Papa Francisco, em sua exortação Alegria do Evangelho nº 24, criou a
palavra “primeireiam”. Este termo significa a capacidade de tomar iniciativas.
Podemos dizer: os discípulos procuram chegar primeiro. O termo é novo, mas a realidade
é velha, mais ainda, Divina, pois Deus sempre chega primeiro, como nos explica
S. João: “Nisto consiste o amor: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele
quem os amou e enviou seu Filho” (1Jo 4,10). Paulo diz na
carta aos Romanos: “Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo
ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm
5,8).
Em nossa formação espiritual insistiu-se em buscar Deus, como se tudo
dependesse de nós. Sabemos que já o desejo de buscar Deus, já é provocado por Ele.
A comunidade que sente esse a amor de Deus que chegou primeiro, “sabe tomar
iniciativas sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e convidar os
excluídos” (EG 24). Porque recebeu a misericórdia
de Deus, a comunidade quer oferecer esta misericórdia. Nós vivemos uma
espiritualidade egoísta que pensa só em receber de Deus e não pensa em sair de
si. A moleza dos bons aumenta a desgraça dos fracos. Se cada cristão levasse a
outro esse amor, mesmo que fosse um só, o mundo já teria mudado. A fé tem que
sair da sacristia e do grupinho dos ineficientes “piedosos” e envolver-se com
as situações de miséria e sofrimento. Referindo-se a seu gesto de lavar os pés
dos apóstolos Jesus manda que O imitemos suas atitudes: “Sereis felizes se o
puserdes em prática” (Jo 13,17). Tomar
iniciativas é envolver-se na vida diária com obras e gestos. Cristo envolveu-se
totalmente e tocou a vida das pessoas com sua humildade. Envolver-se para
servir, não para imiscuir-se.
1488. Acompanhar pelo caminho
Envolver-se supõe acompanhar. Papa
Francisco continua: “Em seguida, a comunidade evangelizado dispõe-se a ‘acompanhar’.
Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados
que sejam”. Todos os fiéis devem também envolver-se e tocar o Cristo na carne
sofrida do povo. Por isso é preciso estar presente na caminhada. É necessário
paciência e suportar, como Jesus disse no evangelho: Deixar crescer o joio no
meio do trigo. Trata-se de entregar a vida. Foi este o caminho de tantos que
acreditaram na força do Evangelho. Os frutos virão. Quem sabe não vamos ver nem
a planta crescer. Outros colherão onde plantamos. Muitos foram mártires porque
estiveram presentes. Durante a guerra civil da Angola, muitos missionários
fugiram. Os que não quiseram fugir e ficaram acompanhando o povo em seu
sofrimento, são muito respeitados e amados pelo povo.
1491. Cheiro de ovelha
O
envolvimento com o povo em sua situação nos dará, como diz o Papa, o cheiro das
ovelhas. Nem sempre são perfumadas. Este vai além. Vai exigir muito
desprendimento para passar a viver como o povo vive, falar sua língua, viver
seus costumes, comer como comem, alegrar-se como se alegram. O povo é festivo e
feliz. Quanto mais nos aproximamos, mais compreendem nossa missão. Esse modo de
evangelizar é o que dá consistência à liturgia celebrada na festa do povo. Quando
não entendemos o que o padre diz na homilia, é porque não fala nossa língua,
isto é, não vive conosco. Estando acostumados com sua presença, entendemos o
que diz no altar.
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