Evangelho segundo São Mateus 5,17-19.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim revogar, mas completar.
Em verdade vos digo: antes que passem o céu e a Terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no Reino dos Céus».
Tradução litúrgica da Bíblia
(1920-2005)
papa
Discurso na sinagoga de Roma, 13/04/1986
«Não vim revogar, mas completar»
A minha visita hoje [a esta sinagoga] pretende constituir um contributo decisivo para a consolidação dos laços que unem as nossas comunidades. De entre as múltiplas riquezas da declaração «Nostra aetate», do II Concílio do Vaticano, a primeira é a de que a Igreja de Cristo descobre os seus laços com o judaísmo sondando o seu próprio mistério («Nostra aetate», 4). A religião judaica não nos é extrínseca, mas, de certo modo, intrínseca. Temos com ela um relacionamento que não temos com nenhuma outra religião. Sois os nossos irmãos preferidos e até, podemos dizê-lo, os nossos irmãos mais velhos.
O caminho que começámos a trilhar está ainda no início; será preciso ainda muito tempo para que todas as formas de preconceito, mesmo que inconsciente, sejam suprimidas, e possamos mostrar o verdadeiro rosto do judaísmo, bem como o do cristianismo. Não é segredo para ninguém, desde o princípio, que a nossa divergência fundamental é a nossa adesão, como cristãos, à pessoa e ao ensino de Jesus de Nazaré, filho do vosso povo, do qual saíram igualmente a Virgem Maria, os apóstolos, alicerces e colunas da Igreja (cf Gal 2,9), e a maioria dos membros das primeiras comunidades cristãs. Outro tanto se diga das vias abertas à nossa colaboração, que, à luz da herança comum saída da Lei e dos profetas, são diversas e importantes: acima de tudo, a colaboração em favor do homem, da sua dignidade, da sua liberdade, dos seus direitos, numa sociedade onde reine a justiça e prevaleça a paz, essa shalom desejada pelos legisladores, pelos profetas e pelos sábios de Israel.
Que desta visita, da concórdia e da serenidade que já conseguimos, nasça uma fonte fresca e benfazeja que nos ajude a sarar as feridas desta nossa cidade de Roma, como o rio que Ezequiel viu sair da porta leste do Templo de Jerusalém (cf Ez 47,1s). Assim, conservar-nos-emos, de parte a parte, fiéis aos nossos compromissos mais sagrados, mas também a tudo o que nos une e aproxima mais profundamente: a fé num só Deus, que ama o estrangeiro e faz justiça ao órfão e à viúva, ensinando-nos a amá-los e a socorrê-los (cf Dt 10,18; Lv 19,18.34). Foi precisamente do Senhor da Tora, aqui venerado, que os cristãos aprenderam essa vontade, a vontade de Jesus, que levou às últimas consequências o amor por ela exigido.
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