Evangelho
segundo S. Lucas 17,11-19.
Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava
entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação, vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a
distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no
caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto por terra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um
samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde
estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Vida de São Francisco de Assis,
chamada «Colectânea de Perugia» (c. 1311) §43
«Dar glória a Deus»
Dois anos antes da sua morte, o
bem-aventurado Francisco estava já muito doente, sofrendo especialmente
dos olhos. [...] Esteve mais de cinquenta dias sem poder suportar a luz do sol
durante o dia, nem a claridade do lume durante a noite. Permanecia na
obscuridade dentro de casa, na sua cela. [...] Certa noite, refletindo acerca
das tribulações que sofria, teve pena de si mesmo e disse: «Senhor, socorre-me
nas minhas enfermidades, para que eu tenha força para suportá-las com
paciência!» E, de repente, ouviu em espírito uma voz: «Diz-me, irmão: se, como
compensação dos teus sofrimentos e tribulações, te dessem um tesouro imenso e
precioso, [...] não te alegrarias? [...] Compraz-te e vive na alegria, no meio
das tuas enfermidades e tribulações: a partir de agora, vive em paz como se
participasses já do meu Reino».
No dia seguinte, disse aos seus companheiros [...]: «Deus deu-me uma tal graça
e bênção que, na sua misericórdia, Se dignou assegurar-me, a mim, seu indigno
servo que ainda vivo aqui em baixo, que participarei do seu Reino. Assim, para
sua glória, para minha consolação e edificação do próximo, quero compor um novo
louvor ao Senhor pelas suas criaturas. Todos os dias estas atendem às nossas
necessidades, sem elas não poderíamos viver, e por elas o género humano ofende
muito o Criador. E todos os dias nós ignoramos tão grande bem, não louvando
como deveríamos o Criador e dispensador de todos este dons». [...]
A esse louvor ao Senhor, que começa por: «Altíssimo, omnipotente e bom Senhor»,
chamou-lhe Cântico do irmão Sol. Com efeito, essa é a mais bela das criaturas,
que podemos, mais que qualquer outra, comparar a Deus. E ele dizia: «Ao nascer
do Sol, todo o homem deveria louvar a Deus por ter criado esse astro que
durante o dia dá aos olhos a sua luz; à tardinha, quando cai a noite, todo o
homem deveria louvar a Deus por esta outra criatura, o nosso irmão fogo, que,
nas trevas, permite que os nossos olhos vejam claro. Somos todos como
cegos, e é por estas duas criaturas que Deus nos dá a luz. Por isso, por estas
criaturas e pelas outras que nos servem diariamente, devemos louvar muito
particularmente o seu glorioso Criador».
Ele próprio o fazia de todo o coração, estivesse doente ou são, e incitava os
outros a cantarem a glória do Senhor. Já doente, entoava muitas vezes este
cântico e pedia aos seus companheiros que o prosseguissem; esquecia, deste
modo, considerando a glória do Senhor, a violência das suas dores e dos seus
males. Procedeu assim até ao dia da sua morte.
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