No dia 1º de novembro de 1975, Maria Droste Zu Vischering, que em religião se chamou Irmã Maria do Divino Coração de Jesus, era beatificada por Paulo VI. A beatificação da Irmã Maria do Divino Coração, glória da benemérita Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, alemã por nascimento e portuguesa de coração, tem para Portugal especial significado. Ela dedicou a Portugal, por chamamento divino, o melhor da sua curta vida. Filha dos Condes Droste Zu Vischering, nasceu em Münster, na Vestefália (Alemanha), a 8 de setembro de 1863. Passou a infância no Castelo de Darfeld, não longe daquela cidade, no seio duma família profundamente cristã. No mundo, chamava-se ela Condessa Maria Droste zu Vischering. Sua estirpe destacava-se há séculos pela fidelidade à Igreja e ao Papa, em cujo serviço nunca recusava qualquer esforço ou sacrifício. Foram Cardeais, Bispos e governantes os ilustres ancestrais de Maria. E ela própria coroou, com sua sublime virtude, os feitos heroicos dos que a precederam no sinal da Fé. Maria bebeu a devoção ao Sagrado Coração de Jecom o leite materno. Já seus pais a viviam intensamente e souberam-na comunicar aos seus filhos e familiares. Foi numa vida de felicidade, de pureza e de austeridade que ela se preparou para a mais intima e mística união esponsal com o Coração de Jesus. “Desde a mais tenra idade, escreve ela, senti a dita de ser filha da Santa Igreja”.
Maria tinha encanto pelos inocentes brinquedos infantis e era amiga de pular, correr e montar a cavalo na companhia dos pais e irmãos. Uma companheira de escola dizia a seu respeito: “
No pátio do recreio, ninguém corria mais do que ela, ninguém jogava a bola tão alto e tão bem como ela. Mas quando o sino anunciava o fim do jogo, a mais serena e a mais tranquila de todas era Maria”. Esta alma inocente fora atraída pelo Sagrado Coração de Jesus. Para ela, a devoção ao adorável Coração se fundia na devoção ao Santíssimo Sacramento, conforme ela própria declara: “Nunca pude separar a devoção ao Coração de Jesus da devoção ao Santíssimo Sacramento; e nunca serei capaz de explicar como e quanto o Sagrado Coração de Jesus se dignou favorecer-me no Santíssimo Sacramento da Eucaristia”. |
A família da Beata ela é a 2a. a partir da direita |
No Natal de 1883, consagra-se a Deus pelo voto de castidade perpétua. E Ele apodera-se dela e marca a consagração com o sinal da cruz, fazendo-a passar por dilatada e penosa doença. Com o espírito embalado por longo tempo em sonhos de heroísmo missionário, no dia 1º de julho de 1888, esperando na igreja paroquial a sua vez de se confessar, ouve subitamente a voz do Senhor: “Tens de entrar no convento do Bom Pastor”. Sendo de constituição física bastante frágil, precisou esperar muito para ser admitida em uma comunidade religiosa. À espera de concretizar esse desejo, ela abraçou como pôde o estado de perfeição, vivendo ainda na casa paterna. Praticava a caridade com os pobres, transformando-se numa mãe para todos os necessitados. Viveu assim até a idade de 26 anos, quando foi admitida na Congregação do Bom Pastor, uma instituição dedicada a cuidar de moças transviadas e de meninas órfãs ou abandonadas. Uma tarde, passeando meditativamente pelas alamedas do jardim do seu solar, “senti vivamente, escreveu ela, que o Senhor me dizia que teria de sofrer muito por Ele. Jesus falou-me dos momentos por que passava, vendo-se abandonado de todos, e pediu-me Lhe fizesse companhia. Disse-me que O aflige sobretudo o abandono de muitos sacerdotes...”.
A 10 de janeiro de 1889 toma o hábito religioso no convento de Münster, no mesmo dia em que, no Carmelo de Lisieux, Teresa do Menino Jesus recebeu o dela. Professou a 29 de janeiro de 1891.
Em 1894, após três anos de dedicação ao apostolado das penitentes, próprio do seu Instituto, é enviada a Portugal. Depois de três meses passados em Lisboa, chega ao Porto como Superiora do Recolhimento do Bom Pastor na Rua de Vale Formoso (Paranhos), a 17 de maio de 1894.
De lá escreve ela, pouco depois: “Vivemos numa situação angustiosa. A casa está em ruínas, devorada por dívidas que nos sufocam. Vejo, porém, e sinto que Deus está comigo, e assim cresce, cada dia mais, a minha coragem, embora por vezes isto seja difícil de suportar... Só temos em caixa cinco ou seis marcos, e temos de alimentar 120 pessoas... Sinto-me tão portuguesa, que não me importo com tanto desconforto, tanto frio e tanta humildade...”. E a sua tenacidade, aliada a uma absoluta confiança no Coração de Jesus, realiza o milagre de transformar aquela casa e a comunidade em ruínas num florescente jardim de Deus. A 21 de maio de 1896 cai de cama, esgotada de trabalho, para nunca mais se levantar: uma osteomielite a paralisa e a martiriza com dores atrozes constantes. É nesta longa, heroica crucifixão, que a Irmã Maria se imola pelos pecadores, pelos sacerdotes, pela Igreja, por Portugal.“Muitas vezes na minha doença, quando sentia ardentes desejos de morrer, Nosso Senhor, duma imagem dos Passos me dizia: ‘Então queres que Eu leve sozinho a cruz de Portugal?’” (Carta de 1896). O sinal da autenticidade da sua missão divina é precisamente o recrudescer dos seus padecimentos. E quando pela terceira vez o Coração Divino se dirige à Irmã Maria a pedir a intervenção dela junto de Leão XIII, pergunta-lhe ainda “se estava disposta a suportar toda a espécie de sofrimentos, humilhações e desprezos”. Leão XIII acata seu pedido e convoca um tríduo solene de preparação para a consagração ao Divino Coração. Seus últimos dias se passaram num contraste entre dores atrozes e a feliz perspectiva de ver o mundo em breve solenemente consagrado ao Coração de Jesus. Na manhã do dia de sua morte, chegou-lhe às mãos um consolador presente do Santo Padre: dois exemplares da encíclica “Annum Sacrum”, cujo tema era a consagração da humanidade e do mundo ao Sagrado Coração do Divino Redentor. Às 3 horas da tarde do dia 8 de junho de 1899, ao hino das primeiras vésperas da Festa do Coração de Jesus, quando por todo o mundo católico se fazia o tríduo solene de preparação para a consagração ao mesmo Divino Coração, ela consumava o seu sacrifício.
No dia 11, o Papa Leão XIII realizava aquilo que ele mesmo declarou ser o “ato mais grandioso do seu pontificado”, a consagração do mundo inteiro ao Sagrado Coração de Jesus. As suas venerandas relíquias repousam em Ermesinde, na Igreja do Coração de Jesus, ereta pelas suas filhas. Na primeira sexta-feira de julho (ou agosto) de 1897, recebeu ela ordem do Senhor: “Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um lugar de graças. Depois disse-me que queria que esta igreja fosse sobretudo um lugar de reparação pelos sacrilégios, e para atrair graças e bênçãos sobre o clero”. A construção deste templo foi uma das suas últimas preocupações. Ela mesma, no seu leito de dor, mal podendo segurar um lápis entre os dedos, traçou as linhas arquitetônicas. Não quis o Senhor dar-lhe em vida a alegria de ver realizado o seu sonho. Realizaram-no as suas filhas em Ermesinde. Diante da Hóstia consagrada em constante exposição, almas rezam em adoração reparadora. “Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um lugar de graças”. O lugar de reparação está ereto. A palavra do Senhor não falhará!
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Castelo de Darfeld onde a Beata nasceu |
Fontes:
https://heroinasdacristandade.blogspot.com/search?updated-max=2023-06-18T17:33:00-07:00&max-results=7&reverse-paginate=true
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