Nos primeiros séculos do cristianismo não havia igrejas para as celebrações. Os cristãos se reuniam pelas casas chamadas domus ecclesiae, isto é, casas da comunidade. Papa, bispos, sacerdotes e celebrações eram simples e diferentes. No ano 313 o imperador Constantino permitiu a religião cristã no império romano. Então se construíram as basílicas para as reuniões do povo e as celebrações. A primeira basílica foi a de S. João de Latrão. O nome Latrão vem de Laterani, nome da família que tinha casa naquele local. Sua casa foi destruída por Nero no ano 60. Ali foi construindo um palácio em 161. Constantino o deu ao Papa Melquíades. A dedicação da Basílica foi presidida pelo Papa Silvestre I no ano 324, dedicada ao Divino Salvador, mais tarde a S. João Batista. Celebrar a dedicação – consagração de uma Igreja, mais que celebrar a lembranças de uma data de um prédio, é celebrar o nascimento de uma comunidade. Esta basílica é chamada de mãe de todas as igrejas da terra. É a primeira igreja a ser construída. Entramos numa fase nova do cristianismo que passa a ter templos. Modifica-se muito o estilo de Igreja e perde-se bastante do ensinamento: “adorar a Deus em Espírito e Verdade”. Mas, mesmo com os belos templos de tijolo ou os pobrezinhos de adobe e capim que usei nas aldeias da Angola, o fundamental não pode ser perdido: adorar em espírito e verdade (Jo 3,24).
Purificando o templo.
A cena de Jesus purificando o templo é assustadora. Até os humildes foram tocados, mas com menos força. Ele amava o templo, coração da fé do povo. Tinha zelo pela casa do Pai, com diz a Escritura: “O zelo por tua casa me consumirá” (Sl 69,10). O povo era explorado no templo que se transformou em uma casa de comércio onde se vendiam os animais para os sacrifícios e trocavam as moedas pela moeda do templo. Esta era pura para ser usada, mas também explorada. Jesus faz uma profecia sobre o templo que vai ser destruído e Ele, Messias de Deus, será o novo templo. Nele encontramos Deus. Na Ressurreição Jesus toma o lugar deixando fora todas as outras mediações para o encontro com Deus. As comunidades, simbolizadas pelas igrejas, têm que ser sempre purificadas de todos os males que prejudicam o povo e o relacionamento com Deus. O culto deve ser de doação, de disponibilidade e de serviço humilde, como é o Corpo de Cristo Ressuscitado.
Nascente das águas
A leitura de Ezequiel nos mostra a água que nasce do templo e aumenta purificando, dando fertilidade e vida. Representa a presença do Senhor no meio do povo. Jesus é a água viva. De seu peito aberto pela lança sai a água e o sangue. Mata nossa sede de Deus e nos alimenta com seu sangue que é vida. A celebração da benção e dedicação da primeira igreja da cristandade leva-nos a fazer memória de nossas comunidades e das pessoas que foram nossos pais na fé. Anima-nos a purificar nossas comunidades e celebrações de tudo o que é impuro, como a falta de amor, a ganância de dinheiro e poder e a exploração do povo. Elas devem ser sinal da Ressurreição. É tempo de purificação.
Leituras: Ezequiel 47,1-2.8-9.12; Salmo 45;
1Coríntios 33,9c-11.16-17. João 2,13-22.
1. A basílica de Latrão é a primeira da cristandade construída em 324 após a liberdade para a prática da fé cristã, dada por Constantino em 313. Lembra a comunidade cristã que ali freqüentava. A construção de igrejas corre o arrisco de perder o sentido do culto em espírito e verdade.
2. Jesus purifica o templo que se transformara em casa de comércio. Jesus profetiza que o templo será construído e Ele será o novo templo, lugar do encontro com Deus. Sem outras mediações.
3. A água que nasce sob o templo representa a presença do Senhor no meio do povo. Seu lado aberto jorra sangue e água para matar a fome e a sede de Deus. Anima a purificar nossas comunidades e celebrações de tudo que é impuro, como falta de amor, ganância de dinheiro e de poder. As comunidades devem ser sinal da Ressurreição.
Lavagem da Igreja
Celebramos a inauguração da primeira igreja da Igreja. Trezentos anos vivendo na perseguição, agora chegou a liberta, com lucros e prejuízos. É a catedral de Roma, do Papa.
No evangelho lemos o texto da expulsão dos vendedores que usavam o lugar sagrado para seus negócios. Jesus expulsou todos. Foi uma confusão. Conhecemos na tradição a lavagem de algumas igrejas, como da Igreja do Bonfim, na Bahia. Somos chamados a fazer outra lavagem: tirar as sujeiras que o tempo acumulou sobre a Igreja de Cristo como a luta pelo poder, a ganância por dinheiro, a exploração do povo e outros vícios. Muitos usam a Igreja e ainda saem xingando sem dar sua contribuição. São entulho também. É participando que purificamos a Igreja.
Hoje, a Congregação Redentorista, uma parcela da Igreja, completa 282 anos de fundação. Também ela precisa de uma lavagem. Isso fará quando renovar sua entrega a Cristo através da dedicação aos necessitados. Sem isso, água nela!
Homilia para a Dedicação da
Basílica São João de Latrão (09.11.2014)
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