sábado, 22 de novembro de 2014

REFLETINDO A PALAVRA - “A salvação pela fé”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
Construir sobre a rocha 
Jesus, após o discurso da montanha, em que nos deu a síntese de sua doutrina, coloca como conclusão estas palavras: “Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha” (Mt 7,24). Não basta ouvir, é preciso por em prática. Quando Paulo escreve que a justificação se dá pela fé e não pelas obras da lei (Rm 3,24), não está em contradição com Jesus que diz que devemos colocar em prática. O falso judaísmo ensinava que a prática exterior da lei era já salvação. Essa polêmica deve ter sido grande entre os primeiros cristãos. Tiago responde à tentação dos primeiros cristãos de entender que Paulo e outros dizem que bastava a fé, diz que a fé sem obras é morta, insiste: mostra-me tua fé sem obras e eu te mostrarei minha fé pelas minhas obras” (Tg 2,18). O próprio Paulo ensina a vida coerente com a fé em Jesus. O texto de Jesus insiste que ouvir a palavra e por em prática é ser como o homem que constrói sobre a rocha. Não dispensa a segurança da fé, mas é uma construção que se faz com as pequenas obras do dia a dia. Jesus deixa perceber que a salvação é uma obra em que interagem a vontade de Deus e a disposição humana de agir coerentemente. Não bastam palavras: “Nem todo o que diz Senhor, Senhor entrará no Reino do Céu, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está no céus (Mt 7,21). Podemos perceber que as palavras de Jesus são sua autobiografia. Ele fala o que vive, por isso suas palavras encantavam. Ele mesmo afirma que sua vida foi um contínuo colocar em prática a vontade do Pai. Os cristãos hoje desligam a fé da prática. O cristianismo acaba sendo uma fachada. 
Consistência da fé 
A fé é a base. É uma segurança dos bens que se esperam (Hb 11,1). Ela é uma opção de vida e deve penetrar todos os segmentos da vida. Torna-se cada vez mais comum a opção por um tipo de vida que não corresponde ao conjunto dos ensinamentos de Jesus. Não podemos dizer que todas as tradições que nos são anunciadas devam ser assumidas como fé. Mas há elementos que fazem parte de uma coerência. Esses sim dão consistência à fé. A fé consistente fundamentará nosso discernimento quanto ao que devemos assumir como pratica de vida. Compete aos apóstolos saber anunciar os fundamentos, pois a partir de uma boa base de fé, os elementos secundários se alinham. Podemos dizer que temos muita coisa boa, mas nos faltam as opções fundamentais. Uma fé consistente implica numa prática coerente. Cristãos há que não alinham a fé com a vida. Torna-se cristianismo de fachada. 
Escolher a bênção 
Moisés, antes da entrada do povo na terra prometida, depois de 40 anos de deserto, fez uma síntese de todo o ensinamento. Diz que os mandamentos de Deus devem estar no coração e sempre diante dos olhos e que se deve ter o cuidado de cumprir todos os preceitos e leis propostas. A bênção será cumpri-los. A maldição será não obedecer. Os mandamento são a expressão da vontade divina. Jesus ensina o novo mandamento do amor. Viver seus ensinamentos é ter a bênção e a vida. O testemunho de uma vida coerente não só será uma construção sobre a rocha, mas também um anúncio que conduzirá por caminho seguros.

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