quarta-feira, 29 de abril de 2015

REFLETINDO A PALAVRA - “E Jesus dormia tranqüilamente”

PADRE LUIZ CARLOS
DE  OLIVEIRA CSsR
Não te importa que pereçamos?
            Jesus, terminado o discurso sobre o mistério do Reino, tomou o barco para ir à outra margem do lago (Mc 4,35-41). Sobreveio uma forte tempestade. No mar da Galiléia, essas tempestades aparecem de improviso e são violentas. E Jesus dormia tranqüilamente sobre um travesseiro. Acordaram-no e, desesperados, Lhe disseram: “Não te importa que pereçamos?” Ele se levantou e impôs silêncio às ondas e ao vento. Jesus recriminou os discípulos pela falta de fé. Estes espantados disseram: “Quem é esse a quem o vento e o mar obedecem?” Qual o significado desse acontecimento? No início do mundo existia o caos. Deus pôs ordem no caos primitivo com uma ordenada criação.  Jó acenara a esse poder de Deus sobre os elementos (Jó 38,8-11). Jesus, como Senhor, domina todo caos e confusão. A tempestade é o monstro que atenta contra a vida dos discípulos. Eram muitos os monstros que estavam em giro perseguindo os cristãos. Na situação de desespero, pois a perseguição é dolorosa, o único conforto é o recurso a Jesus. Jesus cobra de seus discípulos a fé. Mesmo que as coisas se compliquem Ele está sempre junto de nós. Mesmo que pareça um Deus adormecido, está sempre presente, pois Ele também passou pelas mesmas provações (Hb 4,15), “é capaz de socorrer os que são tentados”. Jesus pergunta aos discípulos: “Ainda não tendes fé?” A fé significa a confiança na presença constante de Jesus no meio dos discípulos e na certeza de Seu socorro. Mas esse socorro nem sempre corresponde a nossos desejos, mas aos desejos de Deus.
Quem é este?
            Os discípulos se maravilham com a autoridade de Jesus. É bom para eles ver todo esse poder, para compreenderem a loucura divina na qual Deus renuncia a seu poder e aceita que o Filho seja submerso “nas grandes águas” da morte, seu batismo final na Cruz. Naquele momento os discípulos fugiram. Somente o Espírito os reunirá na comunidade corajosa quando vier sobre eles. Ali terão perguntado: “‘Quem é esse que se deixa submergir”. Onde fica seu poder?’” Ele dissera no horto, quando foi preso, e Pedro quis reagir: “Não poderia eu pedir ao Pai 12 legiões de anjos (120.000)?” Faltou novamente a fé dos discípulos. No momento Ele era a vítima do terror. Quem é esse homem? Essa pergunta aparece algumas vezes no evangelho. Os discípulos vivem entre dois pólos: o poder de Jesus e a fragilidade deles. Em ambos é necessária a fé. Fé para entender o poder e fé para aceitar a fragilidade. Vivemos essa mesma tensão entre poder e fragilidade. Por isso podemos perguntar a nós mesmos: Quem sou eu? A resposta vai depender da fé que possuo. Na fragilidade, contamos com o poder de Cristo. No poder e na força, agimos na fé em Cristo que se pôs a serviço.
 O velho mundo desapareceu
            A grande tempestade que enfrentamos é a luta entre o homem velho e o homem novo. É uma tempestade onde se jogam os maiores desafios da vida cristã. Paulo escreve que “doravante não conhecemos ninguém conforme a natureza humana”. Aqui está a tempestade. Como em Cristo houve uma morte violenta na cruz e uma estrondosa ressurreição, o mesmo acontecerá conosco. À medida que, pela fé, passamos a um novo modo de viver e pensar, podemos responder à questão: Quem é esse Homem? E, também, usar o mesmo poder de Cristo de mudar as situações mais adversas. A tempestade pode vir, e Jesus dormir. Estaremos seguros.

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