quarta-feira, 4 de setembro de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “O projeto de Jesus funciona”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Da decepção à realização
 
Depois da morte de Jesus os discípulos ficaram apavorados e decepcionados. Os inimigos comemoram e estava abafado o movimento como haviam sido abafados outros movimentos (At 5,34ss). Os dois apóstolos que iam a Emaus manifestaram a decepção. À pergunta de Jesus sobre o que estavam falando, respondem narrando os acontecimentos e mostram a desilusão: “Nós esperávamos que fosse Ele quem iria redimir Israel; mas são três dias que todas essas coisas aconteceram!” Relatam a seguir as notícias que trouxeram as mulheres e os discípulos que foram ao túmulo e disseram que Ele está vivo. “Mas a Ele, não O viram” (At 24,13-35). Após as aparições o moral é outro. A felicidade é tanta que não acreditam. Jesus se mostra “Sou Eu mesmo. Não temais!”. Há uma certeza: Ele está vivo e é o mesmo que foi crucificado, pois traz a marca dos cravos. Recebem, já no dia da Ressurreição, a força do Espírito Santo como nos conta São João (Jo 20,20). A fé em Jesus não é um conjunto de ideias e práticas a serem cumpridas. É a adesão e a união a uma Pessoa concreta: Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo. Não se trata de uma religião, mas de uma fé que promove uma vida. A comunidade que crê, se organiza mostrando essa vida. Só devocionismo não satisfaz. A devoção que não tem em si a fé, não resolve. A realização torna-se concreta nos apóstolos e nos primeiros que, com a força do Espírito anunciam que Ele está vivo e é o Senhor. O projeto é a remissão dos pecados que envolve o mundo. O perdão que é oferecido põe as pessoas e o mundo no sentido de Deus. A fé dos discípulos de todos os tempos não difere da fé primeira. Essa é a Tradição. 
Comunidade como resposta 
Uma das realizações que mais manifesta o resultado da Ressurreição e o sentido da presença de Cristo em seu meio é a comunidade. Nos Atos dos Apóstolos temos o desenho da Ressurreição feito pela vida da comunidade: “Os que se haviam convertido eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). O texto que segue mostra como colocavam os bens em comum, como viviam e rezavam. Jesus, no deserto venceu a tentações (Mt 4,1-11), Se compararmos a vida da comunidade com esse momento, veremos que o cotidiano de sua vida é o modo de vencer a tentação: pondo os bens em comum, vencem a tentação da ganância de bens materiais orientados pela Palavra dos Apóstolos; a fraternidade e Eucaristia (fração do pão) são a resposta ao orgulho e a sede de poder; as orações da comunidade destrói a busca do endeusamento do prazer. A certeza maior da verdade da Ressurreição se manifesta na vitória com Cristo na vida da comunidade. Vence o mal pelo bem (Rm 12,21). A vida da comunidade, em sua prática concreta, vence a força do mal. 
Esperança que não falha 
Podemos ficar um pouco decepcionados com os resultados que não vemos. Já são mais 2000 anos que anunciamos a Ressurreição e o mundo parece só piorar. A Igreja sempre em dificuldades com divisão e a infidelidade ao Evangelho. A descrença invade a vida do povo. Não podemos perder a esperança, pois fomos renovados pela festa pascal. Há muitos elementos de justiça no mundo que nasceram na Igreja. Temos no mundo atual uma luta pela ecologia. Lembremos que os meninos sempre confessavam que tinham matado passarinho. De onde vinha essa consciência? Mesmo que a Igreja tenha provocado muitos problemas, muitas soluções nasceram nela. Quem lutou por um mundo novo o fez por crer na Ressurreição, mesmo inconscientemente.
ARTIGO PUBLICADO EM ABRIL DE 2014

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