A festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo) é um prolongamento da Quinta-Feira Santa na perspectiva do culto público e festivo. Embora a tenhamos como a celebração de uma presença amorosa, não perde o caráter “memorial”, como acentua Paulo em primeira Coríntios 11,23-26: “Todas as vêzes que o beberdes, fazei isto em minha memória”. Memória não é só recordação. A memória de que fala Jesus tem o sentido e o significação que aparece em Êxodo 12,14, quando Deus diz a Moisés, referindo-se à festa da Páscoa: “Isso será um memorial perpétuo para vós”. Para o judeu fiel, a Páscoa é memória de toda obra de Deus para seu povo, de modo particular, a libertação do Egito e a condução do povo à terra prometida com a bela aliança do Sinai. Jesus diz: “fazei em minha memória”. Ele é agora a razão da memória. Memória é anunciar a presença destes fatos para nós hoje. Nós nos tornamos participantes destes fatos e os recebemos. O mesmo se diz para a memória eucarística. Paulo escreve: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Cor 11,23-26). Proclamar significa anunciar a presença. Esta evocação memorial envolve também o futuro, pois rezamos na missa: “fazendo memória da morte e ressurreição de Jesus, enquanto esperamos sua vinda gloriosa”. Assim a Eucaristia é a vida e presença de Cristo para nós.
Eucaristia é um projeto.
Jesus preocupou-se com o povo que o seguia havia três dias. “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). Jesus multiplicou os pães e os peixes. É a explicação da Eucaristia. Jesus é o único pão que é repartido a todos. É o ensinamento do que seja a Eucaristia na vida: Realiza-se a vida, morte e ressurreição de Jesus quando se sabe fazer com que o pouco seja suficiente para todos. A memória de Jesus, no seu mistério, é capaz de se transformar não só em uma refeição de santidade, mas em uma mesa posta para o mundo nas suas múltiplas necessidades. Mesmo que a Igreja seja sempre frágil e pequena, ela está posta por Deus para que os pequenos não sofram. Ela é a garantia da mão bondosa de Deus que os socorre. Sem isso estamos comendo indignamente o corpo do Senhor (1 Cor, 11,27).
Sacrários vivos.
A festa do Corpo de Cristo leva-nos também à devoção à Eucaristia que permanece em nossos sacrários. Quanto carinho e respeito devemos a Jesus na Eucaristia. E aqui há grandes falhas, sobretudo por parte daqueles que deveriam ser os primeiros a respeitar e amar. Pelas atitudes, demonstramos que não estamos acreditando. Preservemos o amor e a fé que os santos tiveram pela Eucaristia. As pessoas estão comungando mais. Belíssimo é ver como a Igreja, através dos ministros extraordinários da Eucaristia pode levar aos doentes e velhinhos o Pão da Vida, todas as semanas. Eles esperam com tanta avidez. Mas há um sacrário que não pode ficar esquecido. É aquele que Deus fez para si: nosso coração honrado com nosso amor e fé. Jesus presente em nós continua sua presença após a missa e nos convida a amá-lo, adorá-lo e levá-lo pelas estradas do mundo. Em nós mesmos temos o primeiro lugar para encontrá-lo.
Leituras: Gênesis 14,18-20; Salmo 109;
1ª Coríntios 11,23-26; Lucas 9,11b-17
Festa de Corpus Christi (10.06)
EM JUNHO DE 2004
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