domingo, 3 de março de 2024

REFLETINDO A PALAVRA - “A pureza que salva”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA(+)
REENTORISTA NA PAZ DO SENHOR
Puro e impuro
 
Retomamos o Evangelho de Marcos após a leitura do capítulo VI de João sobre o Pão da Vida. Iniciando o mês da Bíblia temos uma orientação da Palavra de Deus que pode nos libertar daquilo que não é evangélico. Jesus já combateu com firmeza as distorções que se fizeram da Lei de Deus. Entramos na questão do puro e do impuro. Aconteceu que os fariseus criticavam os discípulos por comerem o pão com mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Não se tratava de higiene, mas de uma exigência ritual. Como a refeição era como algo sagrado, as mãos e os pratos deveriam receber um rito de purificação para não prejudicar o culto. Quem não fazia o rito de lavar, estava impuro. Essa era a tradição. Eles perguntaram a Jesus por que os discípulos não seguiam as tradições dos antigos. Davam às tradições e à Palavra de Deus o mesmo valor. Isso não é uma coisa distante. Temos muitas tradições e ensinamentos que tem mais valor que o Evangelho. Por exemplo: promessas absurdas que não levam a nada na fé têm mais valor. Essas tradições são criações humanas. Por isso Jesus não deixa passar e ensina que, muitas vezes, as tradições tem mais valor que a santidade do amor a Deus e ao próximo. O que torna a pessoa impura não vem das coisas materiais, por exemplo, um objeto ou um rito, mas do coração. E Jesus afirma com força que é daí “que procedem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem” (Mc 7,21-23). Jesus insiste também em outros lugares, sobre a facilidade de deixar a Palavra de Deus para conservar o que não compromete a vida no serviço dos irmãos. O que é impuro é o que vai contra Deus e contra o próximo. A lei de Deus é elogiada como grande sabedoria, como lemos em Deuteronômio. Não se deve acrescentar nem tirar (Dt 4,2). 
Pureza do coração 
A liturgia deste domingo não para no problema, mas adianta a solução e delineia o que é coração puro. O salmo 14 nos mostra que a pureza vem da prática do respeito ao próximo. Isso faz digna a pessoa de “morar na casa do Senhor”, isto é prestar culto. O culto sem o amor ao próximo é insuficiente. São Tiago ensina que a “religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). É por isso que se prefere uma religião ritualista, sem referência à vida e ao mundo com seus problemas. Não compromete. Pensamos: Participei da missa e comunguei; Estou pronto e satisfeito. Não é isso que a Palavra de Deus nos ensina. A Eucaristia não é um momento, mas uma fonte de vida.
Praticantes da Palavra 
Retomamos S. Tiago que é muito prático. Percebe-se que era bem ligado à vida concreta do povo. Ele vai direto ao assunto: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada... Todavia, sede praticantes da Palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,21b-22). Praticar a Palavra é viver, como rezamos: “O alimento da caridade fortifique os nossos corações e nos leve a Vos servir em nossos irmãos e irmãs” (Pós-comunhão). Tudo o que fazemos na vida espiritual deve passar no crivo da Palavra. Deste modo não fazemos da fé uma ideologia, ou pior, vivemos uma ideologia como se fosse fé. 
Leituras: Deuteronômio 4,1-2.6-8; Salmo 14; 
Tiago 1,17-18.21b-22.27; Marcos 7,1-8.14-15.21-23. 
1. Retomamos a leitura do Evangelho de Marcos. Jesus combateu as distorções que fizeram na lei de Deus dando mais valor às tradições humanas. Entra a questão do puro e do impuro. A impureza era ritual e prejudicava o culto. Essas tradições acabam por ter mais valor que o amor a Deus e ao próximo. Jesus afirma que o que torna impuro o homem vem do coração. E enumera os mandamentos. 
2. A liturgia apresenta a solução: respeito ao próximo, como rezamos no salmo 14. Isso torna a pessoa digna de morar na casa do Senhor, isto é, prestar culto. O culto sem amor é vazio. Tiago ensina que a religião pura é o cuidado com os atribulados. Uma religião ritualista distancia dos problemas da vida e do mundo. 
3. Tiago é prático e ensina a receber a Palavra e ser praticante: servir os irmãos. Tudo que fazemos na vida espiritual deve passar pelo crivo da Palavra. 
Nem tudo que brilha é ouro 
A lei antiga dada por Deus e que Jesus assumiu e levou à perfeição, deu vida ao povo. Deus disse que não se deveria lhe acrescentar nada nem tirar. Era completa. São Tiago recomenda a receber com humildade a Palavra de Deus. Não basta ser somente ouvinte da Palavra. É preciso ser praticante. Jesus teve um problema danado com os coronéis da fé. Aquela lei tão perfeita foi misturada com invenção que tirou sua pureza. Jesus criticou essas leizinhas inventadas, sobretudo sobre a pureza. Não a pureza de coração, mas a pureza exterior. Com seu ensinamento Jesus declara que todas as coisas são puras. As coisas não sujam o coração. O que torna o homem impuro é seu mau coração. Dali é que saem as maldades que tornam o homem impuro. Nós também temos esses problemas. Criamos costumes e leizinhas que destroem o sentido da fé e da palavra de Deus. Essas leis são inventadas e ficam afastando as pessoas do mais importante ao qual Jesus chama a atenção. A palavra de Deus nos instrui sobre o modo de viver com pureza: fazendo bem aos irmãos.
Homilia do 22º Domingo Comum (02.09.2012)

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