quinta-feira, 4 de junho de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “O desapego liberta”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
Assumir com responsabilidade 
Jesus diz aos que O querem seguir, que devem assumir com responsabilidade e que façam uma escolha bem pensada. Para seguir tem que deixar tudo, até a própria vida. Deve deixar a família. O deixar não significa não amar mais, mas amar mais aquele que o chamou. Depois faz a comparação do sujeito que começa fazer uma torre e não dá conta de acabar. Não pensou se tinha o suficiente para construir. Pensamos hoje que fazemos a opção por Jesus, mas há um mundo de coisas que nos impedem que seja completa e total. Jesus não nos quer pela metade. O mesmo se diz do rei que vai fazer guerra e não vê que está em pior condição que o outro. Esse ensinamento aos discípulos é muito claro sobre a totalidade de entrega que se exige para o seguimento de Jesus e de seu Evangelho. E acrescenta: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Deixar muitas coisas por Jesus não resolve, temos que deixar tudo. Não se trata só de bens temporais e família. O mais difícil é deixar a própria vida, o próprio modo de pensar, as opções que fazemos, os nossos projetos pessoais. Se não queremos assumir com totalidade, não conseguimos seguir. Vamos atrás, mas não seguimos. É o que estamos vendo na Igreja na qual tudo que nos toca vem em primeiro lugar, deixando o Evangelho de lado. Podemos afirmar que o nosso pecado é a falta de radicalidade. É o que vemos na carta de Paulo a Filemon. Paulo é radical não ficando com o escravo. Pede radicalidade de tê-lo como irmão na fé. 
A sabedoria ensina 
A fragilidade humana diante da grandeza de Deus e de seu mistério, parece não ter condições de conhecer os desígnios de Deus. A grandeza de Deus nos deixa pequenos. Somos fracos no pensamento. O corpo torna pesada a alma, nossa argila oprime a mente. Não sabemos nem o que está perto de nós, como investigar os céus? Deus nos responde que a Sabedoria que nos é dada pelo seu Santo Espírito abre esse caminho. A Sabedoria de Deus nos salva. Essa Sabedoria revelada na pessoa de Jesus nos abre o conhecimento das coisas de Deus. O seguimento total de Jesus, mesmo que tenhamos o peso na alma e a argila que oprime, pode ser realizado em nossa fragilidade. Não somos deuses. Deus nos fez de barro para sermos moldados. Cabe a nós, ao iniciar nosso caminho de seguimento de Jesus, reconhecer nossa fragilidade e ir aprendendo o que a Sabedoria ensina. Por isso o salmo nos ensina a rezar: “Ensinai-nos a contar nossos dias e, dai ao nosso coração sabedoria... Saciai-nos de manhã com vosso amor e, exultaremos de alegria todo dia... tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho” (Sl 89). Assim vencemos. 
O direito à liberdade cristã 
Paulo faz um jogo de palavras. Onésimo, em grego, significa útil. Esse escravo fugido e convertido por Paulo vai voltar a seu dono, não mais como escravo, mas como irmão querido, pois Filêmon é cristão. Paulo o manda de volta, com o pedido que ele venha ajudá-lo. Sabe que ele é útil para Filêmon, por isso o reenvia. Gostaria de tê-lo consigo para ajudá-lo na prisão. Mas respeita o direito de Filemon. Diz-se que Paulo não fala contra a escravidão. Ele vê de modo diferente. Como cristãos vão ser irmãos e se tratarem assim como convertidos no Senhor. É um novo modo de viver. Respeita o direito do senhor. Unindo os textos, entendemos que a Sabedoria vencerá também as dificuldades que podemos encontrar nos problemas de cada dia. Nada está oculto aos olhos de Deus (Hb 4,13). 
Negou fogo 
Jesus, com essas parábolas dos que não pensam bem antes de tomar uma atitude, nos dá um estímulo de entrar para valer quando fazemos a escolha para segui-lo. Se quero de verdade aceitar seu convite, entrar com tudo. Mas não se pode assumir pela metade. Os santos assumiram totalmente. Os exemplos são muitos. O exemplo maior é do próprio Jesus que não fez por menos em sua entrega total ao Pai, até às últimas consequências. Ele é o modelo. Pensou bem em sua decisão de encarnação, pois não arredou pé em nada. Mesmo quando se sentiu abandonado pelo Pai. Nós afinamos no primeiro aperto e damos meia volta em nossas atitudes. Por aí podemos ver a fragilidade de nossas opções. Quem realmente escolheu bem e assumiu, fez muito pelo Reino.

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