Inês viveu e morreu em Praga, mas já em vida sua fama se difundiu por toda a Europa. Há 740 anos vem sendo invocada pelos habitantes de Praga e pelo povo tcheco como sua padroeira. E ela é realmente uma das figuras mais nobres daquele povo. A vida de Inês foi tão extraordinária quanto sua personalidade.
Filha do rei da Boemia, Premysl Otokar I, e de Constança da Hungria, nasceu em 1211. Por parte do pai descendia da famosa estirpe dos santos boêmios, Ludmila e Venceslau; Santa Edviges da Silésia era sua tia-avó, Santa Isabel da Hungria sua prima e Santa Margarida da Hungria sua sobrinha.
Com sua irmã mais velha, Ana, aos três anos foi enviada para o Mosteiro Cisterciense de Trzebnica, onde Santa Edviges lhe ensinou as verdades fundamentais da fé, as primeiras orações e a formou na vida cristã. Três anos depois retornou a Praga e foi recebida pelas monjas premonstratenses de Doksany, onde aprendeu a ler e escrever.
Em 1220, tendo sido prometida como esposa a Henrique VII, rei da Sicília e da Alemanha, filho do Imperador Frederico II o Barbaruiva, Inês foi conduzida para a corte de Viena onde deveria completar sua educação de futura imperatriz. Ali viveu até 1225, sempre fiel aos princípios e aos deveres da moral católica: dava muitas esmolas, se mortificava com jejuns e se consagrou a Mãe de Deus, desejando manter sua virgindade. O pacto de casamento tendo sido então rescindido, Inês voltou para Praga onde pôde se dedicar a uma vida de oração e de obras de caridade mais intensa.
Chegaram à corte de Praga novas propostas de casamento para a jovem princesa boêmia: a do rei inglês Henrique III e a do Imperador Frederico II que enviuvara. Mas ambas foram recusadas. Diz-se que o imperador Frederico comentou: “Se ela me tivesse trocado por um homem mortal, eu teria me vingado com a espada, mas não posso me ofender porquê de preferência a mim ela escolheu o Rei dos Céus”.
O Papa Gregório IX, a quem Inês tinha pedido proteção, interveio reconhecendo o voto de castidade da princesa, que assim conquistou a liberdade de se consagrar a Deus. A notícia da recusa se propagou por toda Europa causando grande admiração.
Entrementes chegaram a Praga alguns nobres que retornavam da Itália trazendo notícias de São Francisco e da nova Ordem de Santa Clara. Ao tomar conhecimento da vida angélica de Santa Clara, Inês desejou imitar a todo custo o seu exemplo. Desfez-se de todas as joias, adornos e vestidos preciosos e distribuiu aos pobres o valor que arrecadou.
Com seus próprios recursos fundou em Praga, entre 1232 e 1233, o hospital de São Francisco para os pobres, e confiou-o à direção de um sodalício fundado por ela, a Ordem dos Crucíferos da Estrela Vermelha, que se tornou mais tarde de Cônegos Regulares (cf. Annuario Pontificio 1981, pág. 1.207), obra que ainda hoje existe.
Ao mesmo tempo fundou o mosteiro de São Francisco para as Irmãs Pobres (Damianas ou Clarissas) em Praga, nas margens do Moldava, no bairro que ainda leva o nome de São Francisco. Santa Clara enviou cinco Irmãs do mosteiro de Trento para auxiliar na nova fundação. Cinco jovens, filhas das principais famílias de Praga, se juntaram a elas.
Inês professou solenemente no mosteiro por ela fundado no dia de Pentecostes de 1234. Foi eleita Abadessa pouco tempo depois, cargo que exerceu com humildade e caridade, com sabedoria e zelo, considerando-se sempre como "a irmã mais velha" das monjas sob sua autoridade.
Santa Clara enviou a ela uma carta em que se alegrava com sua fama "conhecida não apenas por ela, mas por quase todo o mundo", e a elogiava com entusiasmo por ter preferido o desponsório com Cristo a todas as honras do mundo, escolhendo de todo coração "a santíssima pobreza e as dores corporais", para se converter em esposa "do mais nobre Esposo" (Carta I).
Entre Santa Clara e Santa Inês nasceu uma amizade profunda, embora nunca tivessem podido se encontrar. Santa Clara enviou-lhe quatro belíssimas cartas onde expressava o afeto que dedicava a Inês, a quem chamou "metade da sua alma". Ela também presenteou Inês com uma cruz de madeira, um véu de linho e uma vasilha de barro.
Seguindo o estilo de vida austera de São Francisco e de Santa Clara, Inês viveria no mosteiro mais de 40 anos. Como Santa Clara no Mosteiro de São Damião, Santa Inês renunciou às rendas, preferindo que o mosteiro vivesse só de esmolas, mas esta restrição só foi aprovada por Inocêncio IV (1243-1254). Inês inclusive renunciou aos seus direitos sobre o hospital que havia fundado, e que poderia abastecer seu mosteiro com o alimento necessário. Ela afirmou "preferir sofrer indigência e miséria a renunciar a pobreza de Cristo".
A entrada de Inês no mosteiro causou admiração em toda Europa, e todos aqueles que entravam em contato com ela davam testemunho de suas virtudes, como também são concordes as memórias biográficas. Sua devoção se exprimia de modo particular no fervor com que ela adorava o mistério da Eucaristia e da Cruz do Senhor, além da devoção a Nossa Senhora contemplada no mistério da Anunciação.
Sua devoção a Nosso Senhor na Eucaristia propagou-se pelos outros mosteiros da Ordem e incentivou o desejo da comunhão diária. Graças ao exemplo de Inês, sucederam-se fundações de outros mosteiros da mesma Ordem na Boêmia, Polônia e em outros países. O amor ao próximo não esmoreceu em seu coração generoso após a fundação do hospital. Assistia as Irmãs enfermas, cuidava dos leprosos, socorria também pessoas com doenças contagiosas.
Amou a Igreja Católica intensamente e implorava a Deus os dons da perseverança na fé e na caridade cristã para seus filhos. Colaborou com os papas de seu tempo, atendendo às solicitações de orações que faziam, e intermediando junto aos soberanos boêmios, seus familiares, em negociações para o bem da Igreja. Ela nutriu sempre um amor profundo por sua pátria, que beneficiou com obras de caridade individuais e sociais. Com a sabedoria de seus conselhos evitou conflitos de toda sorte e promoveu a fidelidade de seu país à religião católica.
O Senhor a cumulou de muitas graças: êxtases, profecia, intuição e vários milagres. Predisse que seu irmão Venceslau venceria o Duque d'Áustria. No dia 26 de agosto de 1278, durante o Ofício de Vésperas, em uma visão tomou conhecimento da morte trágica do sobrinho nesse mesmo dia na batalha de Morasvke Pole. Após a morte de Premysl Otakar II a Boêmia foi ocupada por exércitos estrangeiros, reinou a desordem e a violência; o povo morria de fome e de peste, e na porta das Clarissas, cuja despensa estava vazia, se amontoavam moribundos famintos em busca de ajuda. Santa Inês suportou com paciência inalterada a dor que a afligia, bem como a toda família real e a Boêmia diante de todos esses fatos trágicos.
Foi em meio a todos esses horrores que Santa Inês morreu. Em 2 de março de 1282 sua longa existência de quase 80 anos terminou santamente no seu mosteiro, confortada pelo afeto das monjas e dos Frades Menores que a assistiam. Seus funerais foram acompanhados pelo Ministro Geral dos Frades Menores, Padre Bonagrazia.
Numerosos milagres foram atribuídos à intercessão da princesa morta, mas o culto tributado a ela desde sua morte só teve reconhecimento papal em 28 de novembro de 1874, com o decreto de beatificação promulgado pelo Beato Pio IX. João Paulo II a canonizou em 12 de novembro de 1989 na Basílica Vaticana. Seus restos mortais, sepultados na igreja do mosteiro, até hoje são venerados pelos fiéis.
Sta. Inês apresenta o modelo da igreja ao grão mestre |
Túmulo de Santa Inês de Praga |
Fontes:
Stephen M. Donovan (Catholic Encyclopedia)
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