PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsR Vice-Postulador da Causa-Venerável Padre Pelágio CSsR |
Um andante resolveu arranjar uma casa. Pensou:
-“Chega de dormir ao relento e de andar por aí, a vadiar, sem eira nem beira Vou fazer uma casa para mim”.
Escolheu um lugar recanteado, numa terra de ninguém, e lançou-se ao trabalho. No primeiro dia, preparou o terreno. Depois, foi andar. Este andante chamava-se João. Por coincidência, o outro andante também pensou que já estava no tempo de ter uma casa. Para poder levar avante esse projeto, tinha de procurar onde construí-la. Deu com um terreno já preparado, e disse: Aqui fica bem. Está limpo e pronto para a construção. Agora é só cavar os buracos para as colunas que vão escorar as paredes. Foi o que fez.
Depois, foi andar. Este andante chamava-se Joaquim. Quando o primeiro andante voltou e viu os buracos feitos e os troncos alinhados, ficou muito contente:
- “Um anjo está me ajudando”.
Enterrou os troncos e foi cortar madeira para as paredes. Depois, como não tinha pregos, foi comprá-los. O Joaquim, quando chegou e viu os troncos enterrados nos buracos e a madeira empilhada, pensou:
- Tenho um anjo me ajudando.
E foi comprar pregos. Entrementes o João, pregou a madeira e levantou as paredes. O telhado deixou para depois. Foi dar um passeio. Quando o Joaquim voltou e viu as paredes prontas, disse:
- Tenho de ajudar o meu anjo da guarda.
E levantou o telhado. Depois foi procurar comida. O João, acabado o passeio, vendo o telhado pronto, disse:
- O meu anjo é um portento. Só falta o assoalho.
Foi no que se aplicou.
Assoalhada a casa e mobiliada, só faltava ocupá-la. Estava uma lindeza. Uma porta, duas janelas, uma chaminé. Que mais queria? E o andante João, encantado com a sua obra, ajoelhou-se e, de mãos postas, agradeceu a mãozinha prestimosa do seu anjo da guarda. Mas uma voz indignada interrompeu-lhe:
- Que pouca vergonha é esta? Quem o mandou entrar na minha casa?
Era o Joaquim. O João retorquiu:
- A sua casa? Com que direito? Ainda agora assoalhei e mobilhei tudo.
- E eu que levantei o telhado? - repontou o Joaquim.
- E eu que levantei as paredes? - retorquiu o João.
- E eu que cavei as fundações?
- E eu que acertei o terreno?
Pararam de altercar. Um olhou para o outro, ficando ambos de boca aberta.
- Tu é que eras o meu anjo da guarda? - apontou o João para o Joaquim.
- O meu anjo da guarda eras tu? - apontou o Joaquim para o João.
Abraçaram-se. E ficaram morando juntos.
Lição: Quando um não quer, dois não brigam. - Vivei em paz!
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