REFLETINDO A PALAVRA -

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE

Perdoar! Esta palavra perdão que atravessa todo o evangelho, tem sido a pregação constante e a condição de ser perdoado. No Pai-Nosso: “perdoai nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos ofendeu”. A revelação de Jesus Cristo, que acontece na sua Encarnação, indica que sua vinda é para o perdão e a salvação. Lemos no evangelho de Mateus 1,21 que o nome do Menino será Jesus, pois salvará o seu povo dos seus pecados. O próprio nome indica a missão: Deus salva, Deus perdoa! Por isso, o que Deus propõe para nossa salvação, é que também cada um de nós tenha a mesma atitude: perdoe e salve. 

O perdão não é tanto um lavar uma culpa, mas dar uma vida, criar uma atitude permanente de reconciliação. Este é o dom fundamental que Jesus nos dá com o Espírito no dia da Ressurreição (Jo 20,22-23). Lemos no evangelho de hoje que Pedro pergunta: “quantas vezes devo perdoar meu irmão, até sete vezes?” E Jesus responde: “Não vos digo sete vezes, mas setenta vezes sete” (Mt 18,21-22), isto é, sempre, pois Deus perdoa sempre. A parábola de Jesus faz uma brutal comparação: ume governador de província, que devia 10.000 talentos (174 toneladas de ouro), foi perdoado. Mas não perdoa o colega que lhe deve 100 denários (30 gramas de ouro). Jesus diz que nós, que somos perdoados por Deus de modo absurdo, não somos capazes de perdoar um nada. Por isso o Pai-Nosso vai ensinar e dar a medida do perdão de Deus: perdoa como nós perdoamos. Nós damos para Deus a medida de como queremos ser perdoados. Se não perdoamos, não somos perdoados por Deus? 

O Eclesiástico (28,1-7) explica até onde pode chegar o resultado negativo de nossas iras, vinganças e faltas de compaixão: Deus não ouve nossa oração: “Perdoa teu próximo, pois quando rezares, teus pecados serão perdoados” (Eclo 28,2). Às vezes reclamamos que Deus não escuta nossas orações. Mas não será este o motivo? Pensando na fragilidade de nossa vida, recordando que morreremos um dia e todas estas nossas vaidades e vontades vão terminar, vale a pena ficar insistindo em não perdoar? O que justifica o perdão é a aliança com Deus: “Pensa na aliança do Altíssimo e não leves em conta a falta alheia” (Eclo 28,9) Um dia uma pessoa citou-me uma frase da Bíblia: “quem pensa mal do outro surra a própria alma”. Não encontrei, mas há um texto que diz: “O que pecar contra mim fará mal à sua própria alma” (Prov 8,36). E ainda: “O homem bondoso faz bem à sua própria alma; mas o cruel faz mal a si mesmo” (Prov 11,17). Indicando o caminho da vida pensemos na segunda leitura que proclama: “Nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum morre para si mesmo. Se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos” (Rm 14,7). 

Sendo o mês da Bíblia, guiemos nossa vida pela Palavra de Deus e não somente pelos nossos sentimentos. (Leituras: Eclesiástico27,33-28,9; Romanos 14,7-9; Mateus 18,21-35) 

Homilia do 24º Domingo do Tempo Comum 

Em setembro de 2002

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