A partir da
entrada do cristianismo no mundo do império franco-germânico com Carlos Magno (que
foi sagrado imperador na noite do
Natal em Roma no ano 800), a fé começou a receber interpretações a partir da
cultura desses povos. Recolheram de sua cultura religiosa, interpretações que
não eram a expressão do evangelho. Por exemplo: O medo da condenação, o Deus
juiz poderoso, Jesus Cristo Rei que vai julgar o universo, o castigo etc...
Vemos, na liturgia adaptada a seu modo de pensar, a necessidade de pedir
perdão, a intercessão e o socorro. Tudo resultado do medo da condenação. Se
considerarmos o Antigo Testamento, encontramos fundamentos para esse modo de
pensar “agressivo” e pensar em um Deus vingativo. Mas, encontramos também o
conceito de Deus misericordioso: “Terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer”! (Ex 33,19). Moisés, quando o povo
pecava, lembrava a Deus sua misericórdia. Assim Deus abrandava o castigo.
Moisés, ao abençoar o povo, devia incluir a misericórdia: "O Senhor faça
resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti” (Nm 6,25); Os salmos
interpretam essa consciência da misericórdia e da bondade de Deus: “Não te
lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas,
segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, pela tua bondade, ó Senhor” (Sl 25,7). Mesmo que
as desgraças políticas ou climáticas fossem consideradas castigos, a
recuperação era considerada misericórdia. Tobias diz que Deus dispersou o povo
entre os povos e aí mostrou sua grandeza (Tb 13,2-3). Jesus mostra a face
misericordiosa de Deus. Ele não aceitava somente o orgulho, que parece não ter
cura.
979. Uma Igreja misericordiosa
A ameaça dos
castigos de Deus por um erro, cometido nada mais é que um meio de amedrontar e controlar
o povo. “A conversão baseada no medo, tem pouca duraçao’ escreve S. Afonso. Por
isso prega o amor misericordioso que é o único capaz de converter o coração. Sabemos
quanta gente se afastou da Igreja por ter sido maltratada em uma confissão ou
por outros motivos. Há normas! Mas a verdade não tem necessidade de ser mal
educada. Espiritualmente a Igreja foi influenciada por uma doutrina chamada
jansenista que apelava para a dificuldade da salvação e a quase dificuldade para
viver na graça. O que se pede é que a misericórdia de Deus possa penetrar todas
as estruturas. Encontramos as dificuldades do povo para realizar seus atos sacramentais
e religiosos. As exigências nem sempre correspondem às possibilidades do povo,
sobretudo o humilde. Os ricos, sempre acham uma saída, às vezes comprada. Não é esse o caminho de Jesus.
980. Misericórdia que salva
Deus
nos salva por sua misericórdia. A misericórdia de Jesus, cheia de bondade é a
mesma que tem seu Pai. Ela deve tornar-se um modo de ser Igreja e a maneira de
organizar sua vida. Hoje falamos tanto de acolhimento. Só acolhemos se for à
base da misericórdia. E, sobretudo, acolher os fracos, os humildes, os sofridos
da vida atual pelo mundo. Ver com os olhos de Deus que vê a todos com
misericórdia. É um convite também aos que não tem a mesma fé ou que não sejam
da mesma Igreja, que se preocupem com a misericórdia. Há muita condenação e ódio,
até mesmo usando o nome de Deus. Esse fundamentalismo tem cheiro do mal. Ninguém
foi posto por Deus para por o outro no inferno.
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