sábado, 29 de julho de 2023

REFLETINDO A PALAVRA - “Uma só coisa é necessária”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Acolhimento dá vida
 
A liturgia deste domingo tem sabor oriental na prática do acolhimento do hóspede. A abertura das casas, nos dias de hoje, é risco de vida. Mas não podemos sacrificar o evangelho por causa dos males da sociedade. Se fizermos o contrário venceremos toda a violência. Lemos o acolhimento de Abraão aos três personagens e o acolhimento das duas irmãs a Jesus que passa por sua casa. O verbo acolher refere-se também ao acolhimento da palavra divina (Lc 10.39). A hospitalidade está unida à abertura a Deus. Abraão, de pé, acolhe com prontidão. Maria assentada, escuta. É a atitude do discípulo. Acolher as pessoas é acolher a Deus. Jesus disse: “Quem acolhe um destas crianças por causa de meu nome, é a mim que acolhe (Mc 9,37). A hospitalidade na Escritura e, na vida da comunidade cristã, tem sentido religioso. Na Carta aos Hebreus está escrito: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, sem saberem, hospedaram anjos” (Hb 13,2). Como a caridade, o acolhimento é completo, como faz Abraão com a abundância e a presteza. Toda hospitalidade é um sacramento do Deus que visitou o seu povo na pessoa de Jesus. Pela hospitalidade somos hospedados pela Trindade. O coração bom é sempre um bom lugar de nos hospedarmos. Jesus diz: “vinde a mim... pois sou manso e humilde de coração” (Mt 11,28-29). Para hospedar é preciso ter a pureza da mente e das atitudes. 
Uma única visão da vida 
Jesus era aberto para encontrar as pessoas que o acolhessem e acolhessem sua palavra. Ele é a Palavra que pede acolhimento. Há dois modos de estar com Jesus: na atividade e na contemplação. São as duas atitudes apresentadas por Marta e Maria. Elas representam o acolhimento. Marta se afana no trabalho de acolher e Maria, assentada, acolhe a palavra do hóspede Jesus. Marta cobra de Jesus que sua irmã a ajude. Jesus responde que ela está muito agitada e que Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada (Lc 40-42). Jesus não quer dizer que Marta está errada. Está como a dizer: Vamos todos ficar juntos, ouvindo a Palavra (conversando) e depois nós vamos preparar a refeição. Esta situação foi indicada como os dois modelos da vida cristã: contemplação e ação. Não se pensa mais assim, mas se tem Maria como modelo dos que contemplam Deus na ação e trazem o mundo no coração na contemplação, isto é, na espiritualidade. Sem esta união “mariana” nem a contemplação, nem a ação serão completas. 
Completando em nossa carne 
Paulo hospedou Jesus em sua vida e participou dos seus sofrimentos mas também do segredo de sua missão que é a abertura da fé aos pagãos dos quais se faz servidor. Paulo nos dá uma visão que completa o que falamos na evangelização: A participação dos sofrimentos de Cristo. Sem isso se torna incompreensível o sofrimento na vida do justo. Quanto mais unidos a Cristo, mais participamos de sua entrega ao Pai e sofremos as mesmas dores que padeceu. Sem sofrimento, a redenção torna-se uma ideologia. O sofrimento nos torna perfeitos em Cristo e nos faz unidos a todos os homens e mulheres da terra. Transmitimos a Palavra de Deus em plenitude. Hospedar o sofrimento como Palavra de Deus é redenção da humanidade. “Participar da missa é unir-se ao Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo” (Pe.Gregório Lutz). É hospedar as dores do mundo no coração, com Ele o fez. 
Leituras: Gênesis 18,1-10ª; Sl 14,2-5;
Colossenses 1,24-28; Lucas 10,38-42. 
1. Neste domingo refletimos sobre o tema da hospitalidade na fé cristã, sob o exemplo de Abraão que acolhe os três homens e Jesus que se hospeda na casa de Marta e Maria. Abraão acolhe com prontidão. Maria escuta assentada, como discípula. Acolher as pessoas é acolher a Deus. Como a caridade, o acolhimento deve ser completo. A hospitalidade é sacramento do Deus que visitou seu povo em Jesus. O coração bom, como o de Jesus, é sempre um bom lugar para nos hospedarmos. 
2. Jesus era aberto para encontrar as pessoas que o acolhessem e acolhessem sua palavra. Há dois modos de viver a fé cristã: contemplação e atividade pastoral, tendo Marta e Maria como modelo. Agora se apresenta Maria que une as duas atividades. Contemplar Deus e cumprir as atividades da vida e pastorais são uma única realidade: Contemplar Deus na atividade e tornar plena a atividade com a contemplação. É o modelo mariano. 
3. Paulo acolheu Jesus e participou de seus sofrimentos e sua missão aos pagãos. Completa em nós a evangelização com a visão do sofrimento que é participação dos sofrimentos de Cristo em seu corpo que é a Igreja. Sem sofrimento a redenção é ideologia. Hospedar o sofrimento como Palavra de Deus é redenção da humanidade. Participar da missa é unir-se a Cristo que se oferece ao Pai pelo mundo. 
Gasolina no motor 
A gente gosta de rezar, mas reza com dificuldade. Gosta de fazer o bem, mas tropeça na dificuldade de juntar o tempo de oração ao tempo de trabalho, do cuidado das pessoas e das realidades humanas. Jesus fora se hospedar na casa de Lázaro e suas irmãs, seus amigos. Maria conversava com Ele e Marta cuidava da refeição. Marta era estressada. Maria acomodada. Marta reclama. Jesus, então, ensina que, quando estamos com Ele, vamos aproveitar ao máximo. Quando estamos sem Ele, aí sim vamos consumir com as atividades necessárias para a vida. Nisso quer dizer que devemos dar tempo a tudo. É privilegiar o momento que vivemos. Quem reza de verdade, não está perdendo tempo, pois produz muito mais. Quem trabalha de verdade não perde o valor espiritual. Tem gente que faz de tudo e tanta coisa que não tem tempo nem para si, nem para Deus. Quando falta tempo para Deus não vamos achar tempo de nos preocuparmos conosco e com os outros. Oração é também um serviço para o Reino de Deus. Oração é como o posto de gasolina para o carro. Sem ela o motor pode estar ótimo, mas falta o combustível. O homem que reza é o mais útil ao mundo. Mas quem reza não pode esquecer que o mundo existe e se responsabilizar por Ele. É preciso transformar a vida em oração e a oração em vida. Temos também a oração do sofrimento para nos tornarmos perfeitos na união a Cristo. Paulo sofre pela Igreja. Quem vive com Jesus sempre vai sofrer com ele. 
Homilia do 16º Domingo Tempo Comum (18.07.2010)

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