A
liturgia da Palavra orienta a vida cristã no seguimento de Jesus e nos faz
conhecer o que implica essa atitude. Jesus fala de seu caminho a Jerusalém para
a Paixão e explica como se deve seguí-lo. O texto vem logo após a profissão de
fé de Pedro, fundamento sobre o qual a Igreja é construída. Essa fé não é
somente intelectual ou espiritual, mas exige caminhar com Jesus. Jesus anuncia
que deve ir a Jerusalém, sofrer, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16,21). Quem professa a fé em Jesus, assume
seu caminho de morte que garante a Ressurreição. Notemos que, a seguir a este
texto, temos a narrativa da Transfiguração de Jesus
(Mt 17,1-8). Para Ele, o caminho da paixão e da cruz conduz à Ressurreição,
prefigurada pela Transfiguração. Para o discípulo, aquele que aceitaR Jesus,
renunciar a si mesmo, tomar a cruz e saber perder a vida e o mundo, toma o
caminho leva à ressurreição e à transfiguração. A fé exige uma conduta de vida.
Não significa anular a vida, mas torná-la plena a partir da profissão de fé e
identificação com a vida de Jesus. Isso acontecerá quando o discípulo se deixar
seduzir por Jesus. Um dos textos mais belos da Bíblia é este: “Seduziste-me
Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). É o encantamento pela pessoa e
proposta de Jesus. Como o profeta, não daremos conta de frear esse entusiasmo,
que raia à loucura. Rezamos no salmo: “Desde a aurora, ansioso vos busco! A
minha alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja como terra sedenta e
sem água” (Sl 62,2). Essa invasão que Deus
faz em nós, deixa-nos como terra rachada pela seca que implora a água em sua
sede. Quando dizemos “tomar a cruz”, pensamos no sofrimento. Pensemos, antes,
na disposição de saciar a sede que temos de Deus, seguindo Jesus para as fontes
de águas correntes. A força de nosso coração está em comprometermo-nos com Ele
e com sua Palavra.
Fogo
ardente
Certa
vez, os familiares de Jesus quiseram detê-lo. Pensaram que tivesse
enlouquecido, pois não tinha tempo para comer (Mc
3,2-21). A sedução que o Pai exercia nEle, levava-o a dar-se todo até à
morte e morte de cruz (Fl 2,8). Vemos
também o profeta Jeremias, desanimado de sofrer pela Palavra. Ela se tornara para ele fonte de vergonha e
gozação, o dia inteiro. Por isso decidiu: “Não quero mais lembrar-me, disse,
nem falar mais em nome dele” (Jr 20,8-9). Infelizmente algo foi mais forte:
“Mas, em meu coração havia um fogo ardente, fechado em meus ossos; eu me
esforçava para contê-lo, mas não podia” (Jr 20,9).
Jesus também sentia esse desejo interior: “Há um batismo em que hei de ser
batizado; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12,50). Nossa fé só é frutuosa quando nos
deixarmos seduzir e devorar por esse fogo. Deus não o nega a ninguém, aliás, o oferece.
Culto
espiritual
Culto
a Deus, não se reduz a ritos exteriores, mas está em nosso interior, impregnado
nossos corpos. Por isso Paulo nos convida: “Eu vos exorto a vos oferecerdes em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual. Não
vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de
pensar e de julgar” (Rom 12,1-2). Somos
chamados a nos conformar a Jesus Cristo em disposição interior de caminhar para
a realização do desígnio do Pai, com a certeza de que não será confundido (Sl 71,1). O sacrifício de Cristo culmina na
cruz, mas ele é um sacrifício vivo desde sua encarnação. Ele é um culto
espiritual em sua oferta: “Eis que venho fazer vossa vontade” (Hb 10,7).
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