Séculos
de espera, e eis que, como o sol, o Salvador já ilumina, com as primeiras
claridades, o novo dia da humanidade. Poderemos ouvir em breve: “Hoje nasceu
para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). A vinda do Filho de
Deus ao mundo não é uma historinha a ser contada com carinho. É a realização da
vontade do Pai de comunicar-nos sua vida e levar-nos à participação de sua
glória. A vinda de Cristo interessa a todo o universo, pois o Pai quis, em
Cristo, recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na
terra (Ef 1,9-10). A liturgia desse 4º domingo do Advento quer nos levar a
entender o motivo da vinda de Cristo. Para respondermos a tão grande dom, somos
chamados a fazer o caminho que Ele fez: “Por isso eu disse: ‘eis que venho’. No
livro está escrito a meu respeito: ‘Eu vim, ó Deus para fazer a tua vontade’”
(Hb 10,7). A redenção que Cristo nos oferece acontece no seu mistério de
entrega à vontade do Pai. Não mais são válidos os sacrifícios de animais, mas
da entrega de corpo e alma que o Filho faz ao Pai e que culmina na oferenda do
corpo na cruz. Podemos fazer o mesmo sacrifício, participando do seu, acolhendo
a vontade do Pai. No Pai-Nosso rezamos: “Seja feita a vossa vontade”. Jesus
repete essa frase muitas vezes em sua vida. Ele mesmo disse que a vontade do
Pai é que não se perca nenhum daqueles que Ele lhe deu (Jo 6,39). Essa
preocupação com os pequeninos é a implantação de seu Reino: “Venha a nós o
vosso reino”. Por isso, Jesus é de família real, descendente de Davi, da tribo
de Judá. O rei, que nascerá, preenche todos os sentimentos do Pai e executa
toda suas vontades.
A vez dos fracos
Jesus não responde às
expectativas dos judeus que queriam um Messias político que viesse libertar do
jugo dos romanos e restituir o reino aos tempos gloriosos. Primeiramente sua
vinda é para todos os povos, como escreve Miquéias: “Os homens viverão em paz,
pois Ele, agora, estenderá o poder até os confins da era, e Ele mesmo será a
Paz” (Mq 5,3-4). Paz – Shalom - significa e plenitude de todos os bens. Esses
bens são reservados aos que se abrem, com fé, à ação do Espírito Santo. Vemos a
frágil Maria receber a visita de Deus e ficar grávida por obra do Espírito
Santo porque quis fazer a vontade do Pai dizendo ao Anjo: “Faça-se em mim
segundo a sua palavra” (Lc 1,38). Isabel fica cheia do Espírito Santo ao
receber a saudação de Maria. Ela acolhe aquela que trouxe o Senhor.
Contemplamos Belém, pequenina cidade de Judá, humilde como o jovem Davi que ali
pastoreava e tornou-se rei com promessas de um descendência promissora (2 Sm
22,51) da qual saiu o Dominador: agora os homens viverão em paz (Mq 1-4). Agora
é a vez dos fracos que, com o coração aberto, continuam a acolher a vinda do
Messias. O salmo canta suplicando que aconteça essa salvação: “Despertai vosso
poder, ó nosso Deus, e vinde logo nos trazer a salvação!”
Bendita és tu entre as mulheres
A figura mais completa do
Advento é Maria, símbolo de toda aceitação de Deus e de sua vontade salvífica,
de total abertura ao Espírito Santo e também missionária levando Jesus aos
outros. Ela é assim modelo para vivermos o programa do Advento: deixar que o
Espírito irrompa em nossa vida e que esta se faça dócil à Palavra divina como o
fez Maria ao dizer: “Eis a serva do Senhor!”
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