sexta-feira, 22 de novembro de 2024

22 de novembro - Beatos Salvador Lilli e sete companheiros

É significativo que a Beatificação 
do Padre Salvador Lilli, 
missionário franciscano da 
Custódia da Terra Santa e 
pároco de Mujuk-Deresi, 
se realize precisamente na vigília da 
Festa de São Francisco de Assis. 
No sétimo centenário da morte do Santo de Assis, em 1926, o meu Predecessor Pio XI quis sublinhar a união que liga o Seráfico São Francisco à terra de Jesus, beatificando oito franciscanos da Custódia, mortos em Damasco em 1860. Hoje, no oitavo centenário do nascimento de São Francisco, um outro seu filho, também ele empenhado pastoralmente na terra do Oriente, é elevado às honras dos altares, juntamente com sete seus paroquianos mártires. A cronologia do Beato Salvador é simples, mas rica de fatos que atestam o seu grande amor a Deus e aos irmãos; ela culmina com o martírio que vem coroar uma vida de fidelidade à vocação franciscana e missionária. Dos sete Companheiros no martírio conhecemos os nomes, as famílias e o ambiente de vida: eram humildes camponeses e fervorosos cristãos, provenientes de uma estirpe que através dos séculos conservara Integra a própria fidelidade a Deus e à Igreja, não obstante momentos difíceis e às vezes também dramáticos. Entre aquela gente humilde inseriu-se o jovem missionário com dedicação total, realizando em breve tempo quanto podia parecer impensável aos outros. Fundou três novas aldeias para reunir os núcleos familiares dispersos, com o objetivo de melhor protegê-los e instruí-los; providenciou à aquisição de um vasto terreno para dar trabalho e pão a quem sentia privação deles, e promoveu com tenacidade a instrução dos jovens. Sobretudo imprimiu um ritmo mais intenso à vida religiosa dos seus paroquianos, que se sentiam atraídos pelo seu exemplo, pela sua piedade e generosidade; os seus preferidos eram os doentes, os pobres, as crianças. Sábio conselheiro e zeloso promotor de obras sociais, era aberto a todos: católicos, ortodoxos, maometanos e a todos sabia oferecer, com o sorriso, o seu serviço; por isto era particularmente amado pelos seus fiéis, estimado e respeitado pelos outros. Depois, durante o alastrar-se da cólera, o seu apostolado iluminou-se de caridade heroica: foi ao mesmo tempo sacerdote e médico. Não temendo o contágio, passava de casa em casa para assistir moral e materialmente os doentes. Nesta circunstância escreveu à irmã, religiosa trinitária: "Sentia-me com uma tal coragem que ir para junto do doente de cólera, socorrê-lo, administrar-lhe remédios, etc., me pareciam coisas ordinárias". E indicava a clara motivação: o sacerdote cheio de fé em Deus não teme os perigos e "corre para consolar o mísero irmão que tantas vezes se encontra abandonado também pelos seus mais caros". Quando se manifestaram com violência os sinais prenunciadores da tormenta que se aproximava ameaçadora, os confrades exortaram o Padre Salvador a refugiar-se em lugares mais seguros. Os próprios habitantes da região, preocupados pela vida do seu Padre, insistiram para que ele se colocasse a salvo. A resposta do Padre Lilli foi calma e decidida: "Não posso abandonar as minhas ovelhas; prefiro morrer com elas, se for necessário"; e permaneceu no posto missionário. A 19 de Novembro de 1895, os militares entraram na casa paroquial e o comandante apresentou logo a alternativa: renegar a Cristo ou morrer. Clara e firme foi a resposta do sacerdote que teve por isto de sofrer uma primeira explosão de violência: alguns golpes de baioneta que lhe causaram o derramamento de sangue. Três dias depois, o Religioso e sete dos seus paroquianos foram levados pela tropa: caminharam duas horas; junto de uma torrente receberam ordem de parar e o coronel propôs-lhes pela última vez a escolha entre a abjuração e a morte: "Não reconheço outro senão Cristo", disse o Padre. Não menos nobre foi a resposta dos outros Mártires: "Matai-nos, mas não renegaremos a nossa religião". Em primeiro lugar foi morto o Beato Salvador, trespassado pelas baionetas dos soldados; logo depois, os outros sete sofreram a mesma sorte. Este missionário franciscano e os seus sete fiéis falam com incisiva eloquência ao mundo de hoje: eles são para todos nós salutar apelo à substância do cristianismo. Quando as circunstâncias da vida nos colocam diante das opções fundamentais, entre valores terrenos e valores eternos, os oito Beatos Mártires ensinam-nos com se vive o Evangelho, também nas contingências mais difíceis. O reconhecimento de Jesus Cristo como Mestre e Redentor implica a plena aceitação de todas as consequências que na vida derivam deste ato de fé. Os Mártires, elevados hoje às honras dos altares, hão de ser honrados com a imitação do seu exemplo de fortaleza e de amor a Cristo. O testemunho deles e a graça que os assistiu são para nós motivo de coragem e de esperança: asseguram-nos que é possível, diante das mais árduas dificuldades, seguir a lei de Deus e superar os obstáculos encontrados no vivê-la e pô-la em prática. Os nossos Beatos Mártires viveram em primeira pessoa as palavras dirigidas por Jesus aos seus discípulos: "Todo aquele que se declarar por Mim diante dos homens, também Me declararei por ele diante do Meu Pai que está nos Céus" (Mt 10, 32); o Beato Salvador e os seus companheiros sofreram a morte para dar o seu heroico testemunho a Cristo perante o mundo: o Senhor declarou-se por eles diante do Pai com a vida eterna. 
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 03 de outubro de 1982 
Salvador Lilli nasceu na Capadócia, na província de Áquila, foi o sexto e último filho de uma família de boa prática religiosa e boa situação econômica, devido à atividade comercial do pai. O ambiente familiar profundamente cristão fez germinar e crescer no menino Salvador sentimentos de fé e piedade, e ao mesmo tempo as possibilidades econômicas permitiram-lhe uma preparação e instrução escolar fora do comum. Aos 18 anos, Salvador apresentou-se ao guardião do convento de São Francisco da Ripa, em Roma, pedindo para ser admitido na ordem dos frades menores. Em 1863 resolveu ir como missionário para a Terra Santa, onde desde os tempos de São Francisco os franciscanos são encarregados de cuidar de santuários e assistir a peregrinos. Continuou na Palestina os estudos de filosofia e teologia, primeiro em Belém e a seguir em Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote em 1879. No ano seguinte foi à Turquia; como conhecia diversas línguas orientais, a árabe, a turca e a armênia, desenvolveu um frutuoso apostolado entre os cristãos dessas regiões, sobretudo em Marasc. Em 1885 voltou à Itália para visitar a família e os confrades, e logo no ano seguinte regressou a Marasc, onde, como superior da missão no quadriênio de 1890-1894 realizou importantes obras de caridade e de assistência social em favor dos fiéis. Ajudado por outros confrades, durante 15 anos a sua ação apostólica não se limitou a atividades religiosas, mas também fomentou a instrução e a promoção social dos pobres. Graças aos seus extraordinários dotes de inteligência e de coração e ao perfeito conhecimento da língua turca, tanto falada como literária, depressa e sem dificuldade granjeou o afeto dos cristãos e a estima e o respeito dos não cristãos, inclusivamente das autoridades, devido sobretudo aos empreendimentos de ordem social, como o de ter adquirido uma grande propriedade e a ter dotado de alfaias agrícolas e ter aberto um dispensário. Em 1885 os mulçumanos desencadearam uma perseguição armada, sistemática e feroz contra a minoria armênia da região. Frei Salvador, que havia dezesseis meses era pároco, além de superior da fraternidade, recusou fazer-se muçulmano. Ferido numa perna, e depois feito prisioneiro com dez dos seus paroquianos, foi assediado pelos maometanos, com subornos e com ameaças, no intuito de o fazerem apostatar. Mas manteve-se sempre firme e inquebrantável; e apesar da ferida da perna, que provocava grande perda de sangue, ainda confortava e animava os outros, dizendo-lhes: “Meus filhos, sede fortes na fé, não vos façais muçulmanos. O sofrimento passa depressa, e no céu está à nossa espera Jesus com todos os seus santos. Coragem! Depois do martírio espera-nos a coroa de glória no paraíso”. No dia 22 de novembro de 1895, junto com sete cristãos armênios seus paroquianos, foi imolado a golpes de baioneta. No dia 3 de outubro de 1982, o papa João Paulo II proclamava Beatos Salvador Lilli e os sete cristãos seus companheiros no martírio pela fé em Cristo.

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