Era uma festa sem igual: Ele se deixou festejar como rei. Quando fazia milagres mandava que se calassem, não comentassem o fato. Fugiu na multiplicação dos pães para não ser proclamado rei. E agora, Ele mesmo manda que busquem o jumentinho. Os discípulos colocam seus mantos e, Ele, solenemente se encaminha e vai à cidade. É a típica entrada triunfal de um rei que é ungido e assume o poder. O povo grita: “Bendito o que vem em nome do Senhor, glória a Deus no mais alto dos céus”. Ele é aclamado como rei. Dentro do quadro político era um fato extremamente forte. Os fariseus dizem: “Mestre, repreende teus discípulos!”. Ele responde: “Se eles se calarem, as pedras gritarão”. A realeza de Jesus não éde um fato político sujeito às mudanças da história. É um Senhor que domina todos os séculos. Mesmo que todo o mundo se esquecesse dele, as pedras gritariam sua soberania e a necessidade que todos temos dele. “Os céus narram a gloria de Deus e o firmamento a obra de suas mãos”.
Um rei diferente.
A entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém contrasta com os fatos que poucos dias depois culminarão com sua paixão e morte. Podemos dizer que aqueles mesmo que o aplaudiram, o condenariam. Mas isso não pode ser verdade, pois não foi o povinho cheio de esperanças que gritou condenando. Podemos encontrar este povo, sim, no dia de Pentecostes acolhendo a vinda do Espírito. O Rei é glorioso não pelas glórias que os chefes se dão, como vemos em nossas autoridades maiores. Sua glória é a cruz, como lemos no evangelho de São João: “Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”(Jo 12,32). Ela é o trono do rei. Tem até coroa, mas de espinhos. Paulo recolhe o hino que encontramos na carta aos Filipenses (Fl 2,6-11). Nele se lê que Jesus, sendo Deus, humilhou-se assumindo a condição de escravo, fazendo-se obediente até à monte e morte de Cruz. Por este serviço, Deus o exaltou e lhe deu a soberania. A diferença está na fundamental atitude de Jesus de abaixar-se e fazer-se servo e sofrer como nos narra Isaias. Podemos contemplar este Servo na sua Paixão. A liturgia do Domingos de Ramos une dois elementos: primeiro apresenta a glória de Cristo e depois a Paixão. A finalidade desta união é apresentar o sentido de sua morte. Humilhar-se ao extremo para que conheçam o serviço que Deus presta à humanidade na pessoa de seu Filho, o Servo Sofredor. Por esta sua humilhação, que assume em nosso lugar, dá-nos o dom de participar da sua glória.
E aquele ramo bento?
Na procissão de ramos, costumamos levar para casa um ramo bento. Ali fica espetado em algum crucifixo, ou em cima de guarda-roupas. No primeiro temporal, alguns o jogam ao fogo. É uma piedosa tradição. Que sentido podemos tomar deste gesto? Gostamos das lembranças daquilo que nos é caro. Esta lembrança é o comprometimento com Jesus na sua cruz e na sua soberania. No Apocalipse, seremos marcados por uma cruz (tau = letra t em hebraico) como pertencentes ao reino de Cristo. Somos da sua turma. Temos o compromisso de continuar aquela bela missão de Jesus através de nosso entusiasmo por sua pessoa anunciando a todos quanto é bom conhecer o Senhor, mesmo que tenhamos que passar pela cruz como Ele passou.
Leitura: Evangelho da procissão:
Lucas 19,28-40; Isaias 50,4-7;
Filipenses 2,6-11; Lc 23,1-40
1. A celebração de hoje tem duas partes: a procissão festiva da entrada de Jesus em Jerusalém acolhido pelo povo e criticado pelos fariseus. A outra parte já é mais séria onde entramos em clima mais voltado para a Paixão de Cristo que o conduzirá à glória de sua realeza: rei do amor e da entrega ao extremo pelos seus. Sua realeza, aclamada pelo povo e criticada pelos chefes do povo, não acabará ali, não será sufocada, mas explodirá pelo mundo.
2. Jesus é rei. Ele é Senhor. A cruz é o trono do rei. Ele é rei diferente. É rei do amor que se faz escravo e obediente até à morte de cruz para manifestar o amor e atrair ao amor. Pelo dom da humildade que o leva à humilhação total, assume nosso lugar e dá-nos o dom de participar de sua glória e de sua vitória.
3. Levamos o ramo bento para casa para lembrar de nosso compromisso. Somos de sua turma, vestimos sua camisa. Somos marcados com seu sinal, a cruz (o tau, como mostra o Apocalipse). Estamos assim assumindo o compromisso de continuar levando pelo mundo sua presença e seu reino de amor, justiça e paz.
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