O
evangelista João comenta que Jesus conhecia o que havia no coração do homem (Jo
2,25). Conhece não para dizer o que está mal, mas para amar e, sobretudo, para
isso. Em seu ministério é mais atento ao coração, que não vemos, do que às
dores físicas. São freqüentes suas expressões de compaixão pelo povo por ver
sua dor e seu abandono. Até mesmo em sua morte diz: “Pai, perdoai-lhes porque
não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Entende a dor do povo humilhado pela
situação. Percebemos dessa maneira que esse seu modo de ser deve penetrar a
vida de seus discípulos, nós, seus seguidores. Ter os mesmos sentimentos de
Jesus para com os sofredores é ter a capacidade de descobrir os que estão
feridos no silêncio de suas vidas. Há tantos sofrimentos que estão guardados sob
as tantas chaves do medo, da insegurança e da impossibilidade de se abrir. Esse
olhar penetrante de Jesus através de nossos olhos significa buscar a ovelha
perdida. Significa cuidar do pobre homem caído na estrada. É fazer-se
misericórdia com aqueles que são taxados de fora de lei, ignorantes e sujos. “Essa
gente que não conhece a lei são uns malditos” gritam os fariseus (Jo 7,49).
Maldito quer dizer: Deus não gosta deles. Além de serem maltratados pela vida,
são taxados de rejeitados por Deus. O homem é atingido no seu interior, sofre
sem mesmo saber por que. A sociedade desconhece essas dores. A espiritualidade
que nasce desse sacramento da Unção dos Enfermos leva-nos a descobrir esse
mundo que Jesus tanto amava. Quando se diz que Jesus passou para o lado dos
pobres, não é política, mas a posição de alguém que compreende, faz empatia
(passar a sentir a mesma coisa) com eles e toma uma atitude de ajuda concreta.
Assim Ele fez, por isso foi recusado.
326. Machucados na alma
Esses
sofredores silenciosos, às vezes, desde o útero materno, carregam fardos
dolorosos. São duplamente vitimados: pelo nascimento e pelo correr da vida. Trazem
marcas psicológicas que nem mesmo eles conhecem. Ou são marcas de uma culpa
proveniente de um pecado que, perdoado ou não, permanece espetando. A cura
desses corações pode depender ou de um especialista, para o aspecto psicológico,
ou do ministério do perdão. As estruturas e os membros da Igreja nem sempre se
preocupam em ouvir seus gemidos silenciosos. Jesus olhou com amor. Seus olhos
penetravam os olhos das pessoas e as tocavam. Cito um fato meu: Um dia numa
procissão de entrada, em uma missa, olhei para uma pessoa e sorri. Depois ela
me procurou e disse: ‘sei que o senhor está de passagem, mas preciso falar e
foi somente o senhor que olhou para mim na procissão de entrada e sorriu para
mim’. E eram diversos padres. O olhar de Jesus sobre o sofredor é uma comunhão
de almas que leva à cura.
327. Confissão, caminho da cura
Há
uma união entre os dois sacramentos da confissão e da unção, pois este também
perdoa pecados. A missão de reconciliação que Cristo trouxe não é só algo
universal, mas atinge cada pessoa. Os dois sacramentos são para a cura do
coração. Durante a vida temos essa possibilidade de estar sempre em conversão
para Deus, para que, chegando o momento final, nós nos encontremos com Ele.
Também esse sacramento exige, antes do aspecto jurídico, o papel amoroso do Pai
que abraça, do médico que cura e do pastor que encaminha. Sem isso ele perde a
dimensão primeira que é ser a expressão de Jesus que olhou, sentiu compaixão e
curou.
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