rapidamente se tornou o jornal mais lido no Norte da China, graças à qualidade e à independência de suas informações.
Vicente Lebbe e seu amigo Antônio Cotta (1872-1957), que ele havia encontrado no seminário lazarista de Paris, militavam para que a hierarquia católica, vinda do estrangeiro e dependente das potências estrangeiras, se tornassem verdadeiramente chinesas. Eles retomaram os princípios que seu confrade, José Gabet, havia publicado em 1848, e que haviam sido então condenados. Em 1916, eles se opuseram à anexação, pelo consulado da França, de um terreno às margens da concessão francesa, a pedido das autoridades da Igreja, para construir a catedral. A pedido de autoridades francesas, Vicente Lebbe foi transferido para fora de Tianjin e, posteriormente, reconduzido à Europa.
Antônio Cotta redigiu, com Vicente Lebbe, um memorando para o Cardeal Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos no Vaticano, em favor da instituição de bispos chineses e de uma verdadeira “aclimatação” da Igreja. É a principal fonte da Encíclica Maximum illud do Papa Bento XV em 1919. O Papa Pio XI instituiu os seis primeiros bispos chineses em 1926, consagrando-os pessoalmente na Basílica de São Pedro, em Roma; Vicente Lebbe estava presente à cerimônia. O processo conduziu também, em 1939, à anulação da proibição dos ritos chineses, que datava de 1742. A Igreja da China foi instituída pelo Papa em 1942 e a China deixou o status de terra de missão1.
De 1920 a 1927, Vicente Lebbe participou do acolhimento aos estudantes chineses que chegavam em grande número à Europa, organizando-os em associações2. Ele inspirou o início da Sociedade dos Auxiliares das Missões, fundada a pedido dos bispos chineses, que formava padres seculares para colocá-los a serviço das Igrejas da Ásia e da África. Em 1928, retornou à China, transferido para a diocese de Hebei, dirigida por um bispo chinês. Vicente obteve, junto ao Governo da República da China, a nacionalidade chinesa, adotando o nome de Lei Mingyuan ( 雷鳴遠 / 雷鸣远 )3. Iniciou, então, a formação do clero regular naquele país, fundando a Congregação dos Irmãozinhos de São João Batista e as Irmãzinhas de Santa Teresa do Menino Jesus. Vicente mobilizou-os durante a guerra sino-japonesa, formando unidades de serviço de saúde e de socorro aos civis.
Encontrando-se do lado da República da China e de Tchang Kaï-chek, Vicente é considerado um espião e feito prisioneiro pelas forças comunistas do Exército Revolucionário Chinês, em Shanxi, no dia 9 de março de 1940. Morreu devido ao esgotamento físico em Chongqing, em 24 de junho de 1940, depois de ser libertado4.
Memória
Os arquivos de Vicente Lebbe são conservados e estudados na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Louvain, em Louvain-la-Neuve5.
A causa da beatificação foi aberta em 1988 pela diocese de Taichung, em Taiwan, da qual dependem os Irmãozinhos de São João Batista.
Inúmeras escolas e instituições têm o seu nome, dentre elas uma das vilas internacionais de Louvain-la-Neuve.
Notas
1. ↑ Ver As incômodas intuições do Padre Lebbe (Les intuitions dérangeantes du Père Lebbe) e O Apoio de Antoine Cotta à promoção dos Chineses (L'appui d'Antoine Cotta à la promotion des Chinois) em Claude Soetens, A Igreja Católica na China no Século XX (L'Eglise catholique en Chine au XXe siècle), pg. 70 e s., Beauchesne, Paris, 1997. (En ligne [archive] sur Google Books.)
3. ↑ O prenome 鸣远 Mingyuan, transcrição distante foneticamente de Vincent significa barulho do trovão, ao longe.
4. ↑ Uma biografia completa, em língua inglesa, está disponível no site dos Irmãos de São João Batista: Thunder in the Distance - Lei Ming Yuan [archive]
5. ↑ Claude Soetens, Inventaire des archives Vincent Lebbe [archive], 1982, Cahiers de la revue théologique de Louvain, sur Persée.
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