Sempre me impressiona a capacidade do povo ao conduzir sua vida cristã e evangelizar com suas condições. A Igreja pode até não conseguir fazer uma evangelização conveniente. Deus não o abandona. O Espírito Santo suscita sempre meios maravilhosos. Ele está presente. As comunidades populares realizam algo impressionante que é colocar a Palavra de Deus em seus corações. Por isso sabem educar os filhos, têm coerência de vida, são capazes de construir uma família e viver comunidade praticando a fraternidade. O amor os anima. Por isso encontramos tanta gente santa em seu meio. É preciso acolher essa ação do Espírito entre eles. Estejamos atentos, pois quem despreza os pobres ofende seu Criador (Prov 17,5). O Espírito os evangeliza. E eles podem realizar o mesmo que fez a comunidade primitiva de Atos 2,42: “Eles eram assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. O povo fiel e simples, puro de coração, vive a Palavra de Deus em sua vida e, com sua “tradução de coração”, ensina o bom caminho aos filhos e conduz a vida da comunidade. O Espírito Santo ensina-os diretamente. É impressionante que sabem coisas que não aprenderam. São solidários e estão sempre presentes uns à vida dos outros. Lembramos os mutirões que eram feitos para se ajudarem. Sabem partilhar. Reúnem-se para os acontecimentos familiares. Participam das alegrias e gostam de rezar juntos. Vivi pouco essas realidades, mas pude ver.
É uma Igreja viva
Temos a experiência dos antigos que recebiam a visita dos padres uma vez por ano para as desobrigas. Vi na África, Angola, a resistência das comunidades durante os longos anos de guerra. As aldeias tinham seus líderes, os catequistas. Eram homens de grandíssima dignidade, às vezes, vestidos de farrapos. Eles conduziam a comunidade e faziam as celebrações. Nós podemos ver como nosso povo simples sabe, é adulto na fé, seguro na vivência do Evangelho e criativo no modo de colocar em ação sua fé. As belas tradições sustentaram sua união à Igreja de Cristo. O método era muito claro. Por exemplo: a festa de Reis, do Divino e outras: uma família acolhia a festa, organizava a Folia de Reis que ia de casa em casa cantando. Anunciavam a festa e, em sua cantoria, davam a catequese sobre o que se iria celebrar, por exemplo, o Natal. Levavam a Palavra de Deus por todas casas. Lembro-me de minha avó, ajoelhada na soleira da porta, acolhendo a bandeira de Reis da mão dos foliões. Depois se celebrava a festa com a reza de um terço e viviam a fraternidade na qual todos ajudavam. Marcou-me uma palavra de minha tia: “Eu chego à festa e já pego o avental”. Era tudo comum na alegria do serviço.
Escola para a Igreja
Certamente estamos seguros dos ensinamentos da Igreja, da renovação da liturgia e das reformas das devoções. Como realizar tudo isso? É preciso conhecer a alma do povo que é a mestra de toda a renovação e purificar o que possa ser danoso. Mas não se pode impor um rito, como se fez por séculos. Só se vai ao povo se partirmos dele. Há comunidades que perderam tudo que era popular e não receberam a formação para o novo. Destruir é fácil. Recompor é impossível. Pior ainda é jogar sobre o povo esquemas que não educam. Se formos estranhos aos lugares, maior cuidado devemos ter. É preciso renovar nosso modo de formar o povo em seu caminho.
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