domingo, 21 de fevereiro de 2016

Homilia do 2º Domingo da Quaresma (21.02.16) “Escutai o que Ele diz!”

Escutai o que Ele diz.
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes” (Sl 26,13). No coração do homem há um profundo desejo de ver Deus. Essa visão de Deus se dá através de Jesus. Pedro guardou profunda memória da visão que teve de Cristo transfigurado. Mais que a visão, guardou a voz: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2Pd 1,17-18). Lucas narra a transfiguração e diz: “Escutai o que Ele diz” (Lc 9,35). Ouvindo Jesus participamos de sua transfiguração. Ver Deus é vê-Lo agindo em nós e nos transfigurando. Nos evangelhos a transfiguração de Jesus no Monte Tabor é a resposta à situação de fragilidade de Jesus tentado, recusado, morto e sepultado. Tudo isso aconteceu não sem acontecer a Ressurreição. Ela dá sentido a tudo o que Jesus passou. Ver Deus é ver também seu Cristo padecente e participar de seus sofrimentos; “Se com Ele morremos, com Ele viveremos. Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11-12). A visão de Deus passa pelo mesmo caminho de Jesus: sofrimento, morte e ressurreição. É a Palavra de Deus que nos garante. Moisés e Elias, grandes líderes e profetas do povo, profetizaram em vista de Jesus. Ouvindo a Palavra entramos na “nuvem” que é a presença de Deus e entendemos o novo caminho aberto por Jesus. Agora há um novo caminho, não mais por Moisés e por Elias, mas por Jesus. É a Ele que devemos ouvir. Abraão fez uma aliança com Deus passando através dos animais partidos ao meio (Gn 15,5-18). Jesus partido pela lança no sofrimento de sua paixão realiza a nova aliança. Deus nos dá uma terra: “Somos cidadãos do céu... Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,20-21).
É bom estarmos aqui
A Quaresma é o tempo da Igreja para nos prepararmos para a Páscoa. Ela é a passagem de Deus entre nós libertando-nos através de seu Filho e introduzindo-nos na terra prometida da vida da graça. No Monte Tabor, diante da maravilhosa visão de transfiguração e presença de Moisés e Elias, Pedro diz: “É bom estarmos aqui”. Sentia-se bem em tão precioso momento. Entram na nuvem que é a presença de Deus. O medo que sentem é o santo temor respeitoso e atrativo da presença de Deus. A Quaresma é o tempo de entrarmos na nuvem, isto é, vivermos com maior intensidade a força da graça redentora de Cristo.  Por isso a Palavra de Deus é abundante. As cerimônias querem proporcionar o momento de encontro com Deus para ouvir. É o tempo de transfiguração, mesmo sofrendo as consequências do mal que nos cerca e também está dentro de nós. Vivendo a conversão na comunidade saboreamos a presença de Deus, ouvindo seu Filho.
Participar das coisas do Céu
            Rezamos na oração Pós-Comunhão dizendo ao Pai: “Comungamos no mistério da Glória e nos empenhamos em render graças, porque nos concedeis, ainda na terra, participar das coisas do Céu”. Esta dimensão da união entre o Céu e a terra na celebração nos ensina que não há separação entre a vida futura e a vida que vivemos na fé e nos sacramentos. Por isso o Mistério da Transfiguração nos mostra Jesus glorificado e Homem das dores. No prefácio rezamos: “Pelo testemunho da Lei e dos Profetas, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará à glória da Ressurreição”. Contemplando Jesus tentado pelo demônio e glorificado pelo Pai, podemos viver bem nossa preparação para a Páscoa da Ressurreição.
Leituras: Genesis 15,5-12,17-18;Salmo 26; Filipenses 3,17-4,1; Lucas 9,28b-36 
1.   Temos o desejo de ver Deus. Nós O vemos através de Jesus, ouvindo sua palavra e participando de seus sofrimentos. O caminho foi aberto por Jesus em seu corpo transpassado como Abraão que passa entre as vítimas. Recebemos uma terra, o Céu. 
2.   A preparação para a Páscoa é acolher a passagem de Deus entre nós libertando-nos através de seu Filho. É bom estarmos aqui, diz Pedro. A nuvem é símbolo da presença de Deus. Quaresma é tempo de entrar na nuvem participando da graça redentora pela conversão e participação. 
3.   Pelo sacramento da Eucaristia participamos na terra das coisas do Céu. Vivendo na fé, não temos essa separação. Contemplando Jesus tentado e glorificado podemos viver a preparação para a Páscoa. 
     Medida da roupa 
     Quando vestimos uma roupa nova e ficamos chics, parece que nos transformamos. No domingo passado vimos o estrago que o pecado faz em nós quando cedemos à tentação.  Podemos contemplar o resultado que acontece em nós quando ouvimos Jesus e o acolhemos. Jesus sobe à montanha e Se transfigura diante dos discípulos mostrando sua realidade gloriosa após a Ressurreição. Moisés e Elias são etapas que o povo viveu até chegar Jesus. 
     Jesus se transfigura. Nós também nos transfiguramos quando ouvimos sua Palavra e a acolhemos. Por isso Deus diz: “Este é meu Filho, o Escolhido, escutai o que Ele diz”. “Somos cidadãos do Céu e aguardamos a transformação de nosso corpo que o tornará semelhante ao seu corpo glorificado” (Fl 3,210). Purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória (oração). 
     Deus prometeu uma descendência a Abraão. Fez aliança com Abraão mostrando sua comunicação que dá vida. Com a disposição de aliança começou nossa transfiguração. 

     Ouvindo o Filho e vivendo sua Palavra, participamos na terra das coisas do Céu (pós comunhão). Estamos com a mesma roupa de fora, mas por dentro revestido da glória de Deus.

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