terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Se a semente não morre”!

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
53 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
A oração da missa
dá-nos o caminho para interpretar a liturgia de hoje: “concedei-nos viver com alegria o mesmo espírito de caridade que levou vosso Filho Unigênito a entregar-se à morte pela salvação dos homens”. É o espírito de caridade, de amor divino que une todos os acontecimentos da vida de Jesus, de modo particular sua paixão e morte. É este espírito divino de amor, que vai fazer Jesus passar da morte para a vida, como a semente que morre, ressuscita e dá vida. Devemos lembrar que os mistérios de Deus não são incompreensíveis à mente, são um processo de assimilação que se vive e quanto mais se vive, mais se penetra. 
A Paixão de Jesus não foi fácil para Ele, pois chega a “implorar em altos brados e lágrimas Àquele que poderia libertá-lO da morte”(Heb 5,7). A aceitação que tem da vontade do Pai é que é a causa da Ressurreição, pois, atendido, continua a carta aos Hebreus, torna-se causa de salvação eterna a todos. A entrega de Jesus constitui sua aliança nova que Ele realiza primeiro em seu coração, como predisse o profeta Jeremias (Jr 31,31) e leva às últimas conseqüências, como a semente que morre para viver e dar vida.
Os gregos querem ver Jesus, querem falar com Ele. Ver Jesus, para João, significa crer. A fé se faz em uma procura. Justamente Jesus se manifesta como aquele que foi “elevado”, quer dizer crucificado. Ao ser elevado “atrai” todos a Ele. A elevação tem sentido também de “glorificação” como a dizer que a cruz é o “trono de glória de Jesus” Vemos aí o sinal da ressurreição. Relendo a parábola da semente podemos entender que o maior sucesso da semente não é permanecer viva, mas sim destruir-se para poder fazer crescer a vida que tem dentro de si. A morte é o primeiro sinal da vitória de Cristo, pois na obscuridade da terra a semente retoma vida. Jesus assume a morte para matar a própria morte. A morte como entrega supera a morte como fatalidade e destruição da vida. O ato de fé dos gregos está dizendo da “hora” de Jesus, o momento da sua entrega. Quando tudo entrega, tudo atrai. Tudo converge para o Cristo. Estes gregos que crêem significam dirigir-se para o alto, para a glória, para a vida, para o eterno. 
Onde eu estiver aí estará o meu servo. O cristão participa pela fé nos sofrimentos do Cristo e por isso participa também de sua glorificação. A vida cristã é moldada na vida de Cristo que foi uma vida de obediência ao Pai na entrega e na dor da cruz. Mas com a garantia da ressurreição com Cristo. Exatamente aqui se explica o porquê de Jesus aceitar a morte: “Quem ama sua vida, vai perdê-la; quem a odeia (ama menos) vai conservá-la para a vida eterna”. Há sempre uma morte que dá vida. Há sempre em nós uma semente a cair na obscuridade da terra para apodrecer e fazer brotar toda pujança de vida que a ressurreição lhe dá.
 (Leituras: Jeremias 31, 31-34; 
Hebreus 5,7-9; João 12,20-30)
Homilia do 5º domingo da Quaresma (06.04)
EM ABRIL DE 2003

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