Evangelho segundo São Lucas 12,13-21.
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Jesus respondeu-lhe: «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?».
Depois disse aos presentes: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens».
E disse-lhes esta parábola: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita.
Ele pensou consigo: "Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita?
Vou fazer assim: deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens.
Então poderei dizer a mim mesmo: minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos; descansa, come, bebe, regala-te".
Mas Deus respondeu-lhe: "Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?"
Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
Tradução litúrgica da Bíblia
(540-604)
Papa, doutor da Igreja
«Morais sobre Jacob»;
Livro XII; SC 212
«Esta noite terás de entregar a tua alma»
«O ímpio é orgulhoso todos os dias da sua vida» (Job 15,20, Vulg). Nem os eleitos estão imunes ao orgulho em alguns dos seus pensamentos e até nas suas ações. Mas, como são eleitos, não são soberbos todos os dias, uma vez que, antes de chegarem ao fim da vida, deixam que o seu coração se transforme de desmesura em temor, em humildade.
Pelo contrário, o ímpio não passa um único dia sem soberba, pois termina a sua vida sem se afastar por um momento da desmesura. O seu olhar procura o que floresce no tempo, e ele desdenha considerar para onde será levado na eternidade. É na vida da carne que ele deposita a sua confiança, atribuindo longa duração àquilo que tem no momento. O seu coração fortalece-se na desmesura, e o seu próximo é desprezado. Ele não contempla a morte que se aproxima lentamente e pode ocorrer dum momento para o outro, nem pensa na incerteza da felicidade. Na verdade, um olhar sobre a incerteza e a efemeridade da vida impedi-lo-ia de confundir a certeza com a incerteza. Daí, a sábia frase: «E o número dos anos da sua tirania é incerto» (Job 15,20).
Como a vida atual é sempre incerta, a morte, que se vai aproximando de nós em silêncio, deve ser constantemente temida, pois não é possível prevê-la. Por outro lado, se o Criador quis que o dia do nosso fim permanecesse oculto para nós, foi para que, na incerteza do momento da morte, estivéssemos preparados para morrer a qualquer momento.
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