Na Itália, Bernardino nasceu na nobre família senense dos Albizzeschi, em 8 de setembro de 1380, na pequena Massa Marítima, em Carrara. Ficou órfão da mãe quando tinha três anos e do pai aos sete, sendo criado na cidade de Sena por duas tias extremamente religiosas, que o levaram a descobrir a devoção a Nossa Senhora e a Jesus Cristo.
Depois de estudar na Universidade de Sena, formando-se aos vinte e dois anos, abandonou a vida mundana e ingressou na Ordem de São Francisco, cujas regras abraçou de forma entusiasmada e fiel. Apoiando o movimento chamado "observância", que se firmava entre os franciscanos, no rigor da prática da pobreza vivida por são Francisco de Assis, acabou sendo eleito vigário-geral de todos os conventos dos franciscanos da observância.
Aos trinta e cinco anos de idade, começou o apostolado da pregação, exercido até a morte. E foi o mais brilhante de sua época. Viajou por toda a Itália ensinando o Evangelho, com seus discursos sendo taquigrafados por um discípulo com um método inventado por ele. O seu legado nos chegou integralmente e seu estilo rápido, bem acessível, leve e contundente, se manteve atual até os nossos dias. Os temas freqüentes sobre a caridade, humildade, concórdia e justiça, traziam palavras duríssimas para os que "renegam a Deus por uma cabeça de alho" e pelas "feras de garras compridas que roem os ossos dos pobres".
Naquela época, a Europa vivia grandes calamidades, como a peste e as divisões das facções políticas e religiosas, que provocavam morte e destruição. Por onde passava, Bernardino restituía a paz, com sua pregação insuperável, ardente, empolgante, até mesmo usando de recursos dramáticos, como as fogueiras onde queimava livros impróprios, em praça pública. Além disso, como era grande devoto de Jesus, ele trazia as iniciais JHS — Jesus Salvador dos Homens — entalhadas num quadro de madeira, que oferecia para ser beijado pelos fiéis após discursar.
As pregações e penitências constantes, a fraca alimentação e pouco repouso enfraqueciam cada vez mais o seu físico já envelhecido, mas ele nunca parava. Aos sessenta e quatro anos de idade, Bernardino morreu no convento de Áquila, no dia 20 de maio de 1444. Só assim ele parou de pregar.
Tamanha foi a impressão causada por essa vida fiel a Deus que, apenas seis anos depois, em 1450, foi canonizado. São Bernardino de Sena é o patrono dos publicitários italianos e de todo o mundo.
As suas Pregações populares eram um fenômeno de massa: Gênova, Milão, Veneza, Roma. Multidões eram atraídas por um frade franzino, capaz de explicar o Evangelho na língua do povo. Fazia vibrar o coração seja de um Papa seja de uma dona de casa, utilizando piadas fogosas para iluminar a fé.
Bernardino era um fenômeno coletivo; ele antecipou muito os tempos – viveu na primeira metade do século XV - a ponto de a sua eloquência chegar a estimular até invenções "tecnológicas", como o uso de bandeirinhas, para saber qual a direção do vento, a fim de posicionar os palanques de onde falava, para que o povo não perdesse nenhuma de suas palavras.
A peste e o saio
Antes de tornar-se um arrebatador de multidões, Bernardino tinha vivido de modo bastante retirado. Ainda jovem doutor em Filosofia e Direito – no início tinha "alergia" pela ideia de ser religioso – mudou de ideia quando Sena, onde viveu como pequeno órfão, foi atingida pela peste.
Transcorria o ano 1400. Bernardino tinha apenas 20 anos de idade, mas, há dois anos já fazia parte da Irmandade dos Disciplinados de Santa Maria da Scala, uma companhia de jovens flageladores. Com eles, por quatro meses, prestou ajuda aos doentes, contraindo a infecção. Porém, conseguiu se salvar. Esta experiência foi marcante para ele, a ponto de optar entrar para uma Ordem religiosa. De fato, entrou, como noviço, em 1402, a fazer parte da Comunidade dos Franciscanos; após certo tempo, foi transferido para o Convento de Saggiano, na encosta meridional do Monte Amiata. A comunidade, que pertencia à Regra da Observância, - surgida, no seio da Ordem, há 33 anos - era caracterizada pela absoluta pobreza e austeridade, em oposição aos Conventuais mais "brandos".
Na escola de analfabetos
Ao tornar-se sacerdote, Frei Bernardino - que andava descalço e pedia esmolas - se comprometeu para a difusão do estilo da Observância. Por isso, mandou construir um Convento maior, na colina de Capriola, às portas de Sena, onde estudou os grandes doutores e teólogos da Igreja, sobretudo os Franciscanos.
Mas, de qualquer forma, foi o mundo dos camponeses, com o qual estava mais em contato, a "aperfeiçoar" a sua formação. Assim, aprendeu a usar expressões, imagens vivazes e anedotas, e brincava com as pessoas, às quais dava apelidos engraçados.
Estava começando a se afirmar e a ser apreciado como pregador, quando uma doença nas cordas vocais o tornou quase afônico. Após alguns anos nestas condições, Frei Bernardino decidiu pedir para ser exonerado da pregação. Mas, a sua voz voltou a ser não só nítida, mas também musical e penetrante, rico em modulações.
Na terra nua
Nestas alturas, começou a fase das suas longas viagens, indo de uma cidade à outra, atravessando quase toda a Itália.
Em 1438, foi encarregado pelo Ministro geral da Ordem Franciscana para continuar a obra de reforma. Os conventos passam de 20 para 200, todos estimulados a fazer renascer o espírito da Regra de Francisco, adaptando-o às necessidades dos novos tempos.
Apesar do cansaço, Bernardino empreendeu uma nova viagem, com o objetivo de chegar até ao Reino de Nápoles, pregando em Perugia, Assis, Foligno, Espoleto, Rieti. Exausto, entregou-se perto da cidade de Áquila.
Em 20 de maio de 1444, foi transportado, em uma maca, ao Convento de São Francesco da cidade, onde faleceu, no mesmo dia, aos 64 anos. Seu último desejo foi o mesmo do seu fundador: ser deposto na terra nua.

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