PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
448. Pela misericórdia de nosso Deus
Se quisermos encontrar uma palavra que possa resumir tudo o que queremos
entender de Deus, podemos, sem dificuldades escrever: Misericórdia. Na história da humanidade sempre se descreveram os
deuses como vingativos. Essa idéia penetrou o povo de Deus que prefere pensá-lo
como carrancudo, justiceiro, vingador e que castiga até à quarta geração (Ex
20,5). O livro dos Números traz essa idéia: “O Senhor é paciente e cheio de
misericórdia, perdoa a iniqüidade, mas não deixa impune o culpado, castigando a
iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração” (Nm14,18).
Não encontramos este modo de pensar em Jesus. Ele sempre fala do Pai como bondoso e
preocupado com os fracos e sofredores. A carta as Hebreus traz, em lugar de
castigo, a palavra educação: “É para vossa educação que sofreis” (Hb 12,11).
Para a Bíblia, educação significa instrução pela correção. Mesmo que haja
frases ameaçadoras, predomina sempre o Deus que perdoa, que volta atrás da
ameaça feita. Sua misericórdia está sempre com o fraco, o pequeno, o sofredor,
o abandonado. Ele se considera o parente próximo, responsável por essa gente.
Toda a história da salvação caminha para a grande expressão do amor de Deus: “Graças
à terna misericórdia de nosso Deus, com a qual nos visitará, como sol que vem
do alto” (Lc 1,78). O amor misericordioso de Deus se mostra no envio de seu
Filho para nossa redenção sem termos merecido. Escreve Paulo: “Deus mostra seu
amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda
pecadores” (Rm 5,8). Jesus é a expressão desse amor. E Ele manifesta esses
mesmos sentimentos que encontramos em Seu Pai.
Em sua boca era fácil encontrar as palavras: “tenho compaixão
da multidão” (Mt 15,32) ou “vendo as multidões, sentiu compaixão” (Mc 6,34). Suas
parábolas, como do filho “pródigo”, da ovelha perdida são expressões dessa
misericórdia. Sua morte por nós é o arremate dessa sua disposição
misericordiosa. A espiritualidade deve envolver-se na bondade de Deus.
449. Anúncio da misericórdia
Depois de terem experimentado a misericórdia de Jesus, os discípulos
anunciam-nO e pregam o evangelho. Esses homens, judeus, eram convictos,
sedimentados em uma cultura na qual Deus era só para eles; Povo de Deus eram
eles. Paulo afirma: “Quando... me chamou... para que eu evangelizasse os
pagãos, não consultei carne nem sangue” (Gl 1,15-16). Eles foram capazes de
abrir as portas do Reino a todos. A misericórdia se tornou de fato o método de
evangelização. Em pouco tempo as comunidades se formaram superando as barreiras
sociais e culturais. A misericórdia faz milagres. Eram tão frágeis e ao mesmo
tempo tão corajosos. A abertura aos povos foi uma conquista da misericórdia.
450. Implantar o amor
A
história da Igreja tem muitos elementos bonitos, mas parece que ela tem medo da
misericórdia. Consultam-se primeiramente as leis, e não a misericórdia, para o
estabelecimento da vida e encaminhamento das situações da comunidade. É triste
ver como essa estrutura de poder e ao mesmo tempo de medo de amar, forjou uma
mentalidade de opressão e violência sobre pessoas e situações. No momento
atual, ainda padecemos desse mal. Há medo de se viver a misericórdia na solução
dos grandes problemas. A condenação torna-se uma arma muito usada. Há situações
íntimas que são tratadas e condenadas, como se fossem idéias e não filhos de
Deus que sofrem. Nessa hora de declínio de uma sociedade somos interrogados
sobre a misericórdia que tivermos.
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