sábado, 5 de março de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Deus amou muito o mundo”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Deu seu Filho para salvar
            A festa da Exaltação da Santa Cruz teve origem onde ela foi plantada. S. Helena, mãe do imperador Constantino, construiu, em Jerusalém, uma basílica grandiosa. Ela tinha 4 partes: a cúpula sobre o túmulo de Jesus, chamada Anástasis (Ressurreição), o Calvário, o Matyrion (lugar das celebrações) e um adro. Eram 200 metros. Uma tradição conta que ali, em uma gruta, foi milagrosamente encontrada a cruz de Jesus. A festa tem origem no ano 335, na Dedicação da Basílica da Ressurreição, mais tarde chamada, pelos cruzados, de Santo Sepulcro. Há uma íntima ligação entre os mistérios da Morte e Ressurreição de Jesus. A festa é colocada 40 dias depois da festa da Transfiguração. Na atual celebração, lemos o texto que narra o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus lhe diz que é preciso nascer do Alto (Jo 3, ), do lugar de onde veio para se encarnar, ser elevado na cruz e voltar ao Pai. Ele veio para levar consigo os que nele creram. Jesus, para explicar sua missão de redenção, usa o símbolo da serpente de bronze, que Moisés levantara em um poste para curar os que para ela olhavam, depois de serem picados pelas serpentes do castigo. Para Jesus, ser levantado, significava ser crucificado para dar vida, como narra o Livro dos Números sobre a serpente (Nm 4b-9).  Há uma relação entre a árvore do Paraíso que trouxe a morte e a árvore da cruz que traz a vida: “Puseste no lenho da cruz a salvação da humanidade, para que a vida ressurgisse de onde a morte viera. E o que vencera na árvore do Paraíso, na árvore da cruz fosse vencido”(prefácio). Olhar para Jesus na cruz é o gesto de crer. Por isso dá a vida. Mas por que o Filho de Deus teve que passar por todo o suplício da Paixão e chegar à morte de cruz para salvar a humanidade? Deus poderia ter salvado de modo mais simples e menos custoso. Santo Afonso responde que era para que não sobrasse nenhuma dúvida sobre o amor de Deus. Foi ao extremo do amor, para manifestar amor e atrair ao amor. Amou assim para que pudéssemos amar ao extremo de nosso frágil amor. O amor do Pai está em dar o Filho.
                                                  Ele esvaziou-se a si mesmo          
            A totalidade de Deus só pode existir em nós quando chegamos ao que Cristo chegou, o esvaziamento. Não significa anulação de si, mas abertura total. Esse esvaziamento acontece quando somos capazes de olhar para Cristo Crucificado e entender o porquê Ele tomou esse caminho de abnegação de si, para que o amor do Pai estivesse todo nEle. O Filho de Deus deixou de lado toda a aparência da divindade e assumiu a forma humana, como nos escreve Paulo aos Filipenses 2,6-11. Foi extremamente homem e assim pode, como homem, abrir-se totalmente a Deus. Foi obediente até à morte e morte de cruz. Uma das qualidades de Deus é justamente a humildade (aliás, desconhecida), na qual cada Pessoa da Trindade se abre à outra. Por isso há Um Deus em Três Pessoas. Cada uma das pessoas se esvazia para assumir a outra. Jesus, esvaziando-se também como homem, recebe a glorificação de sua divindade. Se não nos esvaziarmos, não caminharemos para Deus.
Quem nEle crê, tem a vida.
            Na celebração da Exaltação da Santa Cruz, somos chamados a renovar nossa fé em Cristo Redentor crucificado. Ele já está glorificado, mas permanece para nós o mistério da Paixão para ser vivido e imitado. Não chegamos a Deus, sem passar pela Cruz. Não a Cruz da dor. Somos chamados a caminhar como Ele caminhou (1Jo 2,6). Paulo exorta os cristãos a terem os mesmos sentimentos de Cristo na sua humilhação, para chegar à glorificação. Contemplar Cristo na Cruz, para sermos curados por suas chagas.

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