Por volta do ano 303, na Espanha, no período em que Diocleciano era imperador romano (284-305), os irmãos Vicente, Sabina e Cristeta, provavelmente naturais de Évora ou daquela região, foram torturados cruelmente. Tiveram os membros desconjuntados e as cabeças esmagadas. Pelo que podemos conferir nos anais de seu martírio, São Vicente foi feito prisioneiro antes de suas irmãs Sabina e Cristeta, tendo sido levado à presença do magistrado romano Daciano, que o interrogou: “… Perdoo à tua juventude essas liberdades, pois sei que não chegaste ainda à idade de uma prudência completa, pelo que te devo aconselhar que me ouças como pai, e como tal ordeno que sacrifiques aos deuses imperiais”. O jovem Vicente assim respondeu: “Careceria de sólido juízo, se, desprezando o verdadeiro Deus que criou o céu e a terra, penetrou os abismos e circundou os mares, desse culto aos falsos deuses de pau e de pedra, representados em estátuas vãs”.Por esta resistência, foram-lhe concedidos três dias para pensar e negar sua fé cristã. Sabendo que não poderia negar, tentou fugir com suas irmãs, mas foram alcançados pelos soldados romanos, sofrendo então todos os martírios. “Senhor, dai-nos coragem para mudar o que pode ser mudado. Dai-nos forças para aceitar com serenidade tudo o que não possa ser mudado. E dai-nos sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.
No início do século IV, os irmãos Vicente, Sabina e Cristeta sofreram o martírio por negarem-se a assinar um documento no qual deviam reconhecer que tinham oferecido sacrifícios aos deuses romanos, segundo estabelecia o quarto edito da perseguição.
Durante o reinado de Diocleciano e Maximiano o pretor Públio Daciano foi o responsável pela grande perseguição aos cristãos na Península Ibérica, com o objetivo de extinguir a religião. Segundo registros, a chegada de Daciano a Barcelona ocorreu em julho de 304. A perseguição na Espanha e em Portugal aconteceu à medida em que o pretor empreendia suas viagens por estes territórios.
A fonte que narra a vida destes irmãos é o hino Huc vos gratifice, anterior ao século IX, atribuído à época dos visigodos, que contém relatos anteriores à invasão muçulmana na Península Ibérica. O hino era cantado em Ávila, elogiava o martírio, mas não contava os feitos dos irmãos. A hagiografia provém destes textos.
Segundo a tradição, os irmãos Vicente, Sabina e Cristeta nasceram em Ébora de Carpetânia (atual Talavera de la Reina, município da província de Toledo). É comum associar Ébora a Évora, Portugal. Por este motivo, são também conhecidos como os mártires de Évora.
Educado na fé cristã, o jovem Vicente vivia uma vida virtuosa. Praticava o culto cristão apesar das proibições. Por este motivo, foi delatado para Daciano. Este ordena que o coloquem diante de uma estátua de Júpiter para obrigá-lo a prestar o culto imperial. Os guardas levam-no de casa com este objetivo, porém, segundo a tradição, no caminho ocorre um prodígio: uma pedra amolece, prendendo os pés e o báculo de Vicente. Diante disto, os guardas o deixam.
Ao retornar para casa, Vicente foge com suas irmãs Sabina e Cristeta através da serra que hoje tem seu nome. Daciano ordena sua busca. Os três foram capturados perto de Ávila. Por recusarem o culto aos deuses imperiais, foram cruelmente chicoteados, espancados e esmagados com pedras. E então, em vez de deixar uma impressão na pedra, Vicente deixou uma grande impressão em toda a Espanha.
Ele é mostrado com suas duas irmãs, todos sendo torturados e desmembrados na roda. Seus corpos foram depositados num buraco de uma rocha. Posteriormente uma igreja em honra destes mártires foi construída sobre o local (a rocha é a que se pode contemplar na capela direita da cripta).
As relíquias foram transladadas para o Mosteiro de São Pedro de Arlanza por ordem do Rei Fernando I de Leão e Castela no ano de 1062, porque a Igreja de São Vicente estava bastante abandonada e havia o risco de perderem-se os santos despojos.
Mais tarde houve um novo translado, em 1835, para a Colegiata de São Cosme e São Damião de Covarrubias, de onde passaram a capela das relíquias da Catedral de Burgos, até seu último translado ao seu primeiro lugar de veneração, a Basílica de São Vicente de Ávila, dentro de umas urnas colocadas no altar mor.
Na Basílica de São Vicente de Ávila se encontra o monumento fúnebre erigido em memória dos Santos Mártires, em estilo românico, cujo autor é o mestre Fruchel (ou Eruchel). Nele consta cenas da perseguição de Daciano, a prisão de São Vicente, a visita das irmãs na prisão, a fuga dos irmãos e finalmente sua execução.
Fontes:
https://heroinasdacristandade.blogspot.com/2018/10/santos-vicente-sabina-e-cristeta-irmaos.html
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