O Beato Inocêncio era filho de Pedro Scalvinoni e de Francisca Poli. Nasceu no dia 19 de Março de 1844 em Nardo, Vale de Canónica, em Bréscia, na Itália. Foi batizado com o nome de João.
A sua infância ficou marcada pelo sofrimento, ficou orfão de pai, e pela prática da virtude, como aluno do Colégio de Lovere. Foi admitido no Seminário diocesano de Bréscia e foi ordenado sacerdote a 2 de Julho de 1867. Foi nomeado Coadjutor de um pároco, em Cevo, onde se distinguiu pelo desapego das coisas materiais, assiduidade no confessionário, caridade para com os pobres, assistência aos doentes e pregação.
O Bispo chamou-o para Bréscia a fim de desempenhar o cargo de Vice-Reitor do Seminário. Após um ano, voltou para a cura das almas como pároco em Berzo, onde se entregou a uma intensa atividade apostólica, feita de oração, bom exemplo e uma pregação simples e paternal, bem como de uma proximidade pessoal junto de cada um para os levar até Deus. Entretanto, o Senhor chamava-o a uma vida mais perfeita. Depois de uma luta espiritual, pediu para ser capuchinho, quando tinha 30 anos. Em 1874, vestiu o hábito da Ordem, recebendo, nessa altura, o nome de Frei Inocêncio.
Viveu em Albino. Depois, foi para o Convento da Santíssima Anunciata, como Vice-Mestre de noviços. Em 1880, foi-lhe confiada a redação dos Anais Franciscanos, em Milão. Partiu para Crema, levando, por toda a parte, o brilho da sua santidade. Foi colocado outra vez no Convento da Santíssima Anunciata, onde encontrou aquilo que o seu espírito desejava: ser santo!
No ermitério do Convento, encontrou forma de se submergir na união com Deus que era própria do seu temperamento, de saciar a sua ânsia de sacrifício, de penitência e vida escondida. O seu ideal era desaparecer e fazer que o esquecessem, o exercício de prolongadas horas de oração e contemplação, o desempenho dos mais humildes serviços do Convento, tais como: pedir esmola de porta em porta com a pregação do bom exemplo e de boas palavras. A beleza da sua alma transparecia em todas estas manifestações.
Pregou exercícios espirituais aos seus irmãos, a quem inundava com a abundância do seu espírito seráfico. Neste ministério da pregação teve de fazer muita violência sobre si mesmo, sobretudo, porque não se considerava capaz de coisa alguma.
Morreu com 46 anos de idade, no dia 3 de Março de 1890, na enfermaria do Convento de Bérgamo, quando estava a pregar um retiro aos seus irmãos. O Senhor chamou a Si o servo bom e fiel que viveu na humildade e na pobreza. Os seus conterrâneos de Berzo reclamaram para si o seu corpo.
Os documentos mais valiosos da sua vida são os seus escritos, especialmente, os seus Diários, onde apresenta uma série de ditos dos Santos com os quais alimentava especialmente o seu espírito. A sua devoção era o Santíssimo Sacramento e a Via-sacra.
Em 1961, no dia 12 de Novembro, o Papa João XXIII inscreveu-o no Catálogo dos Beatos. No discurso da sua beatificação, o Sumo Pontífice disse sobre o nosso irmão: Eis aqui um santo original que exteriormente não faz história, que não tem coisas para se contar, que se move no meio de acontecimentos sem importância, mas que é precisamente um santo moderno, um santo para o nosso tempo; quer porque viveu entre nós, quer porque é um modelo de oração e de austeridade.
Oração
Senhor, que destes ao Vosso servo, Beato Inocêncio de Berzo, a graça de imitar fielmente a Cristo pelo caminho da simplicidade e da oração, fazei que também nós, vivendo plenamente a nossa vocação, caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, Vosso filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Verdadeiro filho de São Francisco
De um Discurso de João Batista Montini, cardeal
(Paolo VI e Brescia, Brescia 1971, pp. 78-85)
Inocêncio de Berzo é certamente um frade humilde. Foi primeiro sacerdote e depois fez-se frade, vivendo sempre em terras de Valcanónica. É um santo que, mais que manifestar-se abertamente, mostra-se esquivo, retraído, um santo fugitivo, um santo que simplifica o trabalho do historiador e do orador.
Resulta difícil falar dele, porque os elementos caraterísticos da sua vida e santidade são as chamadas virtudes «negativas». Falta nele o brilho das grandes ações e das obras, distingue-se por servir a todos sem opôr-se a nada.
Esta fisionomia feita de humildade, pobreza, renúncia, é esplêndida no beato Inocêncio de Berzo. Quem desejar verdadeiramente conhecê-la, não olhe para outras virtudes ou outros aspetos, mas vá diretamente ao seu mais autêntico e, direi mesmo, ao seu mais fiel retrato, que é este: o da aniquilação, o da humildade. Nós, homens modernos, que vivemos numa sociedade que realça outros aspetos bem distintos da vida, encontramos pouca sintonia com ele, sentimo-nos confusos diante da evidência da sua estatura diferente da nossa, como dizia São Paulo escrevendo aos Coríntios: «Vós sois ilustres, nós desprezíveis; nós somos débeis, vós fortes».
Tendemos sempre não só a destacar, mas inclusive a engrandecer a nossa própria personalidade, a afirmação do nosso próprio querer, a nossa capacidade de autoafirmação na vida, o possuir, o ser fortes. Inocêncio passou por cima de quase todos estes bens; quase os desprezou, ainda que sem dramatismos, com um constante e único ato de renúncia, de desprendimento; jamais os apreciou, não os valorizou em si mesmos e, quando parecia que se aproximava deles, recusou-os. Quis viver na mais absoluta pobreza, no ocultamento mais real e na humildade, não pregada mas vivida, que edificou, precisamente, sobre a busca de tudo aquilo que favorecia a separação real do mundo, e o silêncio de toda a preocupação pela valorização dos demais, que enchem o homem de abnegação e sacrifício de si mesmo.
Esta é a imagem que nos dá de si próprio, o seu aspeto assombroso. Vemo-lo assim e ficamos, se quereis, admirados, mas também um pouco desconcertados. Não usamos a mesma medida ele e nós, não há possibilidade de mútua simpatia, porque, precisamente, caminhamos em duas direções diferentes: nós para os valores, assim chamados, positivos e terrenos; ele, ao contrário, na renúncia a estes valores e para outros só conhecidos por ele, que lhe bastavam e o enchiam de satisfação, mais que nenhuma outra coisa.
Constatemos, meus irmãos, que temos aqui um verdadeiro franciscano, um verdadeiro filho daquele prodígio de santidade que, depois de sete séculos, o mundo ainda continua a admirar: Francisco de Assis. Precisamente nesta arte de virar do avesso as coisas humanas e buscar afeto e satisfação naquelas que, pelo contrário, os homens temem – a pobreza e a renúncia aos bens desta terra –, encontramos uma correspondência literal, quase fotográfica, entre São Francisco e Inocêncio. E isto não é pouco: diz-nos ao menos que o beato Inocêncio faz parte realmente do catálogo dos «autênticos», do catálogo das pessoas que seguiram autenticamente o exemplo do santo fundador da Família Franciscana.
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