Desvios da fé
A palavra fé e fidelidade na
escrita cuneiforme, em uso na Babilônia, desde os sumérios, não é um conceito,
mas a construção de uma fortaleza. Lembramos que eles escreviam em tabuletas de
argila que depois eram cozidas como tijolo.
O desenho das letras era feito com símbolos de “cunhas” que formavam a
palavra. A fé não é crer numa doutrina, mas acolher uma Pessoa, Jesus. Assim
cada pessoa se torna uma fortaleza. Sua muralha não se dissolve com pretensões
contrárias. É o que podemos ver em nossa vida de cristãos, sobretudo no momento
em que estão em jogo nossas pretensões. Vemos essa tentação nos primeiros
discípulos que, iniciando a “campanha” para o futuro governo que Jesus
estabeleceria o Reino de Israel. Quem é que vai mandar? Os dois filhos de
Zebedeu, Tiago e João, adiantam e pedem a Jesus o lugar de comando: “Deixa-nos
sentar à direita e à esquerda quando estiveres na tua glória” (Mc
10,37).
Essa mentalidade não saiu ainda da Igreja cristã. O poder, os bens e o prazer
fascinam e têm força de lei. É impressionante como em todas as esferas da
Igreja há luta pelo poder que depois se torna vício do prazer. É o que vemos.
Tudo pode ser feito, menos tocar na autoridade. Isso mostra que o paganismo
ainda é reinante com todos os traços de falsa santidade e de verdade. A fé que
modifica a vida pelo Evangelho não conta. Mas Jesus os leva a perceber que
estarão a seu lado no serviço da cruz. Essa fortaleza de fé modela a vida. Por
isso ela se torna critério.
O servo que justifica
O salmo descreve
o Servo de Deus como um retrato de Jesus, que passou pelo sofrimento e,
sustentado por sua fé, transformou a ignomínia e a dor em expiação. Entrou no
lugar do animal oferecido em sacrifício para pagar pelo pecado do povo. Todo
seu sofrimento teve luz duradoura e ciência perfeita. Se assim é um servo,
quanto mais o Filho de Deus que assume essa condição. Seu sofrimento fará
justos inúmeros homens. Mais que sofrer, ainda assume a culpa de todos (Is
53,10-11).
Jesus chama a Si essa figura e aponta o batismo que deve receber. Batismo de
sangue. Esse é o grande serviço que presta ao mundo e penetra toda a vida do
discípulo nos muitos serviços que destroem os ídolos do poder, da ganância e do
prazer que se transformam em tirania.
Jesus afirma: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo e, quem quiser
ser o primeiro seja o escravo de todos”. Essa é a fortaleza inexpugnável que
repele esses males e faz do discípulo um servo redentor. Assim fez Jesus: “O
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como
resgate de muitos” (Id 45). Essa é a base da fé cristã. Sem
isso nossa fé não passa de teoria, bons modos, piedade vazia, ministério inócuo
e Igreja em decadência.
Aproximemo-nos com confiança
A
Carta aos Hebreus descreve o Sumo Sacerdote Jesus Cristo como modelo e
fundamento de todo o sacerdócio dos fiéis e do ministério ordenado. Só existe
um Sacerdote, Cristo. Todo sacerdócio que há na Igreja está unido a seu
sacerdócio e deve ter suas características: É abertura de Deus para seu povo,
pois o conhece por ter vivido nossas fraquezas, menos o pecado. Podemos nos
aproximar com confiança. O exercício do sacerdócio é o do servo no poder de
Jesus Cristo de servir. Como seria bom se todos o sacerdócio transmitisse esse
Jesus que entrega sua vida e acolhe com amor. Somente com a fortaleza da fé
poderemos exercer fielmente o serviço de Cristo.
Leituras Isaias 53,53,10-11; Salmo 32;Hebreus
4,14-16;Marcos10,35-45
1. A fé é uma fortaleza que resiste a
todos os males que invadem as pessoas e a Igreja
2. Jesus coloca o serviço como base de
todo seu ministério de redenção.
3. O povo de Deus e padres participam do
sacerdócio de Cristo no serviço.
Dando com a cara no muro
Os discípulos Tiago e João queriam um
lugar privilegiado no futuro reino do Messias. Mas deram com a cara no muro
porque Jesus tem outra mentalidade de reino: é lugar de serviço mútuo e
dedicado. Eles aceitaram o “batismo de sangue de Jesus”. Quando assumiram a
condição de servidores. E foram grandes nisso. Começaram mal e acabaram bem.Essa mentalidade de serviço que Jesus
proclama do Evangelho, contra toda mania de poder, de riqueza e de prazer, está
longe de ser a mente dos fiéis e dos servidores da Igreja, padres, bispos e
leigos. Não é pelo poder que a Igreja vai conquistar o mundo. Já não deu certo
e pior ainda, foi uma fonte de pecados e desastres espirituais. Está na hora de
assumir o Evangelho como uma grande fortaleza.
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