PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
575. O
tempero da vida.
A
vida humana na terra é uma batalha, dizia Jó (Jo 71). Nessa batalha há momentos
em que temos que fugir. Há outros em que é preciso atacar e enfrentar fortemente
as situações. Fugir, nem sempre é covardia. Pode ser estratégia para atrair o
inimigo para o próprio campo. S. Filipe Néri dizia que, em certos casos, quem
vence são as pernas. Esta batalha, de que fala Jó, continua. É a batalha do
amor. Quanto mais queremos amar, mas temos que ter uma estratégia para
equilibrar nossas atitudes. Estamos refletindo sobre a virtude da temperança.
Nada como uma comida bem temperada! Nada como uma vida com temperança! S. Paulo
é muito claro: “Tudo é permitido, mas nem tudo convém! Tudo é permitido, mas não
me deixarei escravizar por coisa alguma” (!Cor
6,12). O Catecismo explica: “A temperança é a virtude moral que modera a
atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura
o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites
da honestidade” (Catecismo 1809). Maior
lutador é aquele que sabe vencer a si mesmo, sendo dono de seus instintos,
vontades e metas. Tudo o que há em nós e no mundo é bom. Os prazeres são bons,
as paixões são boas, as vantagens da vida são boas. Basta domesticar as feras
que elas farão o espetáculo de nossa vida. Basta equilibrar a partir do amor,
quer dizer, não ferir ninguém nem nos separar de Deus e dos irmãos. Sejam
questões íntimas ou políticas ou sociais. Trata-se da reta orientação. Bebida é
boa! Meu pai diz: “Você pode beber a pinga, mas não deixe a pinga beber você”.
O Catecismo continua: A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites
sensíveis, guarda a discrição e ‘não se deixa levar a seguir a paixões do
coração’(Eco 5,2)” (Catecismo 1809).
576.
Renúncias que nascem do amor
A guerra primeira é consigo mesmo. O pecado original deixou marcas
profundas em nós. São as concupiscências, os desejos e as tendências más. É
bom! Imaginemos se não tivéssemos com o que lutar! Que tédio seria a vida! É o
exercício que estimula nosso corpo, tanto físico como psicológico e espiritual.
Para isso é necessária a renúncia: perder para ganhar. Quando se fala de
penitência, mortificação, jejum, devemos pensar não numa dimensão de castigo ou
de sofrimento, mas de alegre perda para ganhar mais. É preciso inclusive o
método, a persistência, a constância e disciplina. Podem ser perdas
voluntárias. Nada que prejudique! Pois já seria um desequilíbrio. Se, na vida
nacional fosse dominada a ganância, haveria abundância para todos.
577.
A caminho do julgamento
O
discurso de Jesus sobre o juizo final enumera uma série de situações que nos
interpelam, de modo radical, sobre o quanto deve ser forte nosso amor: fome,
sede, migração, prisão, doença, falta de roupa etc. São situações concretas que
pedem que nossos olhos estejam abertos pela fé, para que, pelo amor temperado, tenham
a solução. Vejamos como nós, nas diversas Igrejas e religiões, estamos voltados
para nós mesmos! A virtude da temperança vai nos orientar sobre o melhor modo
de viver com os demais, dando a vida, como Jesus deu a sua. Sem temperança, não
poderemos levar adiante o amor, a fé e a esperança. Sempre brilha para nós o
modelo completo: Jesus. Se olhássemos para a temperança de Jesus, aprenderíamos
a viver mais intensamente o amor.
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