PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
445. Missão
de dar vida
Continuando a reflexão sobre a espiritualidade em sua relação com a
comunidade, vamos refletir sobre a comunidade e sua missão. A espiritualidade
vai se delineando também no aspecto missionário. A comunidade sem missão é
morta ou agonizante. Não se pode admitir um grupo, uma comunidade, uma oração
comunitária que não seja missionária. Será que bilhões de pessoas que não
conhecem Jesus não são uma preocupação nossa? A espiritualidade fará permear
nossa vida e atividades com a missão de Jesus. Como fazemos parte do Corpo de
Cristo, estamos unidos também a sua missão. Essa missão tem a finalidade de dar
vida. Jesus afirma: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo
10,10). Ter a vida de Cristo em nós é também ter a energia espiritual que nos
impulsiona a dar vida. Nós não damos a vida de Cristo, mas abrimos os caminhos
para que tenham a Vida. João escreve: “O que era desde o começo, o que nós ouvimos,
o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos tocaram do
Verbo da Vida – pois a Vida se manifestou, nós a vimos e damos testemunho e vos
anunciamos esta Vida eterna, que estava diante do Pai e nos apareceu – o que
vimos e ouvimos, nós vo-lo anunciamos, a fim de que vós estejais em comunhão
conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo
1,1-3). João parte de uma experiência pessoal com Cristo, até física, para
anunciar. O anúncio gera comunhão entre as pessoas e essa comunhão é com o Pai
e o Filho. O anúncio gera comunhão que dá Vida.
446.
Missão, sinal de vida da Igreja
A missão dá vitalidade à Igreja e é sinal de que está viva. Pela
história, desde o início, vemos o entusiasmo de gerações que partiram em missão. Quantos
missionários europeus não enfrentaram os mares para ir a todo o mundo nos
séculos 16-19. Foram, e muitos não mais voltaram, pois se fizeram missão! Agora
sentimos a dificuldades de partir. Será que há dificuldades maiores do que
viajar num naviozinho? Ou será que a Igreja morre porque não cremos mais em sua
missão? Eu fui durante três anos missionário na Angola. Embora tenha sido
extremamente gratificante, vi o quanto somos fechados e egoístas por não querermos
sair de nós e nos entregar. É uma experiência única. Perdeu-se o elan
apostólico-missionário. Damos muitas desculpas, mas é um triste sinal de
decadência da Igreja. Mas a missão não é somente ir longe da pátria, da família
e da própria cultura. É, mas não só. A missão primeira está ao alcance de
nossas mãos.
447.
Partes de um corpo apostólico
Ao refletirmos sobre a necessidade da missão, nós nos perguntamos: E
eu, se não posso fazer o que os outros fazem, como ir para fora do país, ou ir
longe, ou pregar, ou ensinar etc... o que posso fazer? Voltamos à imagem do
corpo usada por Paulo: “Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos
membros. Ora, vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por
sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são apóstolos, profeta,
doutores... a seguir os dos milagres, da assistência, do governo”
(1Cor12,12-30). Cada um ocupa uma posição e tem uma finalidade. Assim também na
Igreja. O que acontece é que não nos damos conta de nossa função no Corpo de
Cristo. Temos também os carismas. Cada um tem um dom diferente para o bem da
Igreja, regulado pela caridade. Para a missão tenho que descobrir primeiramente
qual é meu dom e, depois, assumir atividades concretas, nem que seja só da
oração. Aí sim, cresceremos na espiritualidade a partir da missão.
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