sábado, 20 de fevereiro de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Senhor, salva-me!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
A barca era agitada pelas ondas
            Os Evangelhos não são simples historinhas. Eles são também uma história que compreende e quer dar respostas às situações da comunidade. Os cristãos, passados os primeiros, começaram a perceber que a vida tinha o lado difícil. Começam a sentir as ondas do mar da vida que investiam contra eles. E por mais que quisessem “andar sobre as águas”, sua fragilidade lhes dava insegurança. E gritaram: “Senhor, salvai-nos!”. Depois da multiplicação dos pães, Jesus obriga os discípulos a subirem nas barcas e irem para o outro lado. Os judeus queriam fazê-lo rei. Afinal, teriam pão. Estavam resolvidos os problemas. Mas Jesus não tinha a mesma compreensão. A vida não vai adiante a poder de milagres. Há um pão nosso de cada dia a ser roído. Aparece para a comunidade a prova da fé. Nesse momento, os cristãos sentem a fragilidade. Os ventos atingem-na com força. Elias também tivera que fugir diante das dificuldades e pedira a morte (1Rs 19,4) . Enfrentou também a tempestade e não vê Deus. O fato de servirmos a Deus, sermos fiéis, não nos dá o direito de não ter dificuldades ou problemas. Mas Jesus está sempre acima das ondas, como sinal da segurança. O milagre é caminhar nos desafios. Diz a Pedro: “Coragem! Sou eu!”. Esta palavra significa sua divindade. Somente com a fé nesta divindade é que podemos arriscar caminhar sobre as ondas das dificuldades. Mas não arriscar é pior. A certeza da presença de Jesus na comunidade é a resposta às angústias e medos que passam. Fiquemos confiantes: Ele nos convida, como a Pedro que lhe pede uma prova: “‘Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água’ (Mt 14,28). Jesus responde: ‘Vem!’”. E Pedro andou sobre as ondas agitadas, mas o medo o fez afundar. Então grita: “Senhor, salva-me!” Jesus o recrimina: “Homem fraco na fé, porque duvidaste?”. Essa chamada vale também para nós. Cremos, mas não aceitamos ter dificuldades.
Murmúrio de uma leve brisa
            O profeta Elias era violento e sempre devia enfrentar situações complicadas, como a de fugir diante da ameaça de morte. Ele não foge da realidade que o cerca. Tem zelo por Deus e pelas coisas de Deus. Não se acomodou diante do culto pagão nem diante do rei sem religião, nem diante da rainha idólatra. De uma feita, matou 400 sacerdotes de Baal. Mas sabia encontrar Deus no silêncio da montanha. Por que Deus se manifesta na silenciosa brisa? Baal era chamado o deus da tempestade. Deus não estava nas convulsões da natureza. Deus não é afeito aos espetáculos, mas é maravilhoso em cuidar de seus filhos. É um Deus cativante que chama o homem para sair da caverna e para encontrá-lo. Há um grande desafio presente em nossa realidade: mesmo no maior barulho, é preciso ter um lugar silencioso no coração para, ali, encontrar Deus. Sem esse retempero da vida, não temos condições de andar sobre as ondas das dificuldades.
Tu és o Filho de Deus!

            A comunidade só adquire forças quando é capaz de professar sua fé na presença de Jesus em seu meio. Os discípulos, diante de Jesus que serenara as águas e o vento, prostram-se diante dele e professam sua fé: “Tu és o Filho de Deus”. A fé não se funda em milagres nem em fatos maravilhosos. A Igreja não está comprometida em ser um supermercado que vende milagres e emoções. Quando passam e não estamos seguros nela, perde-se a fé, a segurança e a capacidade de caminhar sobre as ondas. Então, vem o medo e a fragilidade. Por isso, em cada Eucaristia apresentamos nossa fé em Cristo vivo.

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