No dia de Pentecostes de 1623, na Missa solene, a Senhora Le Gras, em solteira Luísa de Marillac, ouviu uma voz interior a certificá-la de que depressa encontraria um bom diretor. De fato, no ano seguinte encontrou São Vicente de Paulo que triunfou onde todos os outros, incluindo São Francisco de Sales, tinham errado. Com efeito, São Vicente conseguiu libertá-la dos escrúpulos, obsessões, dúvidas sobre a fé e outras ideias fixas, que a tornavam infeliz.
Luísa de Marillac nascera no dia 12 de agosto de 1591, filha natural, de mãe desconhecida. Foi adotada por Luís de Marillac, Cavaleiro e Senhor de Ferriéres-en-Brie e comandante de uma companhia do rei. Ela sofreu as consequências disso: falta de um lar carinhoso, desprezo dos parentes e, naturalmente muitos conflitos afetivos.
Era de constituição frágil, de baixa estatura, magra, bonita, nariz afilado, olhos expressivos, boca pequena. Dotada de grande capacidade intelectual e de vontade enérgica. Era muito sensível e inclinada ao escrúpulo, à timidez, à insegurança, minuciosa e perfeccionista, muito aberta às coisas de Deus e do próximo. Sua infância e adolescência foram machucadas por acontecimentos dolorosos que marcaram profundamente, o seu ser.
Em tenra idade, seu pai, Luís de Marillac, colocou-a no Convento de Poissy, onde recebeu uma esmerada educação, ali permanecendo enquanto ele viveu. Quando Luís de Marillac morreu, seu tutor passou a ser seu tio, Miguel de Marillac, chanceler da França. Este colocou Luísa em um lar para meninas em Paris. Nessa época ela começou a frequentar as freiras capuchinhas, Filhas da Cruz. No pensionato Luísa adquiriu conhecimentos para a vida prática como cozinhar, costurar, bordar, senso de responsabilidade e organização, enquanto sua permanência no Convento de Poissy proporcionou-lhe uma grande bagagem de piedade, de ciência e de instrução, uma educação de elite.
Quis ser religiosa capuchinha entre as Filhas da Cruz, mas não foi aceita porque sua saúde não suportaria os rigores da penitência que caracterizava a Ordem. Em particular, fez o voto de consagrar-se a Deus, em penitência e oração.
Seu tio, Miguel de Marillac, decidiu casá-la com um secretário dos comandantes da Rainha Mãe, Maria de Médici. Assim, em fevereiro de 1613, Luísa se casou com Antônio Le Gras e passou a ser chamada de "mademoiselle", título reservado às esposas de nobres da França. Antônio Le Gras, era tido como fadado para uma brilhante carreira, mas, de fato, arrastava uma doença de que morreria, doze anos depois do casamento. No dia 19 de outubro daquele ano nasceu-lhe um filho, Miguel. Luísa cuidou do esposo com a maior atenção, ao mesmo tempo em que educava o filho único dos dois.
Em 1621-1622, Antônio Le Gras contraíra uma moléstia que afetou até o seu comportamento. Luísa foi boníssima para com ele. Entretanto, grandes escrúpulos e dúvidas invadem a sua alma e ela chega a pensar ser vítima de castigos de Deus. Sente-se rejeitada por todos, mesmo do próprio Deus. Densas trevas a envolvem e só no dia 4 de junho de 1623, na Igreja de são Nicolau dos Campos, receberia a célebre “luz de Pentecostes”. Libertou-se então de suas penas e incertezas e começou a descobrir ainda que não muito claramente os planos divinos a seu respeito.
Em 1625 o marido veio a falecer, na paz, depois de muita revolta e intranquilidade.
Quando Luísa encontrou o Padre Vicente, ela tinha 34 anos, e era uma viúva angustiada, inquieta na busca da vontade de Deus, com uma vida de oração toda estruturada em exercícios, devoções, jejuns e disciplinas. O Padre Vicente descobre as marcas que a dureza da vida havia deixado naquela mulher supersensível e sofrida. Acolheu seu sofrimento e com paciência começou a trabalhar sobre a inquietude de Luísa. Descobriu logo a rica personalidade de Luísa e a solidez de sua fé. Ele orienta sua inteligência e seu coração para os pobres. Recorre com frequência à sua colaboração para preparar roupas para os pobres, para visitá-los, solicita pequenos serviços nas confrarias e ela vai recuperando pouco a pouco a confiança em si mesma.
Após a morte do esposo e tendo seu filho entrado no seminário, Luísa pode acolher em sua casa as primeiras jovens que vinham se colocar ao serviço dos pobres. Apreciando sua disponibilidade, seu juízo reto e seguro, seu sentido de organização e intuição feminina, o Padre Vicente faz dela sua principal colaboradora e confia-lhe a animação das Confrarias da Caridade.
Chegando às aldeias, Luísa se informa das pessoas que pertencem à Confraria, reúne as senhoras da Caridade e dirige-lhes a palavra. Observa como funciona a Confraria, o estado financeiro das coisas, o papel de cada um dos membros, informa-se sobre a vida espiritual, visita pessoalmente os pobres, interessa-se pela instrução das (dos) jovens. Terminada a visita, ela reúne as responsáveis, dá orientação segura e envia ao Padre Vicente um relatório minucioso, com sua própria apreciação.
No trabalho das Confrarias, o Padre Vicente intervinha quando necessário, mas deixava toda a liberdade de ação a sua colaboradora e recorria muitas vezes ao seu espírito de organização.
Com o tempo, as necessidades aumentaram, as consequências da guerra se fazem sentir; Vicente e Luísa se interrogam sobre o futuro do serviço aos pobres. Apresenta-se uma camponesa: Margarida Naseau e, com ela, outras camponesas que seguem o seu exemplo de dedicar a vida a serviço dos pobres
As jovens que se reúnem ao redor de Luísa de Marillac em 29 de novembro de 1633, são camponesas rudes, que não têm instrução nem mesmo elementar, a maioria não sabe ler. Luísa dá formação espiritual às jovens, ensina-as a ler, a escrever, a costurar, como cuidar dos doentes, a fazer chás caseiros, como ensinar o catecismo. Juntas refletem e enfrentam as dificuldades que aparecem nos serviços, os mais variados. Era o primeiro núcleo da nova Congregação.
Durante 35 anos, São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac trabalharam juntos e juntos fundaram a Congregação das Irmãs da Caridade que deviam ter, dizia Vicente, “por mosteiro só as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por claustro as ruas da cidade ou as salas dos hospitais, por clausura a obediência, por grade o temor de Deus, por véu a santa modéstia”.
“Só Deus conhece que força de ânimo ela possui”, disse São Vicente a respeito da atividade incansável de Luísa, apesar das precárias condições de saúde e de muitas atribulações. Luísa, que lhes escrevera as regras, dirigiu as Irmãs até ao fim.
No ano de 1660 Luiza de Marillac sentiu que seu fim estava se aproximando e queria ser assistida por São Vicente. Porém ele, com 85 anos, também estava muito doente e apenas conseguiu enviar a ela uma bênção, dizendo: "Madame, ides antes de mim, espero em breve, rever-nos no céu".
Santa Luiza recebeu a comunhão e deu uma bênção para as Irmãs dizendo: “Queridas irmãs, continuo pedindo a bênção de Deus para vós e a graça de perseverardes na vocação. Cuidai bastante do serviço dos pobres e vivei em grande união e cordialidade, amando umas às outras, a fim de imitardes a união de vida de Nosso Senhor. E rogai com fervor à Santíssima Virgem, para que ela seja nossa única Mãe”. Ela recebeu a unção dos enfermos na hora de sua morte, pediu para fechar as cortinas e, pouco tempo depois, suavemente, faleceu. A seu pedido, teve um funeral muito simples, tendo sido sepultada na igreja de Saint-Laurent.
Santa Luísa de Marillac foi beatificada pelo Papa Bento XV em 9 de maio de 1920; foi canonizada por Pio XI no dia 11 de março de 1934 e declarada patrona das Obras Sociais em 1960 por João XXIII. Seu corpo foi transferido para a capela da Casa Mãe das Filhas da Caridade, em Paris, França. Sua festa é no dia 15 de março. No Brasil existe uma cidade em Minas Gerais, chamada Marillac, em homenagem à Santa que é a sua padroeira.
Fontes: Santos de Cada Dia, do Pe. José Leite, S.J., 3ª ed. Editorial A.O. Braga
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