PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
Memorial
da Paixão
A
festa de Corpus Christi - Corpo de Cristo – surgiu na Idade Média, fruto de uma
necessidade muito presente: Ver a “Hóstia Consagrada”. A Comunhão não era
freqüente. Mesmo que a razão primeira da festa não se ligue tanto a nós, nós a conservamos
pelo bem que faz à comunidade: um testemunho de fé na presença de Cristo na
Eucaristia. Não podemos perder de vista o sentido da Eucaristia que está em
Jesus e nos é explicado pelas Escrituras. É profetizada pela bela imagem do
maná no Antigo Testamento, na caminhada do povo pelo deserto: “Não te esqueças
do Senhor, teu Deus... que te alimentou no deserto com o maná, que teus pais
não conheciam” (Dt 8,14.16ª) ; É realizada
na Última Ceia de Jesus em união com sua Paixão e sua Ressurreição. É deixada
para ser continuada como memorial na celebração do povo de Deus. S. João inicia
o discurso sobre o Pão da vida assim: “Estava próxima a festa da páscoa dos
judeus” (Jo 6,4); Na páscoa judaica, memorial
da libertação do povo de Deus, Jesus institui a nova Páscoa, memorial de sua
Paixão e Ressurreição. Celebrando a Eucaristia nós entramos em comunhão com a
passagem de Jesus ao Pai, sua Páscoa. E, nesse gesto, realizamos nossa Páscoa. Celebrando
a vida de Cristo, comungamos de sua Vida para nossa vida eterna.
Pão da vida eterna
A liturgia de
hoje reza a seqüência: “Aos mortais dando comida, dais também o Pão da vida;
que a família assim nutrida, seja um dia reunida aos convivas lá dos Céus”.
Como sabemos, João não narra a instituição da Eucaristia, como os outros
evangelistas. Mas explica o que ela é: Pão da vida! Temos a fé, o amor e o Pão
da vida para ter a Vida de Jesus. Jesus afirma: “Se não comerdes a carne do Filho
do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós...minha carne é
verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida” (Jo 6, 53.55). Jesus é o pão, e o pão é Jesus. O símbolo do pão dá
o sentido da vida que Jesus nos dá. Se é vida, é vida eterna. Por isso Ele
completa: “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia” (Jo 6,54). A
fé em Jesus é como comer sua carne. Comendo sua carne no Pão da vida, vivemos a
vida eterna e seremos ressuscitados. Há uma oração antiga que diz: “É-nos dado
o penhor da futura glória”. A Eucaristia penetra a vida, e nos faz penetrar no
Céu.
Frutos
da Redenção
Paulo
escreve: “O cálice que abençoamos, não é a comunhão com o sangue do Senhor? O
pão que partimos, não é a comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão,
nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17). Além da união a Cristo, nós nos
unimos a todo o Corpo de Cristo, que somos nós com Ele. Há um processo de
divinização. Vivemos sempre mais, com Ele, a vida divina. Há, no Livro da
Sabedoria, um pensamento muito rico, quando comenta sobre o maná: “Nutristes
vosso povo com um alimento de anjos... um pão já pronto, contendo em si todo o
sabor, e adaptando-se a todos os gostos. Este vosso sustento manifestava vossa
doçura para com vossos filhos; ele se adaptava ao gosto de quem dele comia e se
transformava naquilo que cada um desejava” (Sb
16,20-21). Rezamos na missa que saboreamos já na terra o gosto da divindade.
Jesus-Vida tem o sabor que cada um busca e é para aquilo que deseja de Deus.
Deus de infinitos sabores, de infinitas novidades, a gosto de quem o ama. Além
do mais, comungando, fazemos de nós sacrários vivos que levam, por onde vamos,
Jesus.
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