Quando se fala em santo, já se tem a
idéia fixa naqueles que conhecemos pelas igrejas, pela nossa devoção e pelas
histórias que sabemos. Santos eram os antigos. Dizemos: “Quem pode ser chamado
de santo nesse mundo atual, tão pervertido?” Cada época diz que vivemos tempos
difíceis. Se todos são difíceis é porque são normais. Não quero falar dos
santos de carteirinha, mas dos santos que se fazem no dia a dia, mesmo fora dos
quadros de nossas “Igrejas”. O santo do
altar foi santo da rua, da família, do trabalho, da vida do povo. Depois é que
viram que era. É certo que no fundo há uma opção que não dispensa nossos
defeitos e pecados. Santo não é ser impecável. Defeitos não prejudicam. Deus
não conta quantas batalhas ganhamos, mas quantas vezes levantamos depois das
derrotas. Aceitar a própria realidade já é uma santidade. Então, o santo que
buscamos está na rua. Papa Francisco diz sobre essa santidade que se constrói
no cotidiano. Desses santos temos muitos. Quanto pai de família, mãe, operário,
gente simples e até gente mais preparada que vive intensamente o amor pelos
outros, metidos no trabalho sofrido para sustentar a família e ainda tem tempo
de ser feliz, de participar e se doar. Não desprezamos os modelos antigos. Pelo
contrário, veneramos. Eles eram gente do povo. Depois que morreram é que as
pessoas os descobriram. Com o passar do tempo sua vida resplandeceu em Deus.
Eles se consideravam frágeis e pecadores e eram. Por que? Porque estavam sempre
perto de Deus. Perto da luz, vemos melhor nossa realidade.
1961.Fascínio
que surpreende
O
que faz uma pessoa buscar esse modo de vida que a faz diferente, sendo
semelhante a todos? Nem sempre sabem explicar, mas é o fascínio pelo bem, pelas
coisas boas, pela vida, pelo bem dos outros, pela Palavra e no fundo, fascínio
por Deus que os surpreende de modo silencioso. O que faz uma mãe se dedicar
tanto aos filhos, o pai ao trabalho, o professor aos alunos, o povo em geral
pela vida correta? Nada justifica fazer o bem sem ter essa base que é o Bem
Superior, o que chamamos de Deus, de Jesus, de Pai. Mesmo que não tenham esses
nomes. O que vale é o que está no coração. E Deus conhece os corações e não põe
regras inúteis. Jesus mesmo não impôs nada. Basta seguir seu caminho.
Mandamentos? Ensinou o seu: “Que vos ameis uns aos outros”. Nisso resume tudo. Nós
é que fazemos tantas regras, coisas exteriores sem o interior do coração.
Cuidado com o que se inventa. Há coisas que acabam ficando mais importantes que
o Evangelho
1962.
Vida que se reparte.
A vida tão normal das pessoas tem
algo de diferente que as marca no mundo: saem de si para viverem para os
outros. O egoísmo é o maior ídolo que temos. E tem uma força muito grande de
criar uma religião inútil e vazia. O fascínio por Deus está intimamente ligado
ao fascínio pelo outro, que chamamos irmão. Quem descobre o Deus de Jesus,
descobre o querido de Deus. Quem se dedica aos abandonados, está se dedicando a
Deus, mesmo que nem fale seu nome. Aliás, o nome de Deus é impronunciável, pois
só entende o amor. A religião que não se dedica ao próximo, como natureza
pastoral direta e permanente, é obra do mal. Nega o Evangelho. Vemos o texto do
juízo final no evangelho de Mateus (Mt 25,31-46). O inquérito vai ser feito sobre o que fizemos ao
próximo. Essas questões se referem aos grandes problemas do mundo: fome, sede,
doença, migração, prisão e vestimenta. Esse é o modo necessário para a
santidade e salvação. Quanto mais santos formos, melhor será o mundo.
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