quarta-feira, 28 de outubro de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “Jesus, misericórdia do Pai”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
448. Pela misericórdia de nosso Deus
Se quisermos encontrar uma palavra que possa resumir tudo o que queremos entender de Deus, podemos, sem dificuldades escrever: Misericórdia. Na história da humanidade sempre se descreveram os deuses como vingativos. Essa idéia penetrou o povo de Deus que prefere pensá-lo como carrancudo, justiceiro, vingador e que castiga até à quarta geração (Ex 20,5). O livro dos Números traz essa idéia: “O Senhor é paciente e cheio de misericórdia, perdoa a iniqüidade, mas não deixa impune o culpado, castigando a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração” (Nm14,18). Não encontramos este modo de pensar em Jesus. Ele sempre fala do Pai como bondoso e preocupado com os fracos e sofredores. A carta as Hebreus traz, em lugar de castigo, a palavra educação: “É para vossa educação que sofreis” (Hb 12,11). Para a Bíblia, educação significa instrução pela correção. Mesmo que haja frases ameaçadoras, predomina sempre o Deus que perdoa, que volta atrás da ameaça feita. Sua misericórdia está sempre com o fraco, o pequeno, o sofredor, o abandonado. Ele se considera o parente próximo, responsável por essa gente. Toda a história da salvação caminha para a grande expressão do amor de Deus: “Graças à terna misericórdia de nosso Deus, com a qual nos visitará, como sol que vem do alto” (Lc 1,78). O amor misericordioso de Deus se mostra no envio de seu Filho para nossa redenção sem termos merecido. Escreve Paulo: “Deus mostra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8). Jesus é a expressão desse amor. E Ele manifesta esses mesmos sentimentos que encontramos em Seu Pai. Em sua boca era fácil encontrar as palavras: “tenho compaixão da multidão” (Mt 15,32) ou “vendo as multidões, sentiu compaixão” (Mc 6,34). Suas parábolas, como do filho “pródigo”, da ovelha perdida são expressões dessa misericórdia. Sua morte por nós é o arremate dessa sua disposição misericordiosa. A espiritualidade deve envolver-se na bondade de Deus.
449. Anúncio da misericórdia
Depois de terem experimentado a misericórdia de Jesus, os discípulos anunciam-nO e pregam o evangelho. Esses homens, judeus, eram convictos, sedimentados em uma cultura na qual Deus era só para eles; Povo de Deus eram eles. Paulo afirma: “Quando... me chamou... para que eu evangelizasse os pagãos, não consultei carne nem sangue” (Gl 1,15-16). Eles foram capazes de abrir as portas do Reino a todos. A misericórdia se tornou de fato o método de evangelização. Em pouco tempo as comunidades se formaram superando as barreiras sociais e culturais. A misericórdia faz milagres. Eram tão frágeis e ao mesmo tempo tão corajosos. A abertura aos povos foi uma conquista da misericórdia.
450. Implantar o amor
            A história da Igreja tem muitos elementos bonitos, mas parece que ela tem medo da misericórdia. Consultam-se primeiramente as leis, e não a misericórdia, para o estabelecimento da vida e encaminhamento das situações da comunidade. É triste ver como essa estrutura de poder e ao mesmo tempo de medo de amar, forjou uma mentalidade de opressão e violência sobre pessoas e situações. No momento atual, ainda padecemos desse mal. Há medo de se viver a misericórdia na solução dos grandes problemas. A condenação torna-se uma arma muito usada. Há situações íntimas que são tratadas e condenadas, como se fossem idéias e não filhos de Deus que sofrem. Nessa hora de declínio de uma sociedade somos interrogados sobre a misericórdia que tivermos.

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