sábado, 30 de maio de 2020

Festa da Ascensão do Senhor

     A observância desta festa é muito antiga. Embora não haja evidências documentais de sua existência anteriores ao século V, Santo Agostinho afirma que ela é de origem apostólica e de uma forma que deixa claro que ela já era observada universalmente por toda a Igreja antiga muito antes de seu tempo. Menções frequentes a ela aparecem nas obras de São João Crisóstomo, São Gregório de Nissa e na “Constituição dos Apóstolos”.
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     A “Peregrinação de Egéria” fala de uma vigília antes da festa e da festa em si, eventos que ela testemunhou na igreja construída sobre a gruta na qual os fiéis acreditam ter nascido Jesus em Belém. É possível que antes do século V, o evento narrado nos Evangelhos tenha sido comemorado em conjunto com a Páscoa ou o Pentecostes. Alguns acreditam que o controverso e muito debatido decreto 43 do Sínodo de Elvira (c. 300), condenando a prática de observar uma festa no quadragésimo dia depois da Páscoa e de esquecer de comemorar o Pentecostes no quinquagésimo, implica que a prática apropriada na época era comemorar a Ascensão junto com o Pentecostes. Representações artísticas do evento aparecem em dípticos e afrescos a partir do século V.
     Os termos em latim para a festa, "ascensio" e, ocasionalmente, "ascensa”, significam que Cristo ascendeu através de seus próprios poderes e é destes termos que o dia santo derivou seu nome. No Catolicismo romano, a "Ascensão do Senhor" é um “dia santo de obrigação”. Os três dias antes da quinta-feira da Ascensão são, às vezes, chamados de “Dias de rogação" e o domingo anterior, o sexto da Páscoa (ou quinto "depois" da Páscoa), “Domingo de rogação". A Ascensão prevê uma vigília e, desde o século XV, uma oitava, que já é uma novena preparatória para o Pentecostes conforme as instruções do papa Leão XIII.
     Em diversos países que não observam a festa como feriado público, a Igreja Católica Romana deu permissão para mudar a observância da Ascensão da quinta-feira para o domingo seguinte, o domingo antes do Pentecostes. Este relaxamento está de acordo com a tendência de mover os dias de obrigação de dias da semana para os domingos para encorajar mais católicos a observar as festas consideradas mais importantes. A decisão de mudar a data é tomada pelos bispos de uma província eclesiástica, ou seja, um arcebispo e seus bispos.
Dia da espiga
     O "dia da espiga" ou "Quinta-feira da espiga" é uma celebração portuguesa que ocorre no dia da Quinta-feira da Ascensão com um passeio, em que se colhem espigas de vários cereais, flores campestres (papoilas e pampilhos) e raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga. Em certas localidades, segundo a tradição, o ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada e só deve ser substituído por um novo, no dia da espiga, do ano seguinte. É considerado "o dia mais santo do ano", um dia em que não se devia trabalhar. Era chamado o "dia da hora" porque havia um momento em que tudo parava: pelo meio-dia, em algumas localidades e pelas três horas da tarde, noutras localidades, onde "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas de oliveira cruzam-se".
     O seguinte provérbio é do conhecimento do povo português:
“Se os passarinhos soubessem
Quando é dia d'Ascensão,
Nem subiam ao seu ninho,
Nem punham o pé no chão”.

     Em alguns locais do país, era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da "espiga" e também se colhiam as ervas medicinais. Deviam rezar-se igualmente cinco Padres-Nossos, cinco Ave Marias e cinco Gloria ao Pai, para que durante o ano houvesse sempre em casa azeite, ouro e prata. Nesses lugares, em dias de trovoadas queimava-se um pouco dessa "espiga" no fogo da lareira para afastar as trovoadas.
CHAVES, Luís. Páginas Folclóricas - I: A Canção do Trabalho. Separata do vol. XXVI da "Revista Lusitana". Imprensa Portuguesa. Porto, 1927.

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