quinta-feira, 28 de abril de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - "POUPANÇA"

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
613. Saber economizar
            Parece um contra-senso falar de generosidade, como refletimos, e falar de poupança. Sabemos que a caridade não tem limites. O grande limite do amor é o justo limite que é saber possuir para amar mais e melhor. O amor nunca é demais. A grande poupança é virtude quando o fazemos para socorrer as necessidades alheias. O mal do avaro é a incapacidade de ver o limite dos bens. O limite é a dimensão divina do que existe. Tudo é para todos, como Deus é para todos. Não existe alguém que tenha um pedaço de Deus. Nós o temos em totalidade. Partimos da natureza: Deus criou o mundo, como lemos no primeiro capítulo do Gênesis e deu ao homem. Assim reza o texto: “Dou-vos toda planta... Serão vosso alimento”. O mesmo disse dos animais (Gn 1,29-30). Diz ao homem: “Sede fecundos e multiplicai-os, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). A palavra “submeter”, em hebraico, tem o sentido de pisar com o pé. Não está dizendo que o homem é absoluto dono. O que se quer proclamar é que ao homem foi dado o cuidado de fazer a terra crescer. Por outro lado a Escritura diz que estes bens não são “deuses”. Neste sentido é superior. Ao falar em poupança, buscamos o justo equilíbrio entre o ser humano e natureza. O homem não pode usar os bens da terra em prejuízo de si mesmo. Aqui se refere ao aspecto ecológico de preservação. A matéria prima deve ser protegida para que o mundo não se torne um deserto vazio. Os que virão depois de nós têm o direito de ter uma terra bela e feliz. A ganância dos “donos do mundo” é acabar com o que existe em proveito próprio. Em pequena escala, todos temos responsabilidades. A poupança dos bens da natureza é uma virtude a ser cultivada. É uma filha do amor e tem que ser vivida em termos de globalização. Resguardar o mundo do mal da ganância é fazê-lo o paraíso que Deus confiou ao homem para cultivar, não transformar em “espinhos e capoeira” (Gn 3,18). O pecado está em destruir o que é de todos. Poupar o que é de todos é virtude que salva o mundo. O problema da preservação da natureza é também religioso O consumismo é uma cultura de morte.
614. Sabedoria da poupança
            Fazer economia não é somente uma questão financeira, mas envolve toda a vida da pessoa, por isso é também espiritual. Trata-se de uma virtude, isto é, energia de Deus em nós. Ela nos orienta no uso dos bens. Não economizamos porque vamos precisar amanhã, mas porque outros viverão a partir de nós.  É isso que Jesus chama de ser ricos para Deus (Gn 12,28). Uma riqueza acumulada com a exploração da sede de ter sempre mais, provocada pela mídia é um mal para a humanidade. A mídia provoca o desejo exacerbado das novidades e comodidades e acumula para poucos e a população vive em carências inúteis e se endivida, como vemos. Um dos remédios para o consumismo é ter uso moderado dos bens de consumo em vista do bem maior que nos trará contentamento: “Não é a abundância dos bens terrenos, mas a qualidade de seu uso que contribui para nossa felicidade”.
615. Grandeza do multiplica

            “O homem que poupa, que se empenha com todas as suas energias no bem da comunidade e de todos os que necessitam de ajuda, participa inteiramente da alegria que procura para os outros. A experiência de semelhante satisfação comunitária alarga ainda mais a sua generosidade e leva-o a descobrir, com espanto que pode ainda renunciar a muitas mais coisas, já que isso se converte em fonte de alegria participada” (Pe. Häring). Se pouparmos para ter, seremos ricos. Se pouparmos para ser, seremos felizes. Jesus era rico e se fez pobre par anos enriquecer com sua pobreza (2Cor 8,9).

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