Evangelho segundo S. Marcos 12,28b-34.
Naquele
tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de
todos os mandamentos?».Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel:
O Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás o Senhor teu Deus com todo o
teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as
tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não
há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem,
Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e
amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus
disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a
interrogá-l’O.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Tratado do amor de Deus
O primeiro e o maior mandamento é este:
«Amarás o Senhor teu Deus». Mas a nossa natureza é fraca; e o nosso primeiro
degrau no amor é amarmo-nos a nós próprios, antes de mais por causa de nós
próprios. [...] Para nos impedir de resvalar por este declive, Deus deu-nos o
preceito de amar o nosso próximo como a nós a mesmos. [...] Ora, constatamos que
isso não é possível sem Deus, sem reconhecermos que tudo vem dele e que sem Ele
nada podemos. Neste segundo degrau, o homem volta-se para Deus, mas ainda O ama
apenas por causa de si mesmo e não por Ele. [...]
Mas é preciso ter
um coração de mármore ou de bronze para não sermos tocado pelo auxílio que Deus
nos dá quando nos voltamos para Ele nas provações. Nas provações, é impossível
não saborear como Ele é bom (Sl 33,9). E depressa começamos a amá-Lo mais por
causa da doçura que nele encontramos do que por causa do nosso interesse. [...]
Quando estamos nessa situação, não temos dificuldade em amar o nosso próximo
como a nós mesmos. [...] Amamos os outros como somos amados, como Jesus Cristo
nos amou. É esse o amor daquele que diz com o salmista: «Louvai o Senhor porque
Ele é bom» (Sl 117,1). Louvar o Senhor, não porque Ele é bom para nós, mas
simplesmente porque Ele é bom, amar a Deus por Deus e não por nós próprios, é o
terceiro degrau do amor.
Felizes os que puderam subir até ao quarto
degrau do amor: amar-se a si mesmos só com o amor de Deus. [...] Quando saberá a
minha alma, voltada para o amor de Deus, esquecida de si própria, não se
julgando mais do que um vaso quebrado, lançar-se para Deus para se perder nele e
ser um mesmo espírito com Ele? (1Cor 6,17). Quando poderá dizer de si: «A minha
carne e o meu coração desfalecem, mas o Senhor é para sempre a rocha do meu
coração e a minha herança» (Sl 72,26)? Santos e felizes os que puderam
experimentar qualquer coisa de semelhante durante esta vida mortal, mesmo que
raramente, mesmo que uma única vez. Esta não é uma felicidade humana, é viver já
no céu.
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