Por Deus, ou a gente se enlouquece, ou O esquece. O que vemos na sociedade é o esquecimento voluntário de Deus. Penso que seja um procedimento marcado pelo medo de não suportar sua presença e de complicar nossa vida. Para conhecê-lo mais e melhor, temos que entender o conceito de sagrado: Deus é “tremendo e fascinante”. O temor reverencial de Deus tem a dupla sensação de afastar-se e ao mesmo tempo de lançar-se em Sua direção. Se há um afastamento é porque não sabemos ainda descobrir quem Ele é, e como viver com Ele. Deus nos envolve por inteiro e está em nosso interior. Deus é o mais íntimo de nosso íntimo. É um Deus que nos toca. Não se trata de um panteísmo, no qual tudo é Deus, mas de uma presença. O toque divino se expressa em nós através das mais diversas maneiras. Nós O ouvimos nos elementos da natureza, nas pessoas e nos acontecimentos. Nós o vemos nas belezas e tristezas da vida; nas dores e nas alegrias; nas maravilhas do universo e na pequenez dos elementos; nos trabalhos e nas artes. Nós O percebemos no toque amoroso e no grotesco da maldade. No campo de concentração de Auschwitz na Polônia, estavam enforcando um garoto. Ele esperneava dependurado e não morria. Os prisioneiros assistiam. Um disse: “Onde está Deus?”. Um outro respondeu: “Lá! Dependurado!”. São toques de Deus. Quando dizemos que quem não encontra Deus pelo amor, vai encontrá-lo pela dor, não é um fatalismo, mas a verdade da presença de Deus nos momentos dolorosos. É bem certo que, quem é de Deus, percebe onde Ele está. S. Paulo comenta que se pode conhecê-lo pela natureza: “Sua realidade invisível – seu eterno poder eterno e sua divindade - tornou-se inteligível, desde criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não existe desculpa” (Rm 1,20). Posso recusar, mas não negar sua presença. Se optar por desconhecê-Lo, não serei castigado, mas desequilibrarei minha natureza de pessoa, como continua Paulo em sua carta aos Romanos. Não somos diferentes dos leitores de Paulo.
Um Deus à mão
Para quem acolhe, como nós que O conhecemos através de Jesus e agora através dos muitos modos à nossa disposição, temos a certeza de sua presença e podemos sempre buscá-lo. Podemos encontrá-Lo sempre à mão, não só como uma ajuda, se bem que Deus não seja pronto socorro nem supermercado gratuito. Está sempre próximo e atende imediatamente, como reza o salmo dizendo que ainda estava pedindo e já brotavam palavras de agradecimento. Mais que socorro, Deus é dado ao amor bondoso que nos acaricia. Nós fazemos silêncio para perceber as carícias da natureza e das pessoas, dos acontecimentos, sentindo o afeto que nos é demonstrado como carícias de Deus.
Mãos estendidas de Deus
Para se tornar mais palpável a presença de Deus e seu toque Divino, o Pai amoroso enviou seu Filho dileto que, tocou toda a humanidade assumindo nosso carne, fazendo-se criatura humana como todos nós. Assim, unidos à divindade de Jesus por nossa carne, continuamos sua missão de ser a mão estendida do Pai a tocar. Vemos, nos evangelhos, o quanto Jesus tocou para que os necessitados tivessem vida, saúde e sentissem carinho, como as crianças. Quando estendemos a mão, somos a mão estendida do Pai que quer continuar amando, acolhendo, dando vida, consolando através de nós. A espiritualidade nos ensina a cada vez mais sentir a presença dele que nos toca e toca através de nós.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM DESEMBRO DE 2010
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