Evangelho segundo São Mateus 13,18-23.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Escutai o que significa a parábola do semeador:
Quando um homem ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho.
Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria,
mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo.
Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto.
E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».
Tradução litúrgica da Bíblia
Bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 101
Cem, sessenta e trinta por um
A sementeira foi feita pelos apóstolos e pelos profetas, mas é o próprio Senhor que semeia. Era o próprio Senhor que estava presente neles, pois foi o próprio Senhor que fez a colheita. Porque, sem Ele, eles não são nada, enquanto Ele, sem eles, permanece na sua perfeição. Com efeito, Ele disse-lhes: «Sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). Semeando, pois, entre as nações, que disse Cristo? «Saiu o semeador a semear» (Mt 13,3). Noutro texto, os trabalhadores foram enviados a colher; neste, o semeador sai a semear, e não se queixa do trabalho. Com efeito, que importa que o grão de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os espinhos? Se ele desanimasse com estes lugares ingratos, não avançaria até à boa terra!
É de nós que Ele está a falar: seremos esse caminho, essas pedras, esses espinhos? Queremos ser a boa terra? Dispomos o nosso coração para produzir trinta vezes mais, sessenta vezes mais, cem vezes, mil vezes mais? Trinta vezes, mil vezes, sempre trigo e apenas trigo. Não sejamos o caminho onde a semente é pisada por quem passa e onde o inimigo a apanha, como os pássaros; nem as pedras onde uma terra pouco profunda faz germinar rapidamente um grão que não consegue resistir ao calor do sol; nunca mais os espinhos, as ambições deste mundo, o hábito de fazer o mal. Com efeito, haverá coisa pior que envidar esforços por uma vida que impede de chegar à Vida? Coisa mais infeliz que escolher a vida para perder a Vida? Coisa mais triste que temer a morte para sucumbir ao poder da morte? Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a semente, aguentemos até à colheita, aspiremos a ser arrecadados nos celeiros.
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