PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
427. Ouvindo a Palavra
Somos a religião do ouvido, pois estamos
sempre abertos a ouvir o que o Senhor quer falar (Is 50,5). Na história do povo
de Deus podemos ver tantas vezes que Deus fala com seu povo através dos
profetas. A carta aos Hebreus diz: “Muitas vezes e de diversos modos falou Deus,
outrora, aos pais pelos profetas; agora ... falou-nos por meio de seu Filho”
(Hb 1,1-2). Jesus, durante os 3 anos que anunciou o Reino, falava ora ao povo
ora aos discípulos em
particular. Os primeiros cristãos se reuniam para ouvir os
ensinamentos dos apóstolos. Reunir-se supõe sempre ouvir a Palavra de Deus. Por
isso, a celebração de cada sacramento tem duas partes: liturgia da Palavra e
liturgia do gesto sacramental. A espiritualidade cristã vai se nutrir dessa
proclamação da Palavra. Nas liturgias é Deus que fala a seu povo. Toda
celebração se torna uma revelação de Deus através de sua Palavra. Não vai dizer
coisas novas, mas vai introduzir-nos em seu mistério pela Palavra proclamada. Quando
nos reunimos em comunidade, somos convocados a estar atentos à Palavras. Somos
a religião do ouvido. Não falamos muito na celebração, mas estamos atentos em
ouvir. À medida que ouvimos, a Palavra cai em nosso coração e, como diz a
parábola da semente (Mc 4,1-20), germina e produz fruto. Jesus queria que sua
Palavra penetrasse todos os corações. O mesmo continua pedindo através da
Igreja. Recebemos o Espírito Santo para nos abrirmos. Curiosamente a Palavra
será sempre nova, por mais que seja a mesma sempre. Deus é tão bom que sempre
abre os tesouros de seu coração através das palavras proclamadas. Sempre ela
traz algo novo. Basta ter um coração renovado. A espiritualidade se alimentará
dessa contínua novidade. Deus é sempre novo.
428. Celebrando o Mistério
A Palavra proclama a presença da Salvação realizada
por Jesus em seu Mistério Pascal
de vida, morte e ressurreição. Não celebramos um rito, mas a presença de uma
Pessoa, Jesus, que se relaciona com Seu Pai num gesto de entrega e num diálogo
amoroso. Jesus nos associa a si e com Ele vamos ao Pai. Esse é o culto que
prestamos celebrando, através de símbolos. Participar de uma celebração não é
só estar presente, ler um texto, comungar, rezar e ir embora achando que hoje o
padre falou demais. Mas é, mesmo sem ter sentimentos especiais, unir-se a
Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. Reunidos como comunidade, fazemos
Corpo com Cristo. É difícil a gente entrar nessa dinâmica, mas é a única que
pode favorecer-nos participar bem da celebração. Não é preciso ter uma
consciência grande desse fato, pois quem o faz e Cristo. Nós o vemos na
penumbra. Mas Ele o realiza conosco. Só o fato de estarmos presentes, já se
realiza o mistério, pois é Cristo quem o faz. Quando maior consciência
tivermos, maior será o proveito. Deus, contudo não trata seus filhos com dureza.
Ele sabe de que material nos fez.
429. Fazendo comunhão
O que realiza fundamentalmente a celebração é a
comunhão que o Espírito realiza em
nós. Ao início da missa o celebrante diz que a “comunhão do
Espírito Santo esteja convosco”. Essa comunhão é o fundamento da celebração. O
Espírito faz de nos um corpo, Corpo de Cristo. Não somente nos une a Cristo,
mas nos une entre nós, os membros. A comunidade não é mais um ajuntamento, mas
um único corpo. A força do Espírito transforma o pão e o vinho no Corpo e
Sangue de Cristo. Essa mesma força nos transforma em Corpo de Cristo. Assim
rezamos: “pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito
Santo, num só Corpo”. Esse é o maior dom do Espírito.
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