domingo, 5 de julho de 2015

Homilia do 14º Domingo Comum (05.07.15) “A verdade é um direito”

                        
PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR
O mistério da rejeição
             Jesus vai a Nazaré onde passou sua vida oculta antes do início de seu ministério. Por mais que sejamos abertos a todo o mundo, nosso cantinho guarda sempre uma mística diferente. É justamente ali que Jesus recebe a recusa de sua pessoa e de sua missão. Recusam-No por não admitirem que alguém igual a eles possa ter sabedoria e fazer milagres e ser um enviado de Deus. O bloqueio foi tanto que Jesus “não pode fazer ali milagre algum” (Mc 6,5). Parece dar a entender que a rejeição bloqueia a ação de Deus. Jesus sentiu isso na pele da parte de seus conterrâneos e familiares. Ele dirá: “Os inimigos do homem são seus próprios familiares” (Mt 10,36). Diz também: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus familiares” (Mt 6,4). Esta rejeição a Deus é fruto da dureza do coração, como podemos ler no profeta Ezequiel que ouviu de Deus esta recriminação: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. Eles e seus pais se revoltaram contra mim até o dia de hoje. A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou enviar-te... Quer escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – ficarão sabendo que houve um profeta entre eles” (Ez 2,3-5). Podemos considerar essa mesma leitura diante do fechamento da sociedade à Palavra de Deus anunciada pela Igreja, nas situações concretas. De onde vem essa rejeição, endurecimento e cabeça dura? É fruto da adoração de ídolos que estão pululando por aí. Quando se fecha o coração a Deus, os ídolos se multiplicam e se justificam. Mas é necessário que saibam que há alguém que pensa diferente, tem uma mensagem clara e é um profeta que transmite a Palavra de Deus. Os frutos virão. Reconhecer a dádiva de Deus é sempre um benefício para amolecer a dureza do coração e a cabeçudice. Tudo isso é influência do maligno que provoca ao mal.
Espinho na carne
            O profeta também participa da rejeição feita a Cristo. Paulo afirma que trazemos em nossos corpos as marcas de Jesus (Gl 6,18). São as cicatrizes dos maus tratos suportados por Cristo. Na leitura da Segunda Carta aos Coríntios, descreve essa participação nos sofrimentos de Cristo: “... Para que eu não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho que é um anjo de satanás a esbofetear-me...” (2Cor 12, 7). Não sabemos o que seja. Parece ser um problema nos olhos, pois escreve aos Gálatas: “Se vos fosse possível, teríeis arrancado os olhos para dá-los a mim” (Gl 4,15). Paulo sofre ainda a perseguição dos falsos irmãos (2Cor 11,26), que pode ser esse espinho da rejeição. Jesus lhe garante apoio quando se sente fraco: “Basta-te minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta” (2Cor 12,9). A Palavra de Deus é sempre doce ao paladar, mas amarga no estômago (Ap 10,8-11). É preciso continuar profetizando. A ressurreição de Cristo garante a ressurreição do profeta.
 Nossos olhos estão fitos no Senhor.
            A crise que o anunciador do Evangelho pode passar diante da rejeição da Palavra de Deus é respondida pelo salmo 122: “Nossos olhos estão fitos no Senhor”. O apóstolo deve desenvolver a dimensão espiritual. Não se trata de uma atitude espiritualista que se caracteriza pelo se sentir bem. A espiritualidade autêntica é fruto união a Cristo sofredor. É ter uma vida coerente com a Palavra anunciada. Há uma tendência a criar um pseudo espiritualismo que nos satisfaz, mas não nos converte a Cristo. Não quer dizer que seja só cruz, pois o auge da espiritualidade é a ressurreição, mas não sem a cruz.
Leituras: Ezequiel 2,2-5; Salmo 122; 2 Coríntios 12,7-10; Marcos 6,1-6 
1.   Refletimos na liturgia de hoje a rejeição que Jesus sofreu em sua pátria. Eles não admitiam que Ele fosse o profeta de Deus. A recusa foi tanta que nem pode fazer milagre. A rejeição que é também apresentada pelo profeta Ezequiel é fruto da dureza de coração e da rebeldia. Essa mesma atitude, podemos ver na sociedade de hoje que é fechada à Palavra de Deus. É fruto da adoração de tantos ídolos. Mesmo assim é preciso continuar anunciando. 
2.     O profeta participa da rejeição feita a Cristo. Paulo diz que suas cicatrizes são as marcas de Cristo. Há também um sofrimento físico ou perseguição por parte dos falsos irmãos que o faz sofrer. Jesus lhe garante: “Basta-te minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta. A palavra é doce ao paladar, mas amarga no estômago. É preciso continuar anunciando. 
3.     Para viver as crises da rejeição, é preciso ter os olhos fitos no Senhor. A rejeição não é simplesmente humana. É preciso uma atitude espiritual que é a união a Cristo em seus sofrimentos e ter uma vida coerente. Não uma atitude espiritualista que é simplesmente um sentir-se bem e criar uma capa sem coerência de conversão a Cristo. Não se trata só de dor, mas de ressurreição. 
Lar, amargo lar 
            Jesus foi a sua terrinha. Coitado! Que desilusão! Foi pregar na sinagoga e seus compatriotas O rejeitaram e ficaram escandalizados por verem Aquele que até pouco era igual a eles e agora era um profeta pregador e fazia milagres. Onde é que arranjou essa sabedoria e esse poder de milagres? Nós conhecemos sua família que ainda está por aqui. E não O aceitaram.
            Deus, quando enviou o profeta Ezequiel já falou dessa cabeça dura do povo: “Eu envio-te aos israelitas, nação de rebeldes... Eles e seus pais se revoltaram contra mim até o dia de hoje” e diz também: “A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra vou enviar-te... Quer escutem ou não, ficarão sabendo que dentre eles nasceu um profeta”.
            Isso acontece também em nossas comunidades. A cabeçudice é um privilégio de quem não está aberto a Deus. Por isso o salmista nos leva a rezar: “Nossos olhos estão fitos no Senhor”.
            Paulo, mesmo vivendo grandes dificuldades, tinha a certeza que lhe era dada por Jesus: “Basta-te a minha graça. É na fraqueza que a força se manifesta”. As perseguições são um atestado que Deus está do nosso lado. Nosso lar é bom. Quando se buscamos o Reino de Deus, encontramos dificuldades dentro de nossas próprias casas.

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