quarta-feira, 4 de março de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - Deus que vê os pequenos

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
A falsa religião 
No evangelho de Marcos 12,38-40, Jesus alerta contra os doutores da lei. Eram eles que ensinavam e interpretavam a lei de Deus. Seu ensinamento era acompanhado da vaidade pessoal e da falta completa de coerência: “Eles gostam de andar com roupas vistosas, de serem cumprimentados nas praças públicas. Gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes” (Mc 12, 38). Atualmente há uma tendência muito forte na Igreja para a exterioridade e, pior ainda, dão a isso valor como o mais importante. Com isso se sentem superiores aos demais. Por outro lado, depois de ensinarem a Palavra, tornam-se ladrões explorando as pobres viúvas, “fingindo fazer longas orações”. Temos também o problema de pessoas religiosas que levam vida dupla. E querem dar normas aos demais. O Papa Francisco fustiga esse tipo de religião. As grandes crises que a Igreja vive no momento provêm da falsa religião. Não podemos usar os símbolos religiosos, como batinas e ritualismo, para cobrir nossa falta de personalidade. Nada contra os símbolos. Mas não podem ser instrumento de poder nem de falsa religião. 
  A riqueza da pobreza 
Junto a esse texto, o evangelista faz o ensinamento sobre a verdadeira religião: a força da fé dos pobres. Creem com totalidade de vida, pois a entregam Deus na segurança da fé. A cena é curiosa: Jesus está sentado no templo diante do cofre. Ali ricos depositavam grandes quantias. Veio uma pobre viúva e colocou duas moedas sem valor. Chama os discípulos e lhes diz que ela deu mais do que todos. Nesse dia passará fome, pois deu tudo. O ensinamento é claro: “Todos deram o que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu aquilo que possuía para viver” (Mc 12,42-44). Podemos recolher o ensinamento: Deus nos quer por inteiro. Nada pode sobrar. A entrega deve ser total e sem retorno. Diferentemente dos outros que deram o resto a Deus, ela deu tudo. É o testemunho da mulher da primeira leitura. Elias pede ajuda a uma pobre. Ela divide com ele o que era para viver e tem como resposta que daí para frente quem cuida é Deus. “A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias” (1 Rs 17,16). Deus não quer resto. A entrega a Deus deve ser total. É comum se ouvir de pessoas de classe alta que são católicos, mas não aceitam tudo. 
Uma vez por todas 
A Carta aos Hebreus, refletindo sobre Cristo, Sumo Sacerdote, abre-nos um leque de reflexão também sobre a realidade de cada pessoa que se une a Cristo em seu sacerdócio. Não se trata aqui de padres e bispos, mas de cada fiel que participa desse sacerdócio. O sacrifício de Cristo, diferentemente dos sacrifícios reparadores do Antigo Testamento, foi único e uma vez por todas. Assim também a ação de entrega total de si, como vimos nas pobres viúvas dos textos desse domingo, realizam sua união a Cristo uma vez por todas. Cristo aceita nossa entrega, não pela quantidade, mas pela totalidade. Somente vivendo em totalidade que podemos entender o Mistério de Cristo.

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